O ciberativismo, ativismo online ou ativismo digital é uma forma de ativismo pela internet caracterizada pela defesa de causas, reivindicações e mobilizações. Muitos autores o consideram uma nova fronteira para a participação política, pois, a partir de um computador, os indivíduos rapidamente conseguem agregar pessoas à causa que defendem. Inicialmente, era uma estratégia muito utilizada por ONGs e entidades civis, hoje, com a expansão do acesso à internet, é cada vez mais utilizado pelo cidadão comum.
Pessoas e grupos politicamente motivados utilizam a internet para difundir informações e reivindicações visando obter apoio para uma causa, debater e trocar informação, organizar e mobilizar indivíduos para ações, dentro e fora da rede (MARTINS, 2014). Para tanto são utilizados fóruns e grupos de discussões, abaixo-assinados e petições online, blogs, plataformas sociais, aplicativos e as mídias sociais.
Sandor Vegh, autor no livro “Classifying forms of online activism: the case of cyberprotests against the World Bank”, de 2003, considerado uma referência sobre o tema, cita três categorias de atuação do ativismo online: 1) conscientização e promoção de uma causa (por exemplo, divulgar o outro lado de uma notícia que possa ter afetado a causa ou uma organização); 2) organização e mobilização (convocar manifestações, fortalecer ou construir um público); e 3) ação e reação (MARTINS, 2014).
Exemplos desse tipo de ativismo vão desde petições online, criação de sites denúncia sobre uma determinada causa, até a organização e mobilização de protestos e atos que aconteçam fora da rede, flashmobs, hackerativismo e o uso de games com uma função política e social (MARTINS, 2014).
Ativismo online pode enfraquecer formas tradicionais de protesto?
Mas, esse ativismo que utiliza a internet para mobilizar por causas que tenham apelo social costuma ser chamado também de “ativismo de sofá”, num certo tom pejorativo. Alguns setores da sociedade temem que o ativismo online enfraqueça as formas tradicionais de protesto, como intervenções urbanas ou marchas em vias públicas.
Contrapondo-se a esse entendimento, o criador do termo “inteligência coletiva” e autor de livros sobre cibercultura, o filósofo francês e professor da Universidade de Ottawa (Canadá), Pierre Lévy, nega que a mobilização online seja menos legítima do que as manifestações tradicionais, como protestos na rua. De acordo com ele, “qualquer forma que o cidadão use para se expressar é positiva” (LUPION, 2014).
Apesar do crescente controle da rede, tanto por governos autoritários como pelos democráticos, Lévy acredita haver mais liberdade de expressão com a rede do que sem ela. Ele afirma que os abaixo-assinados pela internet são expressões legítimas da vontade dos cidadãos.” Uma petição é uma petição. Uma petição online só é mais fácil de organizar!”, ressalta. Ele prevê que a ciberdemocracia vai promover uma inteligência coletiva online mais reflexiva, mais hábil para conhecer a si mesma e também vai favorecer uma maior transparência dos governos (LUPION, 2014).
Da mesma forma, Paul Hilder, vice-presidente de campanhas globais da Change, maior plataforma mundial de abaixo-assinados que está presente em 196 países, diz que o ciberativismo não enfraquece o ativismo “real”. Segundo ele, o uso da internet pelos cidadãos pode mudar atitudes de governos e empresas e ajudar na fiscalização de atos até do Judiciário. Ele afirma que a internet é um instrumento poderoso de pressão e pode mobilizar muito mais rapidamente e de uma forma mais eficiente milhares de pessoas ao redor do mundo para apoiar uma causa, o que, em sua opinião, contribui para o sucesso da causa (GOIS, 2012).
Democracia representativa é insuficiente
Para Pedro Abramovay, diretor de campanhas da ONG internacional de ativismo online Avaaz, o modelo tradicional de democracia representativa, com um voto a cada quatro anos, é insuficiente para dar conta de uma realidade na qual os cidadãos podem se conectar rapidamente em torno de um objetivo comum. Ele acha que o ato de compartilhar uma petição no Facebook, por exemplo, é um comportamento “profundamente político”, na medida em que as pessoas assumem uma posição diante de seus amigos e abre espaço para contra-argumentos. “As pessoas passam tanto tempo na internet, ela é tão importante para nossas vidas, que considero despolitizador dizer que a política feita ali é menos importante”, diz. Um exemplo do êxito dos abaixo-assinados online é a Lei da Ficha Limpa: dois milhões de pessoas assinaram uma petição para que a Câmara dos Deputados aprovasse o projeto de lei (LUPION, 2014).
Por: Eliane Araujo
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Fontes:
GOIS, Chico de. Internet é instrumento de pressão e ajuda na fiscalização. O Globo, 12 nov. 2012.
LUPION, Bruno. Frenesi do abaixo-assinado pela internet desafia a classe política. Estado de S. Paulo, 11 mar. 2014.
MARTINS, Andrea. Ciberativismo: ativismo nasce nas redes e mobiliza as ruas do mundo. In: UOL Vestibular, 04 fev. 2014.