Continuam as negociações da 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 20), que começaram no dia 1º e seguem até o dia 12 de novembro, com a proposta de construir um acordo climático global para ser assinado na Conferência de Paris, em dezembro de 2015. A negociação entre as nações tem importância fundamental para que o acordo climático possa substituir o Protocolo de Quioto, a partir de 2020.
Além de acompanhar as negociações oficiais, em Lima, no Peru, a secretária executiva do COEP Nacional, Gleyse Peiter, participa de eventos paralelos durante a COP 20. Nos eventos, quando é possível entender o que vem acontecendo em diversos países em relação às mudanças no clima e conhecer os projetos e ações que vem sendo gerados no âmbito das Nações Unidas, Peiter tem participado das atividades relacionadas aos eixos de trabalho do COEP Nacional, como a segurança alimentar e nutricional e os impactos sociais das mudanças climáticas e adaptação.
Gleyse Peiter relata que o tema de adaptação às mudanças do clima ganhou relevância nesta conferência. “Faz parte da sugestão brasileira a inclusão da adaptação na minuta do acordo a ser finalizado em Lima. O Brasil propôs que o tema tenha a mesma importância que mitigação, o que está em negociação”, disse.
Peiter explicou que, diferente de reuniões passadas, muitos eventos paralelos estão tratando do assunto e houve diversos debates sobre o conceito, formas de financiamento, formas de enfrentamento, entre outros pontos. “O debate sobre financiamento tem foco nas questões relacionadas à gestão de riscos, o que traz uma visão diferente daquela sustentada pelo COEP no âmbito do Grupo de Trabalho (GT) Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade, que enfatiza os impactos sociais e, portanto, a necessidade de ações de adaptação para garantia de cidadania e o debate sobre modelos de desenvolvimento”, observou. O GT é coordenado pelo COEP por meio do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC).
A Secretaria de assuntos Estratégicos da Presidência da República realizou um evento sobre o tema, com a apresentação da experiência de alguns países na implantação de estratégias de adaptação. A Costa Rica, um dos países mais vulneráveis do mundo, incluiu o tema em sua Constituição, garantindo as ações necessárias. O Peru tem uma articulação com o Ministério da Economia para considerar no orçamento público as necessidades das comunidades.
Leia outros relatos de Gleyse Peiter:
Segurança alimentar – Evento coordenado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) trouxe o debate sobre os impactos das mudanças climáticas na segurança alimentar.
“A discussão ficou concentrada na situação de comunidades rurais de agricultores familiares e na produção agrícola, que sofre com enchentes, secas intensas e temperaturas extremas. Embora haja consenso sobre os impactos na produção agrícola e suas consequências para a alimentação das pessoas nas comunidades, a principal solução apresentada é a “climate smart agriculture”, um tipo de agricultura que fortalece o modelo atual de produção, altamente dependente de combustíveis fósseis, organismos geneticamente modificados, agrotóxicos e grandes maquinários. Ademais, propõe o aumento de produtividade por meio de alteração genética de sementes, uso indiscriminado de fertilizantes, mitigação por meio de mecanismos de mercado de carbono, o que não significa a redução de emissões”.
Saúde – Coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), teve a participação do ministro da Saúde do Peru, Aníbal Velásquez Valdivia; e da ministra do Meio Ambiente da França, Ségolène Royal, responsável pela COP 21, que acontece em 2015.
“O debate foi muito interessante, com o relato de diversas formas de impactos das mudanças climáticas na saúde, como o aumento de temperatura repentina para níveis extremos que atingiu a França há alguns anos e provocou a morte de idosos e muitos problemas de saúde em crianças. Outros problemas também foram debatidos, como a dengue, malária, leishmaniose e o aumento de doenças causadas por vetores após enchentes e eventos climáticos diversos.
Um relato importante foi dado pela representante da Indonésia, que trouxe os problemas causados por doenças psicológicas resultantes de perdas de entes familiares, amigos e vizinhos, ocasionadas a partir de eventos extremos como furacões. De modo geral, este tipo de doença não é considerado e não há recursos disponíveis para o tratamento.
Houve grande pressão para incluir a questão da saúde no acordo climático.”
Fonte: COEP Nacional