A Rede Nacional de Mobilização Social – COEP participou de uma série de eventos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. O foco dos debates foi os múltiplos desafios associados ao enfrentamento da pobreza, especialmente aqueles relacionados às mudanças climáticas. Discutiu-se a melhoria dos indicadores sociais no Brasil nos últimos anos e os grandes desafios que ainda se apresentam para que o país possa assegurar a todos os brasileiros os direitos fundamentais de cidadania, como saúde, educação, moradia, alimentação, trabalho e lazer. Debateu-se, ainda, a necessidade de se pensar políticas públicas e ações sociais que ajudem a promover a adaptação das populações aos efeitos das mudanças climáticas, tendo em vista que, após um evento extremo, como enchentes ou secas, as condições socioeconômicas das pessoas mais vulneráveis ficam ainda mais agravadas.
O primeiro evento, promovido pela Coppe/ UFRJ, no dia 14 de junho, teve como tema “O futuro sustentável – tecnologia e inovação para uma economia verde e a erradicação da pobreza”. O presidente do COEP Nacional e coordenador do Laboratório Herbert de Souza de Tecnologias Sociais, André Spitz, foi um dos palestrantes. Ele fez um breve balanço sobre a evolução do combate à pobreza no Brasil e ressaltou que apesar dos expressivos resultados obtidos na última década, ainda são grandes os desafios socioeconômicos a serem enfrentados. Spitz defendeu a participação social na definição das prioridades e na construção e acompanhamento das políticas públicas voltadas à inclusão social.
A mesa contou também com a participação de Gonçalo Guimarães, coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Coppe, que falou sobre os desafios enfrentados pelas cooperativas no país. Ele enfatizou a necessidade de crédito, especialmente para o acesso dos cooperativados a novas tecnologias e disse ser preciso valorizar as cooperativas de reciclagem e modificar a visão de que a doação de recicláveis é um favor aos recicladores.
Já o professor Sidney Lianza, coordenador de Extensão do Centro de Tecnologia da UFRJ, disse ser preciso repensar o modelo de desenvolvimento capitalista e lembrou que temos tecnologia para acabarmos com a fome no mundo, mas os avanços ficam limitados por questões políticas. Ele defendeu o investimento em tecnologia e inovação social para uma economia solidária com justiça socioambiental.
A mediadora da mesa, Ana Fani Carlo, professora titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o capitalismo, em busca do lucro rápido, destruiu a natureza e degradou as condições de trabalho, e mostrou que essa mesma natureza, hoje rarefeita, foi transformada em mercadoria pelo capital. Ela advertiu que, numa sociedade de consumo, a cidadania se constitui pela garantia do acesso ao consumo e não pelo acesso aos direitos, e enfatizou a importância de se colocar o homem como o centro do pensamento e das ações.
Adaptação às Mudanças Climáticas
No dia 18 de junho, o COEP Nacional realizou, em parceria com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Fase e Action Aid, um workshop com o tema “Promover a adaptação para a redução da vulnerabilidade e o aumento da resiliência”. A atividade, realizada no Riocentro, foi um dos side events da conferência oficial da Rio +20 e contou com a participação de Harjeet Singh, coordenador internacional da Action Aid; Yinlong Xu, representante da Chinese Academy of Agricultural Sciences (CAAS); e de Gleyse Peiter, coordenadora técnica do Laboratório Herbert de Souza de Tecnologia e Cidadania.
Harjeet Singh, que tem feito treinamentos em diversos países para ajudar comunidades a reagir a emergências causadas por desastres naturais e se adaptarem a mudanças climáticas, falou sobre as políticas de adaptação implantadas na Índia. Singh destacou ser preciso criar mecanismos de financiamento para projetos nessa área, e mencionou a importância de se desenvolver planos nacionais de adaptação. Defendeu também a necessidade de políticas públicas voltadas a pequenos agricultores para que possam se fortalecer e enfrentar as mudanças climáticas.
Yinlong Xu, por sua vez, apresentou o Programa Nacional de Mudanças Climáticas da China, que dividiu o país em nove áreas, definindo desafios relativos a cada uma delas e planos de ação. Ele observou que é preciso aliar estratégias de adaptação a ações visando à redução de desastres e defendeu a necessidade de apoio acadêmico, com desenvolvimento de pesquisas, para iniciativas de adaptação. Lembrou, ainda, que há em todo o mundo uma ênfase na mitigação em detrimento de políticas e práticas de adaptação, importantes para reduzir a vulnerabilidade das populações atingidas pelos eventos climáticos extremos.
Gleyse Peiter encerrou o evento lançando a nova versão do Banco de Práticas Clima: Vulnerabilidade e Adaptação, que tem hoje cerca de 160 experiências e práticas de adaptação aos impactos das mudanças climáticas sobre populações vulneráveis, no Brasil e ao redor do mundo.
Novo evento com o mesmo tema foi realizado, no dia 22 de junho, no Parque dos Atletas, no estande da Coppe/UFRJ. A atividade foi mediada pelo diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, e contou com a participação de Neilton Fidelis, pesquisador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais da Coppe (IVIG/Coppe), além de Yinlong Xu e Gleyse Peiter.
Neilton Fidelis falou sobre a atuação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) na estruturação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, e também sobre as consultas públicas aos Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima, que tiveram início em 15 de junho e serão concluídas em 15 de agosto. Ele explicou que as contribuições resultantes dessas consultas serão enviadas ao Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) para municiar a revisão do PNMC.
Já Gleyse Peiter abordou o problema das mudanças climáticas e seu impacto sobre as populações mais pobres, a necessidade de ajuste dos sistemas sociais a essas mudanças no clima por meio de iniciativas e políticas de adaptação, e a necessidade de se atuar para redução das vulnerabilidades. Ao final de sua explanação, ela apresentou o Banco de Práticas Clima: Vulnerabilidade e Adaptação.
Banco de Práticas
O Banco de Práticas Clima: Vulnerabilidade e Adaptação reúne iniciativas de enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas, que deram certo ao redor do mundo. É resultado de uma parceria entre COEP; Action-Aid Internacional; COPPE-UFRJ; FBMC; e o Laboratório Herbert de Souza de Tecnologia e Cidadania. Tem apoio do CNPq e da Fundação Banco do Brasil.
Durante sua apresentação, Gleyse Peiter mostrou que na base de dados é possível encontrar desde um projeto de agricultura familiar desenvolvido numa periferia de Belo Horizonte, em Minas Gerais, até uma experiência implantada por agricultores do Camboja. “O banco reúne experiências diversas, das mais simples as mais complexas. Apresentamos a descrição dos projetos, sua localização, classificação e os contatos dos promotores da iniciativa. Os projetos estão disponíveis em português, espanhol e inglês e todos os interessados podem cadastrar iniciativas”, explicou.
Ela lembrou que o objetivo do banco é compartilhar experiências que possam ser replicadas ou adaptadas. Para consultar ou incluir experiências, projetos ou iniciativas que possam ser considerados como de adaptação aos impactos humanos das mudanças climáticas, bastaclicar aqui.
