O parque eólico brasileiro está em franco desenvolvimento, segundo o diretor de Tecnologia da Eletrobrás, Ubirajara Rocha Meira. Ele informou que a potência total instalada de energia eólica (produzida a partir dos ventos) no Brasil atinge cerca de 103 mil megawatts (MW). Desse total, 1.422 MW são energia eólica contratada por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), o que corresponde a cerca de 1,5% da potência total instalada no país.
?É um valor ainda pequeno, comparado com a matriz mundial porque, em nível de mundo, você tem hoje na área eólica em torno de 120 mil MW, com base em dados de dezembro de 2008?, disse Meira. Segundo ele, o Brasil apresenta particularidades em relação ao resto do mundo. A matriz brasileira é preponderantemente renovável. E a participação hidrelétrica dentro dessa matriz é forte, tem crescido e apresenta tendência de ampliação.
O diretor da Eletrobrás ressaltou, no entanto, que o Proinfa estimula fontes alternativas de energia, salientando as fontes eólica, biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). ?Com isso, o governo sinaliza o desejo de incrementar essas três alternativas dentro da matriz. E é isso que está ocorrendo?, disse Meira.
Em todo o mundo, a energia eólica vem crescendo de forma exponencial, afirmou. ?E no Brasil não está sendo diferente?. Ele citou que, em 2006, a energia eólica somava 271 MW no Brasil. Hoje, se aproxima de 2.000 MW. ?Ou seja, em dois anos é um crescimento de quase dez vezes. Isso é uma demonstração de que o governo está investindoe incentivando bastante as fontes alternativas de energia, com destaque para a energia eólica?.
A região Nordeste concentra atualmente os indicativos e características meteorológicas favoráveis a esse tipo de instalação. Meira destacou, porém, que também o Sul e o Sudeste brasileiros apresentam intensidade razoável de ventos, em especial no estado do Rio Grande do Sul. A participação da energia eólica na matriz energética brasileira oscila hoje na faixa de 1% a 2%.
O diretor da Eletrobrás acredita que o governo vai adotar nos próximos meses políticas mais ousadas com relação às fontes alternativas, e a energia eólica vai aumentar sua participação dentro da matriz. Ele lembrou que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou recentemente que, no primeiro semestre de 2009, será aberto leilão para contratação de energia eólica.
?Essa é a maior prova de que o governo está incentivando a energia eólica no Brasil.É um indicativo de que o governo está apostando nas energias alternativas. E a [energia] eólica está presente dentro desse contexto?, concluiu Ubirajara Rocha Meira.
Cientistas defendem mais incentivos
Segundo estudo feito pelo físico Fernando Barros Martins, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo o potencial eólico brasileiro fosse convertido, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Isso representa mais da metade do consumo brasileiro, que estava em torno de 424 Twh/ano, de acordo com dados referentes ao ano de 2006.
Atualmente, o Brasil utiliza menos de 1% desta tecnologia e de acordo com o responsável pelo Laboratório de Instrumentação Meteorológica do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), o físico Celso Thomaz, o pouco aproveitamento deste potencial eólico se dá principalmente por dois fatores: o econômico e o cultural.
?O preço do aerogerador ainda é muito alto. Dentro do nosso sistema não compensa trocar de tecnologia. É muito mais barato queimar combustível, ainda que isto esteja comprometendo a sobrevivência do planeta. O outro fator de entrave é que o Brasil não tem a cultura de buscar essas fontes alternativas de energia, embora a gente tenha um clamor muito grande dentro da mídia, dentro da própria sociedade com o aquecimento global?, avaliou Thomaz.
O chefe do Grupo de Energia e Meio Ambiente, doutor em geofísica Ênio Bueno Pereira, acredita que o maior problema não é tanto o financiamento, mas de mão-de-obra. ?Não há reposição de pessoal para manter o conhecimento, embora o Brasil tenha excelentes institutos de pesquisas. Não adianta formar novos cientistas, pesquisadores. O governo tem que fixar, contratar esses cientistas. Precisamos ter uma carreira estável; o conhecimento científico é um bem de valor incomensurável, tem uma latência muito grande. Ocientista estuda muitos anos até que ele possa retribuir esse conhecimento para sociedade?, analisou Pereira.
?O incentivo que o governo tem oferecido na área de energia renovável ainda é pouco, o governo tem que dar subsídios, como fez com Pro-álcool, que se tornou referência no mundo todo. O Brasil tem sol durante o ano inteiro; somos um país tropical e não temos quase nada para a energia solar, por exemplo. Temos que apostar nessas energias renováveis para substituir as fósseis. Sabemos dos estragos feitos pelos países desenvolvidos, injetando grande quantidade de CO2 na atmosfera. Nossa responsabilidade é muito grande. Não podemos cometer os mesmos erros desses países no passado?., acrescentou Pereira.
Para o pesquisador da área de energia eólica do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel) Antônio Leite de Sá, a energia eólica só decolou um pouco no nosso país graças ao Programa de Incentivo de Fontes Alternativas da Eletrobrás (Proinfa). ?Agora já vamos ter leilões específicos para energia eólica, e isso vai ajudar ainda mais, vai melhorar muito, seremos uma boa opção, principalmente no período da seca, quando os níveis de água ficam baixíssimos, e é justamente nessa época que os ventos são mais fortes. Antes, durante a seca, a Eletrobrás ficava dependendo de energia térmica, cujo preço é alto e não é uma energia limpa como a eólica?, defendeu o cientista.
A Alemanha é uma das maiores economias do mundo a incentivar a energia renovável: cerca de 23% da energia que o país utiliza é eólica.?Na Alemanha e em outros países da Europa eles utilizam o medidor bidirecional. Qualquer pessoa, que tenha condições financeiras, pode instalar um gerador ou vários geradores na sua fazenda, por exemplo, e a energia excedente, aquela que não consumiu, pode ser vendida para a distribuidora e retornar para a sociedade como energia limpa?, acrescentou o pesquisador Leite de Sá.
Atlas Eólico
O diretor de Tecnologia da Eletrobrás, Ubirajara Rocha Meira Meira, lançou, no dia 9 de janeiro, em Maceió (AL), o Atlas Eólico de Alagoas, resultado de convênio entre a estatal, o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec) e a Universidade Federal de Alagoas (Ufal).