?É muito importante que a escola reconheça a diversidade para que o currículo esteja relacionado com a cultura dos alunos e com suas experiências?, afirmou a professora da Universidade Aberta de Lisboa, Darlinda Moreira, que esteve presente em São Paulo (SP) para o Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos, realizado entre 22 e 26 de abril.
Licenciada em Matemática, a professora tem voltado suas investigações para o estudo da etnomatemática e da educação matemática em salas de aula multiculturais. Em Portugal, de acordo com dados do ano de 2005/2006, divulgados por Darlinda, as escolas têm alunos de mais de 120 nacionalidades, sendo que mais de 47% são de países africanos.
Para a pesquisadora, essa diversidade se expressa na sala de aula por meio da língua, dos comportamentos, dos hábitos, das formas de valorizar o conhecimento e também pelo modo como cada um confere sentido à aprendizagem escolar.
Darlinda orientou uma pesquisa que buscava compreender como crianças ciganas do primeiro ciclo do Ensino Básico realizavam os cálculos matemáticos. ?Eles fazem as contas de cabeça, através do cálculo mental e por isso sofrem preconceitos?, comentou. Também utilizam estratégias alternativas das apresentadas pelo professor. Para chegar ao resultado da divisão (369:3), por exemplo, um dos estudantes optou por distribuir o algarismo em unidades pelo divisor 3, passando pelas dezenas e centenas.
Diante do envolvimento de culturas no processo de construção do conhecimento, a escola precisa reconhecer essa diversidade de saberes e integrá-los nas práticas de ensino-aprendizagem. De acordo com Darlinda, ao ser incluída no contexto escolar, essa pluralidade contribui para uma cultura de paz e para uma educação que respeita a pessoa, buscando a tolerância. ?Isso se reflete no futuro em oportunidades de organização social mais justa?, completou.
Identidade e diversidade na África do Sul
O diretor do Projeto para o Estudo da Educação Alternativa na África do Sul (Praesa), da Universidade de Cape Town, o linguista Neville Alexander, concorda que a educação é fundamental para a construção da paz.
No caso da África do Sul pós-Apartheid, a educação se insere no debate em torno das identidades raciais e da construção da nação. ?Temos a oportunidade de fazer algo diferente, mas como a escola pode trabalhar a questão das identidades nacional e racial??, refletiu Alexander.
Para o linguista, a identidade social é construída e pode ser reconstruída. O importante é incorporar nesse processo a promoção dos direitos humanos para a dignidade humana.
Um dos desafios da educação sul-africana é o trabalho com a diversidade linguística que reflete a situação das diferentes etnias. O Praesa, por exemplo, procura promover o bilinguismo na educação, ajudar os professores a lidar com os desafios do trabalho em salas de aula multilingues e colaborar para o desenvolvimento de materiais para o uso de crianças.