Você sabe o que os caprinos ? bodes e cabras ? têm em comum com o combustível que você abastece o carro? Pode parecer estranho, mas ao contrário do que se pode imaginar, esses animais representam um grande potencial para a indústria do biocombustível. A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) em parceria com a Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral/CE), a Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Universidade de Brasília (UnB), estão desenvolvendo pesquisas para a produção de enzimas a partir do rúmen de caprinos.O projeto Metagenoma, como é chamado o estudo financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), começou em março de 2008, e já é considerado um dos melhores indicadores de que o futuro dos biocombustíveis de 2ª geração está cada vez mais perto. Com o desenvolvimento dessas tecnologias, o Brasil dará um salto na produção de etanol. O etanol de 2ª geração poderá ser produzido a partir de qualquer matéria-prima que tenha em sua composição material lignocelulósico. A pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Betânia Quirino, responsável pelo trabalho, explica que qualquer planta possui celulose na sua composição e a celulose é um polímero de glicose que pode ser fermentado para produzir etanol. ?O foco da nossa pesquisa é encontrar enzimas que consigam degradar essa matéria-prima para então utilizar o método tradicional de fermentação usando levedura. Com a pesquisa, poderemos também usar o bagaço de cana e outras plantas que possuam celulose para produzir etanol?, salienta Betânia. O começo À primeira vista, é difícil imaginar o que as cabras da raça moxotó têm a ver com a produção de etanol. Mas, para um grupo de pesquisadores dessas instituições, os animais são fundamentais a um dos mais promissores estudos na área de produção de biocombustíveis. O início de tudo está no rúmen dos caprinos, ou seja, a primeira parte do estômago dos ruminantes. Dentro do rúmen, existem vários tipos de bactérias que ajudam na digestão do pasto. O alimento é atacado pelas enzimas das bactérias, que fazem a ?quebra? das fibras, em unidades de glicose que pode ser fermentada e convertida em etanol. Identificar e caracterizar essas enzimas são os grandes desafios desse trabalho, salienta Quirino. ?Em dois anos, já conseguimos identificar quatro tipos de enzimas?, diz. As pesquisas estão sendo desenvolvidas no laboratório da UCB e os resultados têm animado a equipe de pesquisadores, professores e estudantes de mestrado e doutorado. Mas, se os laboratórios e os equipamentos de alta tecnologia estão em Brasília, é do sertão nordestino que vem a matéria-prima, a origem da inspiração da equipe. ?Escolhemos os caprinos da raça moxotó, espécie nativa brasileira, que fazem parte dessa unidade de conservação pelo fato deles terem uma alimentação peculiar e única que é a vegetação do semi-árido nordestino?, ressalta a mestranda, Isabel Cunha. Além disso, a identificação de enzimas nestes animais é inédita, pois a maioria dos trabalhos em outros países é com bovinos.