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Erradicação da Miséria

A dimensão humana das remoções no Rio


13 de fevereiro de 2015

O Rio de Janeiro é uma cidade que atrai gente de todas as partes do mundo pela sua geografia, pela particularidade da ocupação do seu solo e, também, pela diversidade e alegria de sua população. Nesta perspectiva as favelas são uma síntese possível da cidade. Lugares plenos de histórias de resistência e de luta por direitos. Elas são a alternativa, criada pelos trabalhadores, na ausência de uma política de habitação popular que acolha àqueles que constroem e mantêm esta cidade. Num ambiente onde a desigualdade social e econômica insiste em invibilizá-los ou removê-los para longe, os favelados disputam a cidade.

A “Cidade Maravilhosa”, título conferido ao Rio de Janeiro, entrou de cabeça na lógica competitiva das cidades globais: mercantilizada e completamente subordinada ao ritmo e interesse do capital especulativo e imobiliário. Nesta dinâmica, a dimensão humana da cidade virou retórica para se vender mais artificialidades.

Os megaeventos no Rio servem de justificativa para toda e qualquer intervenção urbana, desde o conserto de um bueiro entupido até a remoção de muitas famílias para áreas distantes. Segundo relatório do Comitê Popular da Copa e Olimpíada do Rio de Janeiro, já são milhares as pessoas removidas em função dos referidos eventos. O exemplo mais escancarado de que o principal interesse é “limpar” a área afastando os pobres, é a pressão que está sendo feita para remover os moradores de Vila Autódromo, na Zona Oeste do Rio. Aí existe o compromisso da Prefeitura com o capital imobiliário de “limpar a área”, pois esta é a nova zona de expansão para os negócios e moradias de alto luxo.

Num processo democrático é necessário a mediação entre forças desiguais. No entanto, neste caso, o poder público que poderia/deveria assumir esta função está completamente subordinado à lógica da cidade negócio onde o imperativo é abrir espaço para ampliação de mais investimentos. *“A cidade avança no sentido oposto ao da integração social e da promoção da dignidade humana”. Então, cabe à sociedade civil potencializar as várias iniciativas de luta e resistência que se manifestam na cidade e, sobretudo, fazer a disputa simbólica por uma cidade para todos.

É fundamental garantir a diversidade que faz do Rio de Janeiro uma Cidade Maravilhosa. O Rio é nosso: de pobres, ricos, remediados, pretos, brancos e outros matizes. “A cidade é sobretudo o resultado dos sonhos de pessoas que a habitam”**. Por isso, os rostos e olhares fotografados pelo Marc revelam seres humanos frente a ameaça da remoção: resistência, indignação e esperança. Os olhos brilham e nos interrogam. Chamam a atenção para uma disputa presente nos dias de hoje: que cidade queremos? Qual o modelo de cidade que prevalecerá?

Nasci e me criei no alto da favela de Santa Marta, em Botafogo, ali me constitui como cidadão. Agora, uma parte deste território está ameaçado de ser removido, de forma arbitrária. As imagens são avisos, alertas de que algo está se passando naquele local. Homens, mulheres, jovens e crianças expressam sua alegria de viver ali, seu compromisso em defender o seu lugar e denunciam a ameaça que paira sobre suas cabeças. A vida pulsa e se reproduz apesar dos abutres mercantilistas que tratam a tudo e a todos como commodities.

O conjunto de imagens que  Marc Ohren-Leclef  nos oferece nesta exposição, revela sua sensibilidade com as ameaças de remoção que atinge muita gente no Rio de Janeiro. Por isso, a proposta de se expandir a cultura de ativismo comunitário já presente no Rio, é contagiante e pode estimular uma onda de resistência por um Rio democrático e diverso, contagiando, inclusive, aqueles que estão em situação mais confortável na cidade e não se sentem ameaçados pelas emoções. Eu me junto àqueles que querem uma cidade que espelhe os desejos e trajetórias de seu moradores que a qualifique ouvindo e respeitando a todos.

* Dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Rio de Janeiro
** Artigo:“A cidade em processo de transformação”, por Paulo Thiago de Mello. Publicado no jornal O Globo, na série de reportagem ‘Cidade em Transe’

Leia entrevista com Marc Ohrem-Leclf no Canal Ibase

Fonte: Ibase
Por Itamar Silva
Diretor do Ibase

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