O município de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, produz cerca de 12.240 toneladas de lixo por mês, dos quais, cerca de 24,8% podem ser reciclados. No entanto, a prefeitura tem capacidade de recolher apenas 9.816 toneladas. O complemento da coleta é feito por associações de catadores de lixo.
Um exemplo é a Associação de Catadores União e Força (Ascuf), que reúne 20 pessoas que sustentam suas famílias através da coleta e venda de materiais recicláveis. Por meio de uma parceria com a prefeitura, a Ascuf conta com 20 carroças, além de equipamentos de proteção individual (EPIs), e os catadores se alternam, de forma que há sempre alguém trabalhando.
Juntos, conseguem tirar das ruas 500 quilos de lixo por dia, mas essa quantidade ainda é pequena para ser vendida. ?Quanto mais material você tem, maior é o preço que consegue na venda para as indústrias que trabalham com reciclagem?, explica Regiliane Maria da Silva, 46 anos, coordenadora da associação. Por isso, as negociações são feitas a cada 15 dias. Até esse momento, o lixo precisa ficar armazenado em um galpão alugado pela prefeitura.
Mesmo com tanto esforço, viver da venda de materiais recicláveis não é fácil. O preço da tonelada de papelão, que é um produto leve, é de R$ 0,20. Ainda que os catadores consigam reunir 15 toneladas de lixo reciclável por mês, recebem cerca de R$ 350, valor que é dividido igualmente para os 20 catadores. ?Por causa da crise, nosso lucro caiu muito. A tonelada de papelão está valendo R$ 0,03 agora. A gente tem feito a coleta seletiva de dia e procurado no lixo à noite, mas conseguimos apenas R$ 270 por mês?, conta Regiliane.
O que a associação ganha não é suficiente para manter o galpão onde organizam o lixo, localizado no bairro de Jaguarana; conservar as carroças; e renovar constantemente os uniformes e equipamentos de proteção. Antes de se organizarem, a situação deles era igual a de muitos outros catadores de Paulista. ?São pessoas que não têm nada. Eles precisam recolher o material à noite para vender durante o dia e ter o que comer. Não podem esperar uma quinzena como nós?, afirma Regiliane.
A situação dos catadores da Ascuf só não é pior porque eles já possuem suas próprias casas, doadas pelo governo do estado, no conjunto habitacional Antônio Maria. A estrutura que possuem hoje veio da parceria com a prefeitura, mas até essa ajuda está ameaçada.
Recentemente, a Secretaria de Desenvolvimento Social do município ameaçou suspender o aluguel do terreno onde eles armazenam o lixo. A prefeitura chegou a marcar um dia para retirar o material e fechar a associação, mas voltou atrás no último momento. Atualmente, a associação está negociando a manutenção do auxílio.
Se perderem o galpão, os catadores voltam a se reunir para separar o material coletado na casa de Regiliane, como faziam antes. ?Não quero trabalhar lá. O espaço é muito pequeno, não teremos espaço para armazenar, e tenho uma filha de 6 anos. Uma vez, ela bebeu o querosene que veio em um frasco junto com o lixo?, lembra.
A perda do galpão prejudica também outras atividades da Ascuf. A associação não tem onde colocar o freezer usado para conservar os sacos de leite do programa Leite Para Todos, que garante ajuda a famílias de baixa renda com filhos pequenos. Regiliane afirma que não tem como manter o freezer em casa, e 120 moradores da região perderiam o benefício.
Outras atividades, como capacitação e alfabetização para os catadores e produção de biscuit, sabão artesanal e outros tipos de artesanato, também serão suspensos. ?Tentamos sempre participar da feira de economia solidária com os produtos que fabricamos a partir do lixo. É a época que a gente tira o pé da lama, mas, se perdermos o galpão, não teremos espaço nem tempo para produzir?, afirma Regiliane. ?Que justiça é essa que deixa tanta mãe de família sem comida??, questiona.