?A instrumentalização é muito mais simples do que se imagina. Os jovens têm muito potencial. Eles entendem tudo de linguagem audiovisual e têm muito a dizer. Eles não sabem exatamente o que procuram quando vão às oficinas, mas em apenas três semanas produzimos curtas de muito valor?. Ela participou do Seminário Internacional de Comunicação para Transformação Social, na capital paulista, que reuniu profissionais, educadores e pesquisadores da área para debater a potencialidade dos recursos de comunicação para mudança social.
Desde 2001, a instituição de Carvalhosa já promoveu 400 oficinas, das quais participaram 650 jovens, de 16 a 26 anos, que produziram 150 vídeos. Com tal atividade, a instituição busca aproximar a população do cinema como forma de expressão popular e viabilizar a produção de filmes em formato digital. ?São oficinas de sensibilização e não de profissionalização. Os jovens querem entender como funciona o mundo da produção audiovisual, ajudar a sua comunidade por meio da comunicação e ingressar no mercado de trabalho?, explicou.
O trabalho deu tão certo, que muitos dos jovens, depois das oficinas, passaram a trabalhar na organização. Os trabalhos já foram exibidos na televisão aberta e hoje estão disponíveis na Internet para divulgação. ?Os jovens ficam com tanta vontade de continuar que alguns gravaram DVDs e distribuíram pelas locadoras da comunidade?, lembrou.
Exemplo de projeto noPará
Desde 1987, o Projeto Saúde e Alegria atua em comunidades extrativistas dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, localizadas no oeste do estado do Pará. Com um único barco, o projeto percorre toda a região ribeirinha, em 143 lugares diferentes, e envolve 29 mil pessoas em programas, que vão além do atendimento médico. ?Trabalhamos nas vertentes: Saúde Comunitária, Economia da Floresta e Educação, Cultura e Comunicação, tudo norteado pela gestão e organização comunitária?, explicou o coordenador da área de educação e comunicação, Fábio Pena.
?Muitas das campanhas da Rede Globo não fazem sentido para a população ribeirinha do Pará. Dessa forma, organizamos o nosso Sistema Mocorongo de Comunicação?, disse. Denominada com o nome de quem nasce na cidade de Santarém (PA), a rede de comunicação tem uma rádio em cada comunidade, jornais, telecentros com acesso à Internet, além de produção de vídeo.
?Para conseguir valorizar a cultura local, ao mesmo tempo em que os jovens entravam em contato com essas mídias, passamos a utilizar os meios para documentar a cultura?, explicou.
No mundo
Não é apenas no Brasil que a educomunicação tem sido utilizada para modificar realidades sociais. Nicarágua, na América Central, e África do Sul, na África, têm exemplos bem-sucedidos de trabalhos com jovens que unem comunicação e educação.
O projeto nicaragüense ?Ponto de Encontros? nasceu de um grupo feminista que se reunia para pensar ações de transformação em um país marcado por uma alta taxa de desemprego, forte influência da religião na política, forças conservadoras no governo e população jovem.
?Os jovens precisam conhecer as relações de poder que intermedeiam seu mundo, pois tais relações influenciam suas decisões, até sobre seus corpos?, explicou uma das realizadoras do projeto Arlene Guevara, que lembrou a atual discussão que ocorre no país sobre a legalização do aborto terapêutico (modalidade aplicada à mãe como se esta não estivesse grávida).
O projeto desenvolveu uma série de televisão e um programa de rádio, ambos com o mesmo nome: ?Sexto Sentido?. Produzidos por jovens, os programa tratam de assuntos como AIDS, gravidez na adolescência e drogas. Os dois têm alto índice de audiência.
Enquanto isso, na África do Sul, o Instituto Soul City, que atua em 11 países por meio de parcerias, focaliza seu trabalho de comunicação na área da saúde. Com cerca de 15% da população contaminada pelo vírus da AIDS, uma das alternativas de combate à epidemia são cartazes com dizeres: ?Seja fiel?; ?Diga não ao sexo sem proteção?; ou ?AIDS mata?. ?Somos mais complexos que isso. Sem uma mudança social é quase impossível um individuo mudar seu comportamento?, diagnosticou a executiva sênior do projeto Harriet Perlman.
Para tentar modificar a realidade social, um dos trabalhos desenvolvidos pelo instituto é a série de televisão Soul Buddyz, que dialoga com os jovens sobre temas presentes nas suas vidas. A partir do programa, diversos jovens formaram clubes para discutir as questões levantadas.
Com especificidades diversas, cada programa já começou a influenciar políticas públicas. ?Ocupamos espaços que deveriam ser preenchidos pelo poder público. Mas o importante é que a comunidade se aproprie dos instrumentos e solucione os seus problemas, mostrando ao Estado como deve ser feito?, conclui Pena, coordenador do Saúde e Alegria.
Fonte: Aprendiz (aprendiz.uol.com.br ), com base em matéria de Alan Meguerditchian