Cerca de 76% dos pais brasileiros concordam que brincadeiras entre crianças e adultos são atividades sadias. Dentro desse universo, 53% brincam com filhos diariamente. Os dados são da pesquisa “A descoberta do brincar”, financiada por uma empresa privada, que entrevistou cerca de 1.400 famílias de todas as regiões do país.
Apesar de uma grande parcela perceber a importância do lúdico para o desenvolvimento das crianças, quase a totalidade (98%) dos entrevistados acha que a principal prioridade na educação das crianças é prepará-las para serem adultos bem sucedidos profissionalmente. Além disso, apenas 14% dos pais brasileiros identificam o brincar com os filhos como a atividade mais prazerosa no cotidiano, enquanto que assistir televisão foi a ação citada por 48%.
“O lúdico é a única maneira com a qual uma criança se relaciona com o mundo. Não podemos tirar isso delas. Precisamos desconstruir paradigmas como: apenas o trabalho dignifica o homem ou brincar é perda de tempo”, analisa a coordenadora da pesquisa, Marilena Flores.
Diante deste contexto, o conceito do brincar acaba sendo desvirtuado. Quando perguntadas sobre o que faziam quando brincavam, 97% das crianças disseram que assistiam televisão ou DVD, atividade que nem é uma brincadeira”, diz Flores.
Para a musicista Lydia Hortélio, “40 anos de tv desmontaram as brincadeiras dos nossos meninos. É preciso levar as crianças de volta para a natureza, que é a verdadeira casa do lúdico”. Desde a década de 1980, ela percorre o Brasil coletando e pesquisando brincadeiras. “Brincando de peão, amarelinha, pipa ou qualquer outra atividade lúdica, as crianças alcançam todas as dimensões da música. Além disso, as músicas tradicionais da infância são um desenho da cultura do país. Coisa que estamos perdendo”, completa Hortélio.
Além da televisão, os brinquedos tradicionais foram substituídos por um excesso de jogos eletrônicos ou brinquedos modernos. “Perdemos a possibilidade de manter o contato com os objetos. Cada vez mais, os pais enchem as crianças de brinquedos modernos que se acumulam e são depositados em um baú. Quanto mais simples, maior a possibilidade de vínculo da criança com o objeto e com o próprio corpo”, explica a pedagoga e Coordenadora do Centro de Formação de Professores Waldorf, Luiza Lameirão.
Para modificar a situação, Flores diz que é necessário que todos os adultos transformem-se em agentes do brincar. Hortélio concorda e completa: “As crianças grandes precisam se mobilizar”.
Fonte: Aprendiz (http://aprendiz.uol.com.br), com base em matéria de Alan Meguerditchian.