No final de julho, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho e o presidente do COEP Nacional e coordenador do Laboratório Herbert de Souza – Tecnologia e Cidadania da Coppe/UFRJ, André Spitz, visitaram a comunidade Margarida Maria Alves, no município de Juarez Távora, Paraíba. A comunidade foi a primeira a receber as ações do Programa Comunidades Semiárido, executado pelo COEP desde 1999.
Além de uma miniusina de beneficiamento de algodão orgânico, da criação de ovinos em sistema rotativo e do telecentro comunitário, o ministro visitou uma das barragens subterrâneas da comunidade, constituída por uma estrutura que permite a reserva de água das chuvas no próprio solo e viabiliza, mesmo no período de seca, o cultivo de vegetais e a retirada de água para consumo.
Realizado pelo COEP Nacional com apoio da Fundação Banco do Brasil e da Embrapa Algodão, o encontro teve como objetivo realizar um balanço das atividades do Programa Comunidades Semiárido, pela visão de jovens líderes, envolvendo-os na reflexão sobre caminhos para o futuro, além de criar laços de cooperação entre as comunidades integrantes da rede e buscar seu fortalecimento.
“Um dia como hoje significa uma lavada da nossa alma. Significa uma espécie de conforto, de oásis. Como naquela área da barragem subterrânea no tempo da seca, que fica tudo verdinho quando o resto é seco, hoje o nosso coração está assim. Está verde de emoção de ver o que está acontecendo aqui, e em todas as comunidades aqui representadas. Foi esse sonho de ver o que estamos vendo hoje que tanto animou o presidente Lula e que anima a presidenta Dilma a mudar a história do nosso país”, declarou Carvalho.
“Uma coisa que o Geovani [Geovani da Costa, da comunidade Pão de Açúcar, em Várzea Branca, Piauí] falou me impressionou profundamente. Ele disse: ‘a gente entrou no mapa’. Isso é uma grande verdade, porque durante muito tempo nesse país, o povo pobre, o povo que vive por esse país afora, nesse interior afora, não estava no mapa, não era considerado. (…) Vocês são pessoas em quem basta que a gente invista um mínimo de recurso, como aquela máquina que nós vimos [a miniusina de algodão], como os recursos básicos pra poder reorganizar uma comunidade e olha o que acontece: esse milagre extraordinário. Que não é o milagre apenas de poder comer, beber, se alimentar e estudar. É o milagre do ser humano se colocando de pé, se colocando na sua dignidade, se afirmando, construindo uma nova cultura. É isso que faz uma nação, é isso que faz um país. É isso que tem sentido a gente fazer quando está em um governo, o resto é o resto”, disse o ministro.
Geovani da Costa é um dos 30 jovens do semiárido que, junto com outros comunitários, participou da caravana que acompanhou o ministro na visita à comunidade Margarida Maria Alves. A programação fez parte do Encontro de Líderes Jovens do Programa Comunidades Semiárido, realizado pelo COEP Nacional em Campina Grande (PB), entre os dias 23 e 27 de julho.
Estes jovens, representantes de comunidades de baixarenda situadas em sete estados da porção semiárida do Nordeste brasileiro (Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), entregaram a Gilberto Carvalho a “Carta de Campina Grande”, documento que declara os anseios de suas comunidades para o desenvolvimento regional, como a necessidade de aprimoramento técnico e humano.
“Essa carta [Carta de Campina Grande] vai estar em breve na mesa da presidenta Dilma. Vou entregar para ela logo cedo e dizer: ‘Presidenta, aqui tem assinaturas sagradas de gente que luta e que precisa de fato do nosso apoio.’ (…) O que nós estamos fazendo aqui é, simplesmente, cumprindo um dever de reconhecer que vocês tem espaço no mapa do Brasil. Vocês são cidadãos, vocês são dignos do acesso a todos os recursos e a todos os direitos”, finalizou Carvalho.
Além do ministro Gilberto Carvalho e do presidente do COEP Nacional, André Spitz, participaram da visita o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge Streit e o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, que cumprimentaram as comunidades pelo trabalho que vem sendo desenvolvido e manifestaram apoio às atividades futuras do Programa – apoio também demonstrado pelo presidente da Chesf, João Bosco de Almeida, que não pode estar presente no evento. Outras presenças registradas foram a do secretário de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca da Paraíba, Marenilson Batista; e do secretário-executivo do COEP Paraíba, Marçal Silva.
Programa Comunidades Semiárido
O Programa, criado pelo COEP em 1999, atua hoje em 47 comunidades do semiárido nordestino, nos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. As comunidades são beneficiadas em projetos de inclusão digital, educação ambiental e cidadania, geração de trabalho e renda e organização comunitária.
“Quando o COEP chegou, a nossa comunidade vivia isolada do mundo. A nossa associação só tinha o objetivo de conseguir empréstimo para a produção de alimentos e criação de animais. Com a chegada do COEP, a nossa comunidade passou a buscar os nossos direitos. Pouco tempo depois, veio o telecentro e ninguém acreditava que naquela caatinga tinha internet”, contou Oclácio Ferreira, da comunidade Cacimba Cercada, no município alagoano de Mato Grande.