É cada vez mais senso comum que mudanças sociais realmente inclusivas só podem acontecer a partir do desenvolvimento de senso crítico da população. Neste sentido, fazer uma leitura crítica do que é veiculado pelos meios de comunicação, presentes em todo o lugar o tempo todo, é um ótimo exercício para repensar e reformular valores, opiniões e chegar a novos pontos de vista sobre temas diversos. A educação para a mídia é um vasto campo de ensino e aprendizado que tenta desconstruir as mensagens veiculadas para que o ?leitor? possa ser sujeito de sua própria história.
De acordo com Maria Aparecida Baccega, professora da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha há 20 anos na área, a educação desempenha papel fundamental para o desenvolvimento do senso crítico tão necessário para que mudanças sociais efetivamente aconteçam. Criadora da revista ?Comunicação e Educação?, a docente diz que, no entanto, sempre foi difícil atuar nessa área, devido à postura restritiva de professores, diretores, comunidade, pais e estudantes.
?A tarefa de mostrar a importância de uma leitura crítica do que se vê na TV ou se lê nos jornais e revistas vira entrave na relação professor-aluno. Possibilitar que os alunos aprendam que a mídia se mostra como um mundo editado segue sendo um papel árduo, seja na universidade ou na comunidade?, relata. Para a professora, ver a mídia de um outro jeito é tentar construir uma nova variável histórica, mas não significa se posicionar contra ela. ?Devemos parar de reproduzir o que está exposto no mercado há séculos?, considera.
O investimento em educação para comunicação por parte das instituições acadêmicas ainda é pequeno no Brasil. Segundo Baccega, falta fomento à interação de agentes educacionais na discussão da mídia e oportunidades de trabalhar nessa área. ?Sinto que não temos maturidade suficiente para propormos coisas novas, justamente por não haver incentivo?, justifica.
Fora do Brasil, a educação para a comunicação é abordada com mais valorização e apoio por parte das universidades e governos. Países como o Canadá ? que já inclui no currículo do ensino médio conteúdos de media literacy ?, Austrália, Tailândia, Grã-Bretanha, Israel, Finlândia, México, Espanha, Índia e Filipinas também possuem projetos de educação para uma leitura crítica das mensagens.
Nos Estados Unidos, O Center for Media Literacy (CML), localizado na Califórnia, é um precursor nesse campo de estudo. Instituído em 1989, o CML é uma organização educacional sem fins lucrativos e com o objetivo de promover liderança, educação pública, desenvolvimento profissional e recursos educacionais. Segundo a presidente do CML, Tessa Jolls, a organização ajuda os cidadãos, especialmente os mais jovens, a desenvolver o pensamento crítico e a produzir habilidades de leitura necessárias para a vivência na cultura midiática do Século XXI.
A chamada media literacy (expressão inglesa que não tem uma tradução no português) pode ser subdividida em três campos: Alfabetismo visual ? habilidade para interpretar o simbolismo das imagens visuais estáticas ou em movimento e entender seus impactos na audiência; Alfabetismo midiático ? habilidade para entender como os meios de comunicação de massa (TV, cinema, rádio e jornais) trabalham na produção de significações e como estão organizados; e Leitura Crítica da Mídia ? habilidade para entender como apresentadores, escritores e produtores de textos e conteúdos audiovisuais integram contextos particulares e são influenciados por aspectos pessoais, sociais e culturais.