Desde abril de 2015, o Brasil convive com o vírus da dengue, zika e chikungunya. As três infecções são transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti. Como ainda não há vacina para nenhuma das três doenças, a prevenção é o combate ao mosquito Aedes aegypti e o uso de repelentes.
Pesquisadores da Fiocruz explicam que o Aedes aegypti é um mosquito antropofílico, isto é, ele vive perto do homem. Por isso, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade populacional e, principalmente, onde há desocupação desordenada, pois as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais locais para desovar.
Trata-se de um mosquito doméstico, que vive dentro ou ao redor de casa ou de outras construções frequentadas por humanos, como estabelecimentos comerciais e escolas, por exemplo. Ou seja, ele está sempre perto do homem e não se aventura às matas por exemplo.
Hábitos do mosquito
O Aedes aegypti tem hábitos preferencialmente diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. Mas, como é oportunista, pode picar à noite, quando uma pessoa se aproxima muito do local onde o mosquito se esconde, como embaixo de móveis.
O mosquito Aedes aegypti pica as pessoas preferencialmente nas pernas e nos pés. Ele tem rejeição à claridade e é atraído pelo calor, por isso teria preferência por tecidos escuros. No entanto, as picadas também podem ocorrer em outras partes do corpo, mesmo que a pessoa esteja protegida por roupas.
Verão aumenta infestação
A infestação por Aedes aegypti é sempre mais intensa no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas – fatores que propiciam a reprodução do mosquito. Para evitar esta situação, é preciso desenvolver medidas permanentes para o controle do mosquito, durante todo o ano, a partir de ações preventivas que objetivem a eliminação de focos do vetor. Essa ação depende, sobretudo, do empenho da população.
Empenho da população é fundamental
O combate ao mosquito não cabe apenas ao poder público e nem somente ao cidadão. Ambos têm de atuar em parceria, de forma integrada e preventiva, para que tenhamos sucesso.
Uma grande parte dos criadores de mosquitos está dentro da casa das pessoas e é preciso eliminá-los. É muito mais fácil eliminar as larvas dos mosquitos, que estão confinados num espaço, do que quando ele se torna adulto e está voando.
A recente crise hídrica que tem atingido vários estados brasileiros pode agravar o problema. Sem fornecimento regular de água, os moradores precisam armazenar o suprimento em grandes recipientes que na maioria das vezes não recebem os cuidados necessários e acabam tornando-se focos do mosquito porque não são vedados completamente.
Portanto, os esforços para o controle da proliferação do mosquito certamente estão relacionados a medidas do governo, mas sobretudo ao comprometimento da população.
Principais criadouros
Os grandes reservatórios, como caixas d’água, galões e tonéis, são os criadouros mais produtivos do Aedes aegypti. Isso não significa que a população possa descuidar da atenção a pequenos reservatórios, como vasos de plantas, que comprovadamente atuam como criadouros.
O alerta é para que os cuidados com os reservatórios de maior porte sejam redobrados, pois é neles que o mosquito seguramente encontra condições para se desenvolver de ovo a adulto. Em alguns bairros suburbanos, estes grandes criadouros produzem quase 70% do total de mosquitos adultos, ou seja, que podem nos picar e transmitir o vírus das três doenças.
Sintomas: zika, chikungunya e dengue
Embora zika, chikungunya e dengue apresentem sinais clinicamente parecidos, como febre, dores de cabeça, dores nas articulações, enjoo e exantema (rash cutâneo ou machas vermelhas pelo corpo), há alguns sintomas marcantes que as diferem.
A principal manifestação clínica de chikungunya, por exemplo, são as fortes dores nas articulações, a artralgia. Essa artralgia pode se manifestar em todas as articulações, mas, em especial, nas dos pés e das mãos, como dedos, tornozelos e pulsos. Na chikungunya, essas dores são decorrentes de um processo inflamatório nas articulações e podem ser acompanhadas de edemas e rigidez.
Também é possível haver esse tipo de dores na dengue e no zika, mas a diferença está, segundo especialistas, na intensidade da dor. Enquanto o paciente com dengue ou zika pode apresentar dores de leves a moderadas, o paciente infectado com chikungunya apresenta dores de nível elevado, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida. Na fase subaguda ou crônica da doença, as dores podem persistir por meses ou até mesmo anos, particularmente em pacientes mais velhos. Segundo dados do Instituto Pasteur, um estudo sobre os casos ocorridos na África do Sul relatou que pacientes ainda sofriam de dores intensas nas articulações de 3 a 5 anos após a infecção aguda de chikungunya.
Com relação à febre, dengue e chikungunya são marcadas pela febre alta, geralmente acima de 39°C e de início imediato. Já os pacientes de zika apresentam febre baixa ou, muitas vezes, nem apresentam febre.
Os sintomas relacionados ao vírus zika costumam se manifestar de maneira branda e o paciente pode, inclusive, estar infectado e não apresentar qualquer sintoma. Mas uma manifestação clínica que pode aparecer logo nas primeiras 24 horas e o rash cutâneo e o prurido, ou seja, manchas vermelhas na pele que provocam intensa coceira são consideradas uma marca da doença. Há, inclusive, relatos de pacientes que têm dificuldade para dormir por conta da intensidade dessas coceiras.
Outro sintoma que pode servir nos diagnósticos clínicos dessas doenças é a vermelhidão nos olhos. Enquanto a dengue provoca dores nos olhos, o paciente infectado com zika ou chikungunya pode apresentar olhos vermelhos, com uma conjuntivite sem secreção.
Dengue: a mais perigosa
Dentre as três doenças, a dengue tem sido considerada a mais perigosa pelo número de mortes. Segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em outubro deste ano, já são 693 mortes por dengue confirmadas apenas em 2015. Mortes relacionadas à chikungunya são muito raras e ocorrem por complicações em pacientes com doenças pré-existentes. E, embora ainda não se tenha relato de morte relacionada à infecção por zika, esse vírus é o único dentre os três que tem sido associado a complicações neurológicas, conforme relatado durante epidemias simultâneas de zika e dengue na Polinésia Francesa.
Diagnóstico
O diagnóstico clínico feito pelo médico ou profissional de saúde é essencial, uma vez que é o método mais rápido e o paciente já pode iniciar o tratamento mais adequado. No entanto, os profissionais de saúde ainda necessitam de capacitação no manejo clínico dessas doenças, uma vez que chikungunya entrou no Brasil apenas em 2014 e zika em 2015.
A confirmação do diagnóstico clínico pode ser feita por meio de exames laboratoriais. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná) têm laboratórios de referência para a detecção dos vírus da dengue, zika e chikungunya. A Fiocruz Paraná também está trabalhando no desenvolvimento de um kit para diagnóstico rápido de infecção por chikungunya. Mais recentemente, casos de microcefalia têm gerado a suspeita de que a malformação poderia estar relacionada à infecção pelo vírus zika em gestantes nos primeiros meses de gestação. Para investigar os casos de microcefalia que têm sido notificados no Brasil, o Ministério da Saúde está realizando exames clínicos, de imagens e laboratoriais, com mães e bebês, além de entrevistas e investigação do histórico do pré-natal e obstétrico.
Como a cocirculação dos três vírus nas Américas é recente, ainda são necessários muitos estudos, especialmente com relação à coinfecção e o efeito da infecção sequencial desses diferentes vírus.
Fontes: Pamela Lang, da Agência Fiocruz de Notícias e Fiocruz