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Confira o debate que aconteceu sobre intolerância


30 de julho de 2015
Alexandre Gaschi e Gleyse Peiter

Alexandre Gaschi e Gleyse Peiter

A Rede Mobilizadores promoveu, no dia 27 de julho, um evento presencial, no Rio de Janeiro, para debater as diversas faces da intolerância. O evento contou com intervenções do advogado Alexandre Magnavita Gaschi, que abordou a intolerância em relação à pessoa com deficiência; da jornalista e doutoranda da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rosiane Rodrigues, que falou sobre a intolerância religiosa; e dos professores de Psicologia da UFF, Hildeberto Martins e Cristina Rauter, que falaram, respectivamente, sobre intolerância racial e sobre violência e sistema prisional.

O evento, que foi realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi aberto pela coordenadora geral da Rede Mobilizadores, Gleyse Peiter. Ela lembrou que a Rede Mobilizadores vem abordando, desde sua criação, diversos temas relacionados, direta ou indiretamente, às diversas formas de intolerância e seus efeitos sobre os direitos humanos.

Ela explicou que a proposta do evento é realizar uma primeira conversa sobre o tema e, depois, dar continuidade ao debate por meio de um fórum online, na página da Rede, e construir coletivamente uma moção de repúdio a todas as formas de intolerância, além de propor ações para o enfrentamento do problema, especialmente nas redes sociais, onde muitos debates têm sido movidos por ataques pessoais e manifestações de ódio, preconceito e intolerância.

Intolerância por debaixo dos panos

Alexandre Gaschi explicou que intolerância em relação às pessoas com deficiência acontece de forma mais sutil e bem menos violenta do que as manifestações relacionadas à raça ou religião, por exemplo. Ele atribuiu a crescente intolerância e preconceito a deficiências da educação formal que não prepara as crianças e jovens para o exercício da cidadania. Já, a pedagoga Alzira Brando, que estava presente ao evento, lembrou que as manifestações de intolerância e preconceito contra as pessoas com deficiência costuma acontecer por debaixo dos panos. Ela enfatizou que nossa educação visa preparar trabalhadores para o mercado e não cidadãos ativos e comprometidos com a sociedade.

Rosiane Rodrigues e Hildeberto Martins

Rosiane Rodrigues e Hildeberto Martins

Quando a intolerância nega direitos

Rosiane Rodrigues relatou que a intolerância religiosa se tornou um tema em sua vida em 2007, quando ela perdeu, por um ano, a guarda do seu filho caçula, à época com dois anos, porque a juíza entendeu que ela não tinha condições morais de criar a criança por ser sacerdotisa do Candomblé. A ação visava apenas regularizar visitas e o pai não pleiteava a guarda do filho. A partir de então, ela passou a se dedicar ao estudo do tema.

Rosiane concluiu recentemente um mestrado em Antropologia onde estudou as implicações decorrentes da entrada dos neopentecostais no movimento negro. Ela relata que várias religiões neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus, Renascer, Maranata, têm se apresentado como as religiões negras do Brasil, por ter grande contingente de negros em seus púlpitos e entre seus adeptos, e mostra que muitos dos representantes negros dessas igrejas têm ocupado espaços políticos dentro das estruturas estatais de políticas de igualdade racial, que era o lugar onde os adeptos da Umbanda e do Candomblé se refugiavam para tentar garantir seus direitos.

Ela explica que sua pesquisa a levou a concluir que a intolerância religiosa não tem nada a ver com religião ou dogma religioso, mas com disputa de mercado econômico e político. “Existe uma postura política de enfrentamento e de combate às religiões afro-brasileiras que faz com que esse conceito de intolerância não caiba mais”, afirma. Ela ilustra relatando que, segundo dados levantados apenas na imprensa, nos últimos cinco anos, 48 sacerdotes foram assassinados e 85 casas de santo foram invadidas, depredadas ou incendiadas no Brasil.

De acordo com a pesquisadora, as igrejas neopentecostais estão acabando com todas as possibilidades de produção de conhecimento de quilombolas e indígenas, porque nas comunidades onde há representações de tais igrejas, as pessoas idosas, que são receptáculos de conhecimento dessas comunidades, não rezam nem cantam mais no seu idioma nativo porque “é pecado” ou “é do demônio”. Em aldeias indígenas, o urucum, usado para pintura ritual, tem sido tratado como “excremento do capeta”.

“Essas questões têm relação não apenas com nossa memória ou com a nossa cultura, mas com poder econômico, com as riquezas naturais guardadas nesses territórios. Várias grandes guerras foram travestidas de guerras religiosas. Colocamos uma fachada de religiosidade para justificar um empreendimento civilizatório”, afirma.

O racismo à brasileira

Hildeberto Martins contou que sua trajetória em relação à questão racial é recente, tem apenas cinco anos, e que tem tentado compreender como a sociedade brasileira lida com a questão racial e as formas sutis de discriminação e preconceito em relação a uma parcela da população brasileira que se autodefine ou é definida como negra, preta ou parda.

Segundo ele, chama a atenção a ideia de democracia racial no país, já que o Brasil é um país que tolera as relações raciais e por isso somos diferentes de outros países. Enquanto nos Estados Unidos há intolerância racial, no Brasil, haveria uma harmonia racial, na qual muitos ainda acreditam. “Na verdade, o que há é um racismo à brasileira, que vai produzindo táticas de exclusão social, sempre apresentando o negro como criminoso”, adverte.

Hildeberto afirma que o debate relacionado a questões raciais, como a política de cotas, é sempre perpassado por um ideário iluminista, que preconiza que todos somos iguais, e numa sociedade de iguais esse tipo de política não é admissível. “Isso numa sociedade que produz táticas sutis de exclusão ou de desqualificação do outro”, contesta.

“O importante nesse debate é pensar como a sociedade brasileira vem reproduzindo ou desqualificando tentativas de pensar o cidadão negro, que muitas vezes foram considerados e ainda são considerados cidadãos de segunda classe”, ressalta Hildeberto.

Cristina Rauter e Alexandre Gaschi

Cristina Rauter e Alexandre Gaschi

Encarcerados sem direito de defesa

Cristina Rauter contou que seu primeiro emprego foi numa penitenciária e que desde então tem estudado o tema. Ela lembrou que tem havido um retrocesso nas discussões em relação a alguns temas, como a análise psicológica sobre a possibilidade de uma pessoa voltar a cometer crimes. “Essa é uma discussão ultrapassada com a qual voltamos a nos confrontar”. Segundo ela, as prisões brasileiras são verdadeiros campos de concentração, onde são encarceradas pessoas na maioria negras, que não tiveram acesso ao direito de defesa.

 

 

 

Fonte: Eliane Araujo

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