O documentário ?Tabuleiro de cana, xadrez de cativeiro? denuncia o aliciamento, as condições degradantes de trabalho e a escravidão nas usinas de açúcar e álcool. A obra foi lançada no dia 16 de agosto, em Maceió, Alagoas. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Alagoas, que produziu o documentário, informa que foram capturadas 25 horas de depoimentos dos canavieiros super-explorados. O filme enfatiza a vulnerabilidade dos canavieiros migrantes para o trabalho escravo, por estarem longe de suas famílias e, na maioria dos casos, sem condições de retorno por conta própria.
Segundo a CPT, em Alagoas, o trabalho clandestino é uma prática ilegal ainda muito utilizada nos canaviais. Na tentativa de burlar as leis trabalhistas, as usinas que usufruem dessa mão-de-obra atribuem as responsabilidades ao empreiteiro, o que dificulta a aplicação das penalidades e desvia o foco dos verdadeiros responsáveis por essas violações. No acompanhamento feito pela CPT às comunidades de assalariados rurais, verificou-se ser numerosa a quantidade de canavieiros que nunca tiveram suas carteiras de trabalho assinadas. Nesses casos, um trabalhador que corta cana desde a adolescência é levado a esperar os 65 anos de idade para conseguir o benefício da aposentadoria.Atraídos por promessas de melhores oportunidades de trabalho nas regiões norte, centro-sul e sudeste do país, milhares de alagoanos têm migrado todos os anos para o trabalho em usinas de cana-de-açúcar. As viagens acontecem no final da safra do estado de Alagoas ? período que corresponde ao início da safra nos estados de destino. Nesse regime de sazonalidade, os canavieiros migrantes (numa expressiva maioria de homens) permanecem longe de suas casas em média nove meses por ano.Segundo os assalariados da cana acompanhados pela CPT, a migração ocorre por falta de oportunidades de emprego em Alagoas no período da entressafra. Na maioria dos casos, a viagem é feita de forma irregular (a carteira de trabalho não é assinada, o custo da viagem é descontado no primeiro salário recebido, assim como as despesas com alimentação, alojamento, equipamentos de proteção e remédios ? em caso de doenças).Das violações ocorridas, os migrantes ressaltam os descontos abusivos nos salários e a falta de infra-estrutura nos locais de alojamento. Em alguns casos, os trabalhadores são impedidos de voltar ao estado de origem pela falsa dívida que acumularam durante os meses de trabalho, o que configura regime de escravidão por dívida.