Prova Brasil, Enem, Saeb e Pisa: siglas nacionais e internacionais que representam os diversos sistemas e índices de avaliação da qualidade da Educação brasileira. Segundo especialistas, mesmo com um custo alto para serem realizadas, as avaliações estão consolidadas no campo educacional. O problema é que os resultados acabam não chegando às escolas e comunidades e não se sabe até que ponto as avaliações estão contribuindo para transformar a Educação.
Para a coordenadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, Bernadete Gatti, embora a intenção de fazer as avaliações seja a melhor possível, ela não enxerga muitos resultados positivos para as escolas. ?Os números e índices são confusos e pouco se relacionam com o cotidiano da escola. Os professores e gestores, quando têm acesso a eles, não os entendem e não sabem o que fazer para melhorá-los?, observou.
Para ela, é necessário encontrar fórmulas, a partir das avaliações, que identifiquem o que precisa ser transformado. ?A escola tem que entender o que deve fazer, pois senão, os resultados acabam perdidos em si mesmos?, avaliou, lembrando que outro problema é o fato dos alunos se sentirem desestimulados a fazerem as provas. ?Como elas vêm de cima para baixo, as crianças não entendem direito porque estão sendo avaliadas?, ponderou.
Em contrapartida, o economista e professor da Universidade São Paulo (USP) e do Ibmec São Paulo, Naércio Menezes, analisou as avaliações como indicadores positivos e necessários para o avanço das políticas públicas de Educação. ?A Educação é a variável mais importante para o crescimento econômico e redução da desigualdade econômica do país. Por isso, já estava na hora do Brasil começar a prestar atenção nela?, disse.
Como exemplo, ele citou os países vizinhos Argentina e México, que avançaram muito na redução das taxas de analfabetismo e na qualidade da Educação. ?O Brasil, em compensação, só começou esse movimento a partir da década de 1980. Enquanto vários países da América Latina já colhem os frutos de seus investimentos, nós estamos vendo o tamanho da dificuldade e a necessidade cada vez maior de investirmos radicalmente na educação?, pontuou.
Para Menezes, é de fundamental importância criar redes de relações entre a comunidade, escola e governo na análise e solução dos problemas revelados nas avaliações. ?É dever do Estado mostrar que a educação pública está ruim e precisa ser melhorada?, complementou.
A partir da análise dos dados dos exames nacionais e internacionais, o professor verificou que o que mais contribui para o mau desempenho do alunado é a baixa escolaridade da mãe. ?A má remuneração do professor não tem relação com o desempenho ruim do estudante, porém, se houvessem incentivos para aqueles mestres e escolas que se destacassem e que os maus funcionários fossem afastados, certamente o ensino apresentaria melhoras significativas?, observou. Para ele, tampouco cursos de formação de professores foram identificados como possíveis soluções para auxiliar no desempenho estudantil.
Fórmula que deu certo
Como possível solução, o titular da cátedra em Ciência e Educação da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco), Jean-Marie de Ketele, insistiu no exemplo de seu próprio país, a Bélgica. ?Nós montamos uma avaliação a partir dos professores, na qual cada escola corrige suas próprias provas para que possam verificar o que está errado a partir das suas próprias interpretações e funcionamento?, disse.
Ketele contou que após os exames que são realizados no meio do ano escolar, todos os professores se reúnem em comissões regionais e pensam práticas conjuntas que são encaminhadas para o governo central e então novamente disseminadas. ?A escola pode pensar como resolver seus problemas e recebe auxílio da universidade e governo nessa missão?, pontuou.
O ensino particular brasileiro também não se livrou das críticas das avaliações internacionais, mostrando, segundo Menezes, que talvez a metodologia e a formação dos estudantes é que não esteja correta. Gatti concordou e complementou, perguntando qual seria o parâmetro de qualidade que buscam as avaliações. ?É preciso lembrar que cada comunidade está inserida em um contexto específico?, disse.
Os Estados Unidos também não apresentaram bons resultados nas análises internacionais, mas desde 2005, quando o último censo de grande porte foi realizado, os governantes injetaram dinheiro em bonificações para escolas que mais avançassem. ?O contexto da educação ruim não é exclusivo do Brasil, mas os outros países estão à frente para melhorar a situação e nós temos que recuperar o tempo perdido?, reconheceu Menezes.
Os debates aconteceram durante a Semana de Educação Victor Civita, realizada em São Paulo (SP), de 16 a 18 de outubro.
Fonte: Aprendiz (http://aprendiz.uol.com.br), com base em matéria de Julia Dietrich.