Crianças obesas não devem fazer dietas restritivas, com proibição total de certos alimentos. Pesquisas demonstram que quando se orienta alguém a “fechar a boca” para perder peso, os efeitos são o oposto do desejado: há aumento do apetite, diminuição do metabolismo e a pessoa fica mais obcecada por comida.
Essa informação foi divulgada pela nutricionista Sophie Deram, doutora em obesidade infantil e genética pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela participou, na última terça-feira (22), de seminário sobre obesidade infantil promovido pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara. Sophie Deram explica que as dietas restritivas são aquelas que deixam as pessoas com fome:
“O fato de ele sentir fome vai desencadear, no cérebro, um mecanismo de adaptação que vai fazer o quê? Vai aumentar o apetite. Claramente, o que acontece? Quando você está com fome, o corpo quer que você coma. Então ele vai fazer o quê? Vai mandar mais sinais de fome. Se você não responde porque você está de dieta, o cérebro vai mandar mais ainda e seu apetite vai ficar maior. Mostraram em pesquisas que até quando você para essa dieta, o seu apetite fica maior depois e durante pelo menos um ano”.
O presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Paulo César Alves da Silva, concorda com a nutricionista:
“Não gosto nem de usar a palavra dieta. Na verdade, quando a pessoa engorda, ela tem um distúrbio metabólico e ela tem que passar a comer correto para o metabolismo dela. Então pode usar todos os grupos alimentares, mas com orientação médica ou com orientação do nutricionista. Mas não fazer dieta restritiva jamais. É um equívoco até porque a criança está em fase de crescimento”.
Paulo César da Silva destaca que a alimentação das crianças é normalmente fornecida pelos pais. São eles que compram o que se consome em casa e pagam as despesas nas cantinas das escolas, por exemplo. Por isso, segundo o endocrinopediatra, é fundamental que os pais sejam conscientizados sobre a necessidade de prover a casa com alimentos saudáveis e de verificarem o que as crianças estão comendo nas escolas.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2008 e 2009, mostrou que, enquanto a desnutrição entre crianças vem diminuindo gradativamente, a obesidade infantil está aumentando. Em 2008, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos tinha excesso de peso. Também a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada em 2006, mostrou que 7% das crianças menores de 5 anos já apresentavam excesso de peso.
A obesidade é uma doença crônica provocada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo das pessoas. Entre as consequências da obesidade infantil, podem-se citar a diabetes do tipo 2, a hipertensão, lesões na pele, alterações psicológicas, e obesidade na vida adulta. Isso sem falar que, em geral, as pessoas obesas vivem menos. A OMS, Organização Mundial da Saúde, já considera que há uma epidemia de obesidade, por causa do grande número de casos em vários países.
A endocrinologista Maria Edna de Melo destaca que, além de uma alimentação adequada, a atividade física é fundamental para evitar e combater a obesidade. Segundo ela, a educação física nas escolas do Brasil, por exemplo, é muito restrita e isso precisa mudar.
O médico e deputado Alexandre Roso, do PSB do Rio Grande do Sul, foi quem sugeriu a realização do seminário sobre obesidade infantil. Ele afirma que a forma de combater esse problema é a integração de esforços de toda a sociedade, com envolvimento da família, das escolas, da indústria de alimentos e do governo. Alexandre Roso destaca que campanhas educativas e a mudança de hábitos também são fundamentais para prevenir a doença.
Fonte: Rádio Câmara