Recentemente, uma parceria entre a Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual ? Laramara ? e o Ministério da Educação resultou no lançamento de 5 mil vídeos sobre orientação e mobilidade para quem tem deficiência visual, 16 mil livros que ensinam como fazer brinquedos e 10 mil kits com informações sobre inclusão escolar de pessoas com deficiência visual. A iniciativa reforça a proposta da Laramara, que visa à educação e inclusão social através de um trabalho interdisciplinar de suporte ao desenvolvimento integral da criança cega desde o seu nascimento.
Na sede da Laramara, são atendidas 600 crianças e jovens, participando de atividades e cursos que ajudam na inserção escolar e no mercado de trabalho. Uma das atividades mais importantes é o curso de informática, área que segundo Mara Siaulys, criadora da entidade, oferece muitos recursos para quem tem algum tipo de deficiência visual. ?Cerca de 580 jovens já participaram, e 350 já estão no mercado de trabalho?, conta.
A faixa etária das pessoas atendidas vai desde bebês até jovens com cerca de 20 anos, que podem ser cegos, ter baixa-visão ou apresentar múltipla deficiência. ?Também existem alguns adultos na Laramara. Eles participam de cursos de orientação e preparação para o trabalho, mas esse não é o alvo da entidade?, explica a sua idealizadora.
Além do atendimento a pessoas com deficiência visual e suas famílias ? cerca de 8 mil cadastradas em todo o Brasil ?, a instituição ainda está envolvida na busca por recursos pedagógicos e brinquedos adequados. O desenvolvimento de materiais, métodos e técnicas inovadoras também tem sido alvo de constante pesquisa na entidade. Por exemplo, a Laramara é pioneira na fabricação da máquina Braille, importante para a educação de pessoas com deficiência visual. Antes todo o equipamento tinha de ser importado dos Estados Unidos. Já foram desenvolvidos e fabricados também 109 brinquedos, assim como elaborados 25 livros para orientar e capacitar professores.
Conselho Mundial de Pais e Amigos do Deficiente Visual
Entre as inúmeras iniciativas da Laramara, está o Conselho Mundial de Pais e Amigos do Deficiente Visual, o Compadres. Criado em 1997, o Conselho visa a garantir o acesso a toda e qualquer informação sobre deficiência visual, formando uma rede. Ele tem como objetivo assegurar autonomia, independência e plena inclusão das pessoas com deficiência visual na sociedade, promovendo e facilitando a igualdade de oportunidades de acesso a serviços, educação, trabalho e lazer. Ainda possui um espaço reservado para que os pais se reúnam para trocar experiências e informações, discutir e buscar soluções coletivas.
História da Laramara
Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, criada em 1991, mistura-se com a história da luta pessoal da professora de geografia, mãe e pedagoga, Mara Siaulys. Em 1978, ela deu a luz a sua terceira filha, Lara. O bebê nasceu prematuro, permanecendo dois meses na incubadora e, devido a um descolamento de retina, perdeu a visão. Mara optou por abandonar a carreira de professora e iniciou sua luta para propiciar à filha caçula um desenvolvimento igual a de uma criança com visão normal. Formou-se em pedagogia e especializou-se em educação para pessoas que têm deficiência visual.
Baseada em sua própria experiência e, ciente das dificuldades e da falta de informação, ela decidiu auxiliar outras famílias e crianças na busca de uma qualidade de vida melhor. Esse foi o primeiro passo para criação da instituição que hoje é um centro de referência no Brasil de apoio às pessoas com deficiência visual.
“É preciso que os professores sejam capacitados para lidar com crianças com deficiência; que as empresas contratem pessoas com deficiência e que haja acessibilidade nas ruas e locais públicos?, aponta Mara Siaulys. Apesar de esses desafios não serem triviais, para o futuro a coordenadora ainda espera que a Laramara continue a ser um centro de desenvolvimento humano e que expanda cada vez mais seu conhecimento para o Brasil e para a América Latina.
Com base em matéria de Mariana Hansen, da Rets.