Cerca de 900 lideranças empresariais e políticas, pesquisadores e organizações socioambientais estiveram reunidos em Manaus (Amazonas), no final de março, onde participaram do terceiro Fórum Mundial de Sustentabilidade. O evento, que teve como tema principal “Economia Verde e Desenvolvimento Sustentável”, destacou o papel das florestas e o valor socioambiental agregado, além de outros assuntos que serão abordados na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), marcada para junho, no Rio de Janeiro.O principal resultado do fórum, que reuniu nomes como Gro Bruntland (uma das precursoras do conceito de desenvolvimento sustentável), Brice Lalonde (coordenador executivo da Rio+20) e Kumi Naidoo (diretor executivo do Greenpeace), foi a elaboração da Carta do Amazonas, documento formado por dez metas referentes à sustentabilidade, que incluem a aprovação de um acordo internacional para implementar o Redd+ como mecanismo de conservação das florestas nativas, o estabelecimento de metas para a universalização do acesso à energia limpa até o ano de 2030 e a o desenvolvimento de uma plataforma ambiental em nível municipal como prioridade, que explicite compromissos a serem assumidos por governantes locais, com especial atenção à universalização do saneamento básico, ao incentivo à construção sustentável e à promoção da educação ambiental e do consumo consciente.A ativista social e ambiental Bianca Jagger abordou o tema ?Desenvolvimento sustentável e direitos humanos? no evento. Embaixadora da Boa Vontade do Conselho Europeu, ela lembrou que a Amazônia é um tesouro extraordinário, o lar de várias espécies e que já perdemos 754 km2 da floresta amazônica. A também idealizadora da fundação Bianca Jagger defendeu o investimento em energias sustentáveis. ?Dizem que as energias renováveis são caras, mas veja quanto está custando a construção de Belo Monte?, questionou, em uma referência a usina no Rio Madeira que, segundo ela, irá afetar negativamente a população local. ?Não podemos sacrificar as gerações atuais e futuras em prol do desenvolvimento. Temos que ter governança?, defendeu.Pagamento por Serviços AmbientaisPara Virgilio Viana, superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), o desafio é parar o desmatamento da Amazônia. ?Ninguém desmata porque é burro, mas porque são inteligentes, racionais e porque querem melhorar de vida. A lógica é fazer com que o desenvolvimento econômico seja a favor da floresta e não contra?, sugeriu. Viana apresentou informações sobre o Programa Bolsa Floresta, que investe em programas de geração de renda que evitam o desmatamento.Steve Bass, chefe do Grupo de Mercados Sustentáveis do IIED (Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento), falou sobre PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), durante o painel que teve também a participação do senador Eduardo Braga e do deputado Arnaldo Jardim. O PSA é um mecanismo que estabelece pagamento àqueles que protegem as florestas nativas ou pratica iniciativas amigáveis ao meio ambiente, em benefício da sociedade.Segundo Bass, a Costa Rica é pioneira no PSA, tendo conseguido consolidar a modalidade como política pública, por meio de legislação específica e um fundo público-privado. “O Brasil tem todas as cartas na manga para desenvolver um modelo de negócios nesse sentido, pois tem a Floresta Amazônica, com toda a sua biodiversidade. Por isso, precisamos muito da liderança mundial de vocês nesse sentido”, enfatizou.Já Almir Suruí, chefe do povo indígena Paiter Suruí (Rondônia), falou sobre ?A economia verde e os povos da floresta?. Ele lembrou que a Amazônia possui 200 povos indígenas e outros 60 sem contato. ?Até agora as políticas públicas e privadas não chegam às comunidades em que deveriam?. Suruí conclamou os empresários para participar da criação de um modelo de desenvolvimento da Amazônia. ?Para nós, economia verde é desenvolvimento sustentável com valorização da floresta e do seu povo?, finalizou.Oskar Metsavaht, estilista e empresário, fundador e presidente da grife Osklen, abordou a ?Sustentabilidade e a indústria do desejo?. Na visão dele, além de beleza e estética, a sociedade também tem valores socioambientais. ?Somos um país com população que precisa melhorar de vida. O Brasil precisa se desenvolver economicamente e tem espaço enorme, aproveitando nossa biodiversidade, para se tornar um país desenvolvido, igualitário na renda e de maneira sustentável”, destacou. ?Enquanto não tivermos valor agregado, vamos continuar apenas vendedores de commodities e falando apenas de caridade”. ?Temos que mostrar que é mais interessante comprar produtos sustentáveis do Brasil do que de marcas famosas dos Estados Unidos, de mão de obra barata da China?, completou.Para Brice Lalonde, diretor executivo da Rio+20, há uma falta de liderança hoje em várias partes do mundo. “Eu acho que este é o momento de o Brasil, um país tão entusiasta, liderar essas discussões mundialmente”, sustentou. Ele vê como necessária a criação de uma Agência Mundial de Meio Ambiente:”não podemos confrontar desenvolvimento e meio ambiente, por isso, temos que ter uma agência ambiental e um conselho para o desenvolvimento sustentável”.Mudanças climáticasO diretor executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, proferiu a palestra ?A responsabilidade das empresas por sua pegada ambiental?. Ele fez um apelo aos empresários e governantes brasileiros para que atuem junto com os ambientalistas para encontrar soluções que permitam o desenvolvimento sustentável aliado a um crescimento econômico que permita oportunidades de empregos para todos. ?Podemos quebrar as dicotomias que dividiram o mundo até hoje, pois as mudanças climáticas vão trazer consequências para todos. Precisamos agir como uma família global, pois, se errarmos, todos vamos sucumbir e os impactos serão devastadores, afirmou. Na opinião dele, o modelo de crescimento econômico atual é insustentável porque não promove a igualdade nem oportunidades de emprego.O diretor do Greenpeace criticou o Protocolo de Kyoto. ?Ficamos esperando soluções e o que recebemos foi um acordo fraco e cheio de lacunas e metas que não serão alcançadas?, apontou. Naidoo convidou a todos os empresários presentes a visitarem o Rainbow Warrior, navio do Greenpeace que está atracado em Manaus. A embarcação tem como objetivo promover uma campanha por uma lei de desmatamento zero.Ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues apresentou a palestra ?Perspectivas para a agricultura de baixo carbono no Brasil?. Ele destacou as iniciativas da academia, particularmente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no sentido de melhorar a produtividade da agricultura brasileira com boas práticas ambientais. ?Há empresas que só se preocupam com negócios, mas eu tenho confiança de que isso está mudando e de que os avanços que a academia brasileira está promovendo são muito positivos”, ressaltou.Já o ex-primeiro ministro da França, Dominique Villepin, enumerou o papel de liderança mundial do Brasil nas questões ambientais e de sustentabilidade. ?Vocês são o país do possível e a Amazônia pode se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável para criar oportunidades econômicas?. Villepin elogiou iniciativas adotadas pelo país, como o programa Bolsa Família e a criação de parques nacionais, e defendeu as parcerias regionais entre Brasil e Europa.No encerramento do evento, João Doria Jr., presidente do Grupo de Líderes Empresarias (Lide), leu a Carta do Amazonas. No documento, a organização que promoveu o fórum, (realizado pela XYZ LIVE) firma o compromisso de mobilizar a sociedade brasileira pela aprovação de uma legislação nacional de pagamentos por serviços ambientais, ao reconhecer este mecanismo como fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável, além de destacar outros nove itensPara conhecer a Carta do Amazonas, na íntegra, clique aqui (doc em pdf).Com informações do Portal EcoD.