O Governo Federal liberou R$ 14,6 milhões da linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Os recursos serão repassados a 21 cooperativas em 10 estados do país, envolvendo a participação de 1,5 mil cooperados.As operações fazem parte dos 34 projetos já aprovados pelo BNDES, no valor total de R$ 22,9 milhões. O financiamento destina-se a reformas de infra-estrutura física, assistência técnica e capacitação de cooperados.Roberto Laureano, da coordenação nacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), reconhece os avanços da medida, mas adverte que é preciso coibir as medidas de “higienização” contra moradores de rua. Segundo ele, em grande parte das cidades, esse é um modo de impedir os catadores de fazerem suas coletas nas ruas. Ele explica que, mesmo com o apoio do BNDES para a organização das cooperativas, os catadores não querem deixar as ruas. ?Queremos nos manter trabalhando em nossos galpões, com estrutura, com mais apoio do BNDES, mas mantendo a nossa coleta seletiva, o nosso trabalho a partir da origem. E nossa origem são as ruas?, acrescenta Laureano, que também é presidente da cooperativa Unidos pelo Meio Ambiente.De acordo com ele, em dois anos os catadores pretendem voltar ao BNDES para fazer uma “grande avaliação”, para provar que os recursos foram destinados à inclusão dos catadores.PesquisasA linha de crédito foi lançada pelo presidente Lula em outubro de 2006, a partir de uma proposta conjunta dos Ministérios do Trabalho e Emprego, Cidades e do Desenvolvimento e Social e Combate à Fome. A medida originou-se de um estudo da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia, que foi encaminhado como reivindicação à Presidência da República pelo MNCR. A pesquisa levantava as necessidades dos catadores para que pudessem se constituir em organizações sustentáveis que lhes garantissem qualidade de vida. Um estudo do Instituto Polis sobre os resíduos desviados dos aterros sanitários pelos catadores de materiais recicláveis mostra que, somente na cidade de São Paulo, estão em atividade 20 mil catadores. ?Esses carroceiros, como são chamados popularmente os catadores, coletam em torno de 400 quilos de materiais por dia, o que resulta em oito mil toneladas diárias de lixo reciclável que deixam de ir para os aterros sanitários e são destinados adequadamente para a coleta seletiva?, destacou Davi Amorim, da assessoria do movimento.Segundo ele, a média nacional de renda dos catadores varia de R$ 70 a R$ 140 mensais. Com a compra de equipamentos, caminhões e prensas para realizar o trabalho de forma adequada, esse valor subiria para R$ 450 por mês, avalia Amorim. NúmerosO MNCR tem cadastradas 450 cooperativas formalizadas, reunindo em torno de 35 mil catadores. A maior parte das organizações é constituída por associações. A entidade calcula que existam atualmente no Brasil entre 300 mil e um milhão de catadores. A estimativa engloba desde catadores cooperados até catadores que trabalham a céu aberto e nas ruas das cidades. Fonte: Agência Brasil (www.agenciabrasil.gov.br ), com base em matérias de Alana Gandra.