Pescadores de Xique-Xique, Barra, Pilão Arcado e Remanso, municípios às margens do Rio São Francisco, na Bahia, estão testando um modelo de educação de jovens e adultos (EJA) combinado com qualificação profissional e economia solidária. É o curso de alfabetização Saberes das Águas, oferecido pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), em parceria com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci) e Universidade do Estado da Bahia (Uneb). O curso faz parte do Programa Brasil Alfabetizado do MEC.O Saberes das Águas cadastrou, no segundo semestre de 2005, três mil pescadores para o projeto-piloto. A formação dos alfabetizadores foi realizada em novembro de 2005 e as 145 turmas começaram as aulas em dezembro. A primeira fase do curso (dezembro de 2005 a fevereiro de 2006) foi intensiva para aproveitar o defeso ? período em que a pesca é proibida porque os peixes estão em fase desova de crescimento. A segunda foi de março ao início de julho 2006, com calendários diferenciados feitos pelas colônias, conforme o tempo que os pescadores tinham para freqüentar as aulas.
João Rocha, coordenador do projeto na Uneb, explica que os pescadores de Xique-Xique, por exemplo, que ficam até quatro dias, direto, no rio, tiveram aulas aos sábados, domingos e segundas-feiras. Além do calendário, outra diferença do projeto está nos materiais didáticos confeccionados pelo Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias da Uneb. A abordagem dos conteúdos leva em conta o cotidiano do pescador: rio, tempo, fases da lua, meio ambiente, confecção de redes, venda dos peixes e o defeso.Segundo o diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC), Timothy Ireland, além de avaliar o projeto e certificar os alunos, o MEC e a Seap discutirão com os prefeitos dos quatro municípios as chances da oferta de EJA profissional aos que concluíram a alfabetização. A proposta de um curso de educação de jovens e adultos com qualificação profissional e social visa à auto-sustentabilidade das colônias.
Para o coordenador do Projeto Saberes das Águas, Andrez Gray Aznar, que representa a Aeci na parceria, a maior dificuldade encontrada na alfabetização dos pescadores do Rio São Francisco foi a baixa visão provocada pelo reflexo do sol nas águas. Em pesquisa com 180 pescadores do município de Remanso, inscritos no projeto de alfabetização, Andrez viu que 50% abandonaram as aulas por não conseguirem acompanhar as atividades, nem ler e escrever. Numa avaliação preliminar, além da baixa visão, outro problema causador da evasão, é o longo período de pesca contínua – de duas a três semanas. A Uneb, responsável pela formação dos alfabetizadores, relatou o problema da visão como causa principal da baixa aprendizagem e evasão.
Andrez Gray Aznar sugere que antes de levar o projeto para outros municípios de área de pesca, os problemas devem ser corrigidos. “Um programa de avaliação da visão e oferta de óculos são essenciais para o sucesso da alfabetização”. Fonte: Envolverde – www.envolverde.com.br