Grupos de marisqueiros que viviam da extração predatória de ostras às margens do Rio Pacoti, na região metropolitana de Fortaleza, já produzem e comercializam mariscos sem agredir ao meio ambiente. A mudança de comportamento é resultado de uma parceria do Centro de Estudos Ambientais Costeiros (Ceac), Sebrae, Fundação AlphaVille e o instituto de Ciências do Mar – Labomar, da Universidade do Ceará. A parceria deu origem a um projeto de capacitação para os grupos de marisqueiros.
Na fase inicial, os alunos tiveram aulas teóricas. “Eles aprenderam sobre a importância da qualidade da água no cultivo de ostras e as implicações da extração predatória, além de detalhes técnicos”, destaca Maximiano Pinheiro Dantas Neto, engenheiro de pesca do Labomar. Após as aulas, o grupo partiu para o cultivo durante oito meses de trabalho na maré mais baixa de cada semana até que as ostras atingissem o tamanho ideal para comercialização, a partir de seis centímetros.
Hoje, além de não depredarem mais o mangue, o primeiro grupo de alunos já cultiva ostras no Estuário do Pacoti, que serão comecializadas para um dos restaurantes do Beach Park, que acaba de integrar o marisco em seu cardápio.A venda, estimada em 480 dúzias de ostras por mês, garantirá a cada família uma renda adicional mensal de R$ 240.
Além de contribuir para a renda das famílias, o sucesso da parceria também beneficia o meio ambiente. “A extração de ostras no mangue é uma ação muito degradante, que prejudica todo o habitat natural. Não é possível retirar uma ostra por vez, mas sim cachos inteiros, com ostras de diferentes tamanhos. As muito pequenas são descartadas e as maiores vão para a comercialização. Isso sem falar nos diversos organismos vivos que são capturados junto com os cachos, essenciais à manutenção da vida daquele nicho, e que nunca mais voltarão ao seu meio”, avalia Max, do Labomar.
A Fundação AlphaVille auxilia o grupo a transportar o produto, altamente perecível, até o restaurante. Apesar da proximidade – apenas 15 minutos de percurso, todo o cuidado é pouco para que as ostras não percam a qualidade para o consumo, de apenas três dias. Além disso, a Fundação parte agora para o desenvolvimento de novas capacitações.
Segundo Mônica Picavêa, diretora da Fundação AlphaVille, o grupo de cultivo de ostras receberá nova formação, desta vez em gestão de negócios. “Não adianta atingirem as metas de produção, por exemplo, se eles não souberem gerir o negócio”, afirma a diretora. Outra aposta é na produção de peças decorativas e bijuterias feitas com a concha da ostra. “Esta atividade, muito valorizada no mercado local, ajudará a complementar a renda das famílias em épocas de chuva, quando a salinidade da água diminui e torna-se impossível cultivar os mariscos”, relata.
Fundação AlphaVille
A AlphaVille Urbanismo S.A. criou, em 2000, a Fundação AlphaVille. A entidade vem trabalhando desde então para levar oportunidades às comunidades existentes no entorno de seus empreendimentos. Para isso, mantêm projetos de geração de renda e formação profissional nas cidades de Barueri e Santana do Parnaíba (SP), Salvador, Goiânia, Cuiabá, Fortaleza e Curitiba.
Nos projetos para 2006, estão previstas a criação de uma rede de comercialização dos produtos criados pelas cooperativas a partir de materiais reciclados, o engajamento de universidades na criação de cursos pré-vestibulares dentro de comunidades carentes próximas aos empreendimentos AlphaVille e a implantação de uma metodologia de educação ambiental para utilização nas escolas e comunidades do entorno.
Centro de Estudos Ambientais Costeiros Inaugurado em 17 de dezembro de 2004, no município de Eusébio – região metropolitana de Fortaleza – o Centro de Estudos Ambientais Costeiros trabalha para se tornar a maior referência da América Latina no setor, desenvolvendo pesquisas na área de aqüicultura e biologia marinha, oferecendo cursos de educação ambiental e promovendo a profissionalização da população local para o cultivo de mariscos e ostras, através do Grupo de Estudos de Moluscos Bivalves, do Labomar.
Criado em parceria com a Fundação AlphaVille e com o Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, o local trabalha também na reconstrução e no repovoamento do Rio Pacoti, degradado há muitos anos.