Peões da fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal, em Corumbá (MS), estão repassando a técnica de produção do material que utilizam na lida com animais aos peões mais novos e às crianças que estudam na escola da fazenda. O conhecimento tradicional do homem pantaneiro é transmitido de geração para geração há pelo menos 200 anos e essa herança profissional tem papel fundamental na formação de crianças e jovens.
Márcio da Silva, que trabalha desde 1979 na Embrapa Pantanal – unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -, diz que os peões confeccionam laços, rédeas, peiteiras, chicotes e outras peças de montaria.
O trabalho artesanal é feito nas horas de folga, principalmente aos domingos, de forma improvisada. Não existe uma oficina própria para a confecção. ?Aprendi com o tempo, com a luta. A gente vai crescendo nisso. Os mais novos estão aprendendo?, disse Márcio.
Segundo ele, a matéria-prima vem de vacas abatidas na fazenda. ?Antigamente a Embrapa comprava todo esse material. Hoje não; fazemos tudo aqui e a qualidade é melhor que a dos materiais comprados na cidade?, afirmou.
O funcionário Armindo Ângelo Gonçalves trabalha na Embrapa há 19 anos e também mora na Nhumirim. Ele conta que aprendeu a fazer os artefatos quando tinha 13 anos, ?vendo os antigos funcionários de fazenda produzindo?.
Armindo diz que gosta de fazer todas as peças. ?Trançar laço distrai a cabeça.? O peão considera gratificante transmitir esse conhecimento aos mais novos. Além de ensinar filhos e netos, Armindo também repassou a técnica para crianças da fazenda. A escola da Nhumirim tem atualmente 25 alunos no ensino fundamental. Todos moram ali e só deixam a fazenda nas férias escolares.
O chefe-geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho, disse que, além da importância de se manter a transmissão do conhecimento tradicional, a atividade dos peões garante uma grande economia para a unidade.
O supervisor de campos experimentais, Marcos Tadeu Araújo, disse que um laço de 12 braças feito na fazenda é usado para laçar touros. ?Ele vale uns R$ 400 no mercado. O couro do pantanal é um dos melhores do mundo?, afirmou.
Auxílio na formação de crianças e jovens
A pesquisadora Alda Campolin, pedagoga que atua na área de agricultura familiar, disse que para as crianças e jovens rurais, a herança profissional tem papel fundamental na sua formação.
?A identidade deles se constrói com base no ?saber profissional?, enraizado na tradição familiar. O viver no campo, em estreita integração com a natureza e com a família, permite que crianças e jovens rurais construam um saber que se transforma em saber profissional?, afirmou. Isso acontece à medida que as especificidades da vida rural exijam ampliar o uso de recursos disponíveis no seu entorno.
Essa dinâmica é fundamental para garantir a reprodução familiar. As estratégias dessa reprodução variam desde o aproveitamento dos excedentes até a busca de melhores índices de produtividade.
Fonte: Embrapa Pantanal (www.cpap.embrapa.br)