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Ativismo digital e a nova onda do feminismo


10 de novembro de 2015

Críticas à citação de Simone de Beauvoir no Enem, assédio virtual contra participante da edição infantil do MasterChef Brasil e debate sobre o projeto de lei que dificulta o atendimento médico a vítimas de estupro mobilizaram milhares de mulheres em várias capitais do país nas últimas semanas e cria um movimento político que tem sido visto como o mais importante do Brasil.

Nas redes sociais e na imprensa, a hashtag é um termômetro da intensa onda de mobilizações feministas, incluindo a campanha do #PrimeiroAssédio, os protestos #ForaCunha e a campanha #AgoraÉqueSãoElas.

 

va primeiro assedio

No dia 20 de outubro, na primeira edição infantil no país do programa MasterChef houve uma enxurrada de comentários com conotação sexual e ofensivos a respeito de Valentina, uma menina de 12 anos, participante do programa. No dia seguinte, o @ThinkOlga, um think thank que discute questões feministas, lançou a hashtag #PrimeiroAssédio. E milhares de mulheres e homens atenderam ao chamado, relatando publicamente a primeira vez em que sofreram assédio sexual. Para a jornalista Juliana de Faria, uma das mulheres à frente do Olga, o espaço foi importante para colocar em evidência um problema. “É importante dizer que muitas mulheres estão falando pela primeira vez sobre as suas violências”, disse.

A ação faz parte da campanha Chega de Fiu Fiu, que luta contra assédio sexual em locais públicos. De acordo com Juliana, “a sexualização começa precocemente. E tão cedo quanto 7 anos, já nos tornamos reféns da cultura do estupro. Nos trancamos em casa, questionamos nossas roupas, detestamos o desenvolvimento dos nossos corpos, somos traídas por pessoas em quem deveríamos confiar, nos culpabilizamos pelas violências que sofremos, não temos nossas palavras levadas a sério… Em resumo, não temos qualquer poder de decisão sobre quando começar essa etapa tão importante da vida dos seres humanos, o desenvolvimento da sexualidade. E, no Brasil, a cada doze minutos, uma história de violência sexual contra meninas e mulheres se repete”.

No final do mês, as mulheres fora as ruas protestar contra a aprovação pela Cfora cunha2.jpg_256âmara do PL 5.069/13, de autoria do presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha, que modifica a lei de atendimento às vítimas de violência sexual (lei 12.845/13). O texto proíbe venda de abortivos e pune quem facilitar a prática de aborto, além de acrescentar a necessidade de exame de corpo de delito para atendimento pelo SUS em casos de estupro. No Rio de Janeiro, o ato ocorreu, dia 28 de outubro, na Cinelândia, tradicional local de manifestações políticas no centro do Rio. Em São Paulo, as manifestações ocorreram no dia 30 de outubro. Em ambas as ocasiões os manifestantes empunhavam cartazes com #ForaCunha.

Na primeira semana de novembro, centenas de mulheres ocuparam o lugar de colunistas e escritores homens que aderiram à campanha #AgoraÉqueSãoElas. Criada por Manoela Miklos, a mobilização pediu a homens que tivessem acesso a meios de comunicação e espaços de fala garantidos convidassem mulheres para escrever no seu lugar. Muitos toagora e queparam e cederam seu espaço, como Gregório Duvivier, Marcelo Freixo, Jean Wyllys, Leonardo Sakamoto, Bruno Torturra, Ronaldo Lemos, Marcelo Rubens Paiva, João Paulo Cuenca, José Eduardo Agualusa, Marcus Faustini, Fred Coelho, Antonio Prata, Blog do Juca Kfouri, entre outros. “Uma semana de mulheres falando. E homens ouvindo. Que seja uma semana transformadora”, escreveu a criadora da iniciativa, Manoela Miklos, doutora em Relações Internacionais.

 

Quarta onda do movimento feminista

Alguns estudiosos consideram o ativismo em blogs e redes sociais como a quarta onda do movimento feminista, que teve início no século 19. Eles apontam para uma mobilização fragmentada.

“A consciência feminista vai além da história do movimento em si ou de determinados grupos envolvidos na luta pela emancipação feminina”, pontua Jussara Reis Prá, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Mulher e Gênero da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

luta histórica pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e para que elas sejam respeitadas numa sociedade tradicionalmente paternalista tem mais importância do que correntes individuais do movimento feminista. 

Segundo a especialista, a luta histórica pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e para que elas sejam respeitadas numa sociedade tradicionalmente paternalista tem mais importância do que correntes individuais do movimento feminista.

“A questão segue no século 21, com pessoas atuando numa lógica feminista, apesar de nunca terem parado para pensar que têm o espírito feminista. São, por exemplo, os que não admitem a violência contra a mulher, a baixa participação feminina na política ou salários menores do que os dos homens”, diz Prá.

Historicamente, o feminismo busca garantir que a participação das mulheres na sociedade seja equivalente à dos homens. De forma equivocada, o termo é interpretado como o “oposto do machismo” ou uma forma de “supremacia das mulheres”.

Historicamente, o feminismo busca garantir que a participação das mulheres na sociedade seja equivalente à dos homens

“O feminismo é uma posição política que busca entender a subordinação das mulheres e encontrar estratégias para enfrentar a discriminação”, define a socióloga.

 

Como começou

Os estudiosos do feminismo dividem a história do movimento em três ondas principais. A primeira onda feminista teve origem em 1848 com a convenção dos direitos da mulher em Nova York, que reivindicou a ampliação às mulheres das conquistas sociais e políticas das grandes revoluções da época.

Mas esse movimento não se deu de forma coesa. Enquanto mulheres se organizavam em associações nos Estados Unidos e Europa no século 19, a maior parte das brasileiras permanecia sujeita à sociedade patriarcal em posição de inferioridade.

Enquanto mulheres se organizavam em associações nos Estados Unidos e Europa no século 19, a maior parte das brasileiras permanecia sujeita à sociedade patriarcal em posição de inferioridade. 

O movimento ganhou força no Brasil na década de 1920, com a mobilização das chamadas “sufragettes”, mulheres intelectuais de classes abastadas que exigiram o direito ao voto feminino. Elas não escaparam de serem chamadas de “histéricas” e “carentes de charme”. O direito de voto às mulheres foi conquistado em 1932, com um decreto do presidente Getúlio Vargas.

Já a segunda onda feminista marca as mobilizações inspiradas no movimento estudantil de maio de 1968 na França para exigir valorização do trabalho, liberdade sexual e fim de desigualdades jurídicas e da violência.

A terceira onda, a partir da década de 1990, questiona o movimento anterior. “Contestações de diferentes grupos sociais promovem correntes teóricas, como o feminismo radical e o marxista. São grupos que não se sentiam representados por aquelas mulheres da burguesia e intelectuais. Também tem a contestação do movimento negro, do movimento lésbico, que foram dando o tom dos outros feminismos, como o ecológico, multicultural, pós-moderno e crítico”, explica Prá.

o ativismo feminista nas redes sociais já pode ser considerado a “quarta onda”.

 

Como é hoje 

Hoje os teóricos falam em feminismos ou movimentos feministas que representam uma gama plural de reivindicações. Para alguns especialistas, o ativismo feminista nas redes sociais já pode ser considerado a “quarta onda”.

“Esse ativismo faz parte da resistência e reivindicação das mulheres e das jovens que se rebelam contra as violências cotidianas. É uma manifestação de repúdio contra a tendência dos homens de considerar que todas as mulheres são pasto para seus desejos. Isto é algo de grande importância, pois a maioria das meninas são ensinadas a não revidar, a não fazer escândalo, a não dizer não”, diz Tânia Swain, fundadora na UnB do primeiro programa de pós-graduação em estudos feministas do Brasil.

o feminismo de hoje se define da mesma maneira que antes. “É não apenas reivindicar um lugar de sujeito político em relação ao corpo e ao sexo, mas lutar por uma transformação em que o ser humano não seja classificado por seu sexo social”

Para a especialista, o feminismo de hoje se define da mesma maneira que antes. “É não apenas reivindicar um lugar de sujeito político em relação ao corpo e ao sexo, mas lutar por uma transformação em que o ser humano não seja classificado por seu sexo social”, afirma.

Jussara Prá, da UFRGS, pondera que, apesar de o movimento “estar chegando” a uma quarta onda, ainda há questões urgentes a serem resolvidas. “As ondas ficam na dependência de se concretizarem determinadas demandas”, observa. Questões que se consideravam superadas reaparecem. A atuação de parlamentares conservadores acena para a possibilidade de que várias conquistas sejam perdidas.

“Depois da segunda onda, se olharmos do ponto de vista formal e legal, não precisaríamos mais lutar pelo feminismo, porque as mulheres são reconhecidas, têm cidadania política e civil e direitos trabalhistas. Mas chegamos na terceira onda com mulheres ganhando menos, com baixíssima representação política e como vítimas crescentes de violência.”

chegamos na terceira onda com mulheres ganhando menos, com baixíssima representação política e como vítimas crescentes de violência.” 

A especialista define o feminismo como uma luta necessária, independentemente de opiniões divergentes. Para ela, até o posicionamento dos que não se consideram feministas fortalece o movimento.

“A mudança é política. As correntes acabam todas andando na mesma direção diante dos problemas que precisam ser enfrentados. Aquelas mulheres que não se dizem feministas se deparam com situações em que têm que se posicionar. Por isso uma palavra tão cara ao feminismo é o empoderamento”, comenta.

 

Fontes: Agência Brasil; DW; Think Olga

 

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