Atécnica do Sebrae no Mato Grosso Lusia Cristina Freitas de Souza, que acompanha o artesanato desenvolvido nas bambuzerias do estado, fala sobre a experiência bem-sucedida da Cooperativa Bambuzeria São Sebastião. Mais do que uma opção de trabalho e renda, a Cooperativa proporciona a reintegração social de portadores de necessidades especiais, reeducandos eadolescentes aprendizes. Pela iniciativa, a Cooperativa recebeu, no final de 2005, o Prêmio Especial de Responsabilidade Social do Guia 4 Rodas.
Mobilizadores COEP – O que levou à criação da Cooperativa Bambuzeria São Sebastião? Quem apoiou a iniciativa?
R. – A Bambuzeria São Sebastião surgiu a partir da observação de experiências de sucesso na área de geração de trabalho e renda para pessoas excluídas do mercado de trabalho no Brasil. Em 2002, através da organização não-governamental Bambuzeria Cruzeiro do Sul ? BAMCRUS, uma OSCIP de Minas Gerais, o Sebrae tomou conhecimento do programa. Através da parceria com a BAMCRUS, elaborou uma proposta de instalação de duas oficinas nos municípios de Chapada dos Guimarães e Santo Antônio de Leverger, ambas adequadas à realidade local, considerando suas particularidades. Além dos órgãos governamentais, a proposta foi apresentada para o empresariado local e a comunidade de cada município, tendo sido aprovada por todos.
Mobilizadores COEP – Quais as vantagens de usar como matéria-prima o bambu?
R. – É uma gramínea que tem 100% de aproveitamento de sua matéria; além disso, o uso do bambu vai desde a produção de um pequeno objeto utilitário à construção civil. Na Ásia, por exemplo, ele é utilizado literalmente em toda a mesa, do alimento à mobília.
Mobilizadores COEP – Que benefícios a Cooperativa trouxe para a região? Que tipos de ações sociais a Bambuzeria desenvolve?
R. – O programa teve como premissas a consolidação, sustentação e o fortalecimento das ações de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável ? DLIS, e como objetivo a geração de trabalho e renda para 100 pessoas desempregadas. Hoje a Bambuzeria São Sebastião dá retorno à sociedade contribuindo para dar visibilidade ao município, reintegrando pessoas excluídas, como os portadores de necessidades especiais, reeducandos eadolescentesaprendizes no mercado de trabalho. A Cooperativa recebeu em outubro de 2005 o Prêmio Especial de Responsabilidade Social do Guia 4 Rodas e já entrou no roteiro de pontos a serem visitados em Chapada dos Guimarães.
Mobilizadores COEP – Como você avalia a iniciativa do Sebrae e parceiros na criação da Cooperativa? De que forma o empresariado local colaborou com o empreendimento?
R.- O projeto é uma alternativa eficaz de geração de trabalho e renda, que também desperta, em cada cooperado, o sentimento de utilidade e capacidade de contribuir com a sociedade, para formação de cidadãos ativos e conscientes do seu papel e importância. Para alguns, é ainda uma oportunidade de reconstruir sua vida e história pessoal. OSebrae contribuiu com capacitação, orientação na formação da cooperativa e apoio na criação e comercialização de produtos; a Prefeitura colaborou com a assistência social, psicológica e médica; e o empresariado local, com recursos para aquisição de equipamentos e ferramentas para a instalação da bambuzeria.
Mobilizadores COEP – Quais são as perspectivas comerciais do negócio? Há possibilidade de os cooperados terem renda suficiente para se manter?
R. – Os produtos derivados do bambu são de grande aceitação no mercado por ter diversidade, durabilidade e preço acessível. A expectativa é de que esse mercado continue crescente e de que os cooperados busquem, cada vez mais, o aperfeiçoamento contínuo na produção e na inovação da linha de produtos, para que possam garantir e manter sua renda e independência financeira.
Mobilizadores COEP – Além do aspecto financeiro, que outros benefícios um trabalho como esse oferece a pessoas excluídas?
R. – A oportunidade de aprender um novo ofício, o convívio com outras pessoas, o desenvolvimento do potencial criativo e a satisfação pessoal e profissional.
Mobilizadores COEP – A Bambuzeria conta com a colaboração de cinco portadores de necessidades especiais. Quais os principais desafios enfrentados ao se trabalhar com estas pessoas?
R. – É muito grande a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento e formação de pessoas especiais para que elas tenham as mesmas oportunidades de participar ativamente da comunidade em que estão inseridas. Para recebê-las, foram necessárias algumas pequenas adaptações no processo produtivo e no treinamento para a realização das atividades, pois a cada tarefa é necessário explicar e exemplificar até que elas estejam seguras o suficiente para a execução. Alguns cuidados extras também foram tomados no manuseio de ferramentas e no armazenamento de certos produtos para o tratamento do bambu.
Mobilizadores COEP – E em relação a jovens em conflito com a lei? Que tipo de resultados o projeto tem obtido? Há intenção de ampliar o número de reeducandos nessa iniciativa?
R. – No início da parceria com a segurança pública, os reeducando iam até a Bambuzeria, mas como a cidade é pequena, conseqüentemente o corpo efetivo da penitenciária também é reduzido, e não havia a disponibilidade de permanência dos agentes prisionais na cooperativa.Além disso havia o constrangimento por parte de alguns cooperados de trabalharem sempre com os agentes ao redor. Atualmente, as peças são montadas na cooperativa e levadas para a penitenciária onde os reeducandos fazem a amarração e finalização dos produtos. Mesmo tendo a atividade limitada, eles se sentem úteis e reconhecem a oportunidade de estarem aprendendo uma nova atividade e dizem que agora têm uma outra opção de trabalho ao saírem da prisão.
Mobilizadores COEP – No seu ponto de vista, o que falta para que outras iniciativas como esta aconteçam?
R. – O reconhecimento da capacidade dos portadores de necessidades especiais. Eles podem ter suas limitações para algumas atividades, mas certamente possuem muitos talentos em outras. No caso dos reeducandos, a oportunidade de trabalho proporciona uma segunda chance de refazer sua história com a apresentação de uma alternativa viável e saudável para sua independência financeira após o cumprimento da pena. Sobretudo, iniciativas como esta devem ser geridas por um comportamento empreendedor, com atitudes que contribuam para a inclusão social e a construção de uma comunidade criativa e produtiva. É importante ressaltar que uma boa visão mercadológica deve nortear as diretrizes da instituição, do contrário a produção pode ter dificuldades para encontrar seu público consumidor, que irá manter o projeto, seus atores e objetivos.
Espero que este processo venha a ser disseminado por todos os estados, formando uma rede de Economia Solidáriaom demuito sucesso.
Acedito que essa iniciativa possa contribuir, para o reingresso de pessoas portadoras de
necessidades especiais à sociedade,sendo dessa maneira uma forma de inclusão social, estimulando por certo as empresas a investirem em ações de responsabilidade social.