Como as pessoas com deficiência visual conseguem se “virar” num mundo dominado por textos e imagens? Foi pensando na interação desse público com os meios de comunicação que as alunas de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Flávia Reis, Fernanda Santos, Eliziane Lara e Luísa Naves desenvolveram, como projeto de conclusão de curso, a ?Realejo?, revista em áudio destinada a deficientes visuais adultos.
Com tiragem de 200 exemplares em CD, a revista é voltada para um público com grandes dificuldades de acesso à informação, já que nem todos são alfabetizados ou leitores em braile. “Esse público não tem acesso amplo ao conteúdo baseado em imagens e textos impressos, como alguém que enxerga”, afirma Flávia Reis. Segundo ela, o objetivo é oferecer um produto para os deficientes visuais, e não apenas adaptações de mídias impressas: “A revista tem linguagem simples, transportamos para o som o maior número de referências em imagem, agregando mais informações”. As reportagens, de até 10 minutos, tratam de temas como esporte, política, literatura e inclusão social.
Para a gravação, o grupo optou pelo CD comum (wave), levando-se em conta que nem todos os deficientes visuais têm computador ou som com MP3. A escolha contempla ainda a proposta de lançar uma revista portátil para ser ouvida em qualquer lugar.
FundamentaçãoPara fundamentar o projeto da revista, o grupo iniciou, em abril de 2006, pesquisas bibliográficas e constatou grande defasagem, no campo da comunicação, de estudos sobre acessibilidade e inclusão social do deficiente. Para suprir parte dessa lacuna, as estudantes elaboraram um manual de redação. “Formamos um grupo de sete deficientes visuais para debater a relação deles com a mídia. Ao identificar como eles absorvem a informação da TV e do rádio, foi possível elaborar um roteiro de como desenvolver projetos para este público”, comenta Flávia Reis.
O mesmo grupo avaliou a revista e manifestou interesse em adquirir uma segunda edição, desde que a um preço acessível. Junto com os exemplares, o grupo distribui um questionário para obter informações sobre o que o deficiente absorve das mídias tradicionais e os assuntos de sua predileção. Exemplares da publicação foram distribuídos em entidades de assistência a pessoas com deficiência, como o Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte.
As estudantes enfrentaram dificuldades na captação de recursos para a reprodução e distribuição da revista. “Isso talvez se deva ao fato de que as empresas não vêem o deficiente como um consumidor em potencial”, argumenta Flávia Reis, ao lembrar que boa parte dos patrocínios e doações foram oferecidos com base na política de responsabilidade social das organizações. Cada cópia da revista teve um custo médio de R$ 2.
Segundo Flávia Reis, para que o projeto da ?Realejo? tenha continuidade é preciso que seja financiado por alguma lei de incentivo à cultura ou assumido por empresa ou organização. A tiragem piloto da publicação custou R$ 400,00. “Tudo foi feito de forma voluntária, com o suporte institucional e tecnológico da UFMG”, ressalta a estudante.
A publicação foi lançada em novembro, durante a 1ª Jornada de Inclusão da Pessoa com Deficiência: Vitória pela Arte, realizada em Belo Horizonte. A apresentação do projeto no curso de comunicação foi no dia 14 de dezembro.
Fonte: Boletim UFMG (www.ufmg.br/boletim ), com base em matéria de Tatiana Santos