Avaliar a associação entre distúrbios psíquicos menores, como ansiedade e depressão, entre mulheres de 15 a 49 anos vítimas de violência. Esse era o objetivo do estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia e da Secretaria de Saúde da Bahia, com mulheres atendidas em um hospital de emergência em Salvador. A pesquisa concluiu que 77,3% das 273 mulheres examinadas demonstraram sofrer de algum distúrbio, mas que o setor saúde ainda não trata adequadamente da questão.Publicada na revista ?Cadernos de Saúde Pública? da Fiocruz, a pesquisa apontou que das mulheres estudadas, 30% declararam ter sofrido violência física e psicológica, enquanto 22%, além dessas duas modalidades, também sofreram violência sexual. Os pesquisadores consideraram agressão sexual a prática de sexo contra a vontade, com medo, considerada humilhante ou para não contrariar o parceiro. A partir de questionários e entrevistas, os pesquisadores investigaram três tipos de violência: física, sexual e psicológica. Das participantes do estudo, 81,3% já sofreram agressão física alguma vez na vida. No entanto, 67,8% comentaram terem sido vítimas de mais de um tipo de violência. A violência psicológica foi narrada por 67% das mulheres. Das mulheres vítimas de violência psicológica, 68,3% disseram que foram assustadas, ameaçadas e amedrontadas, enquanto as demais sofreram xingamentos, ofensas e humilhações.Segundo o estudo, a violência física resultou em lesões (em 49,8% das mulheres); cortes leves (30,4%), perfurações penetrantes (15,9%) e hematomas (16,6%). Também foram aconteceram relatos de lesões mais graves como traumatismo craniano (5,7%) e até aborto (2,8%), o que configura ocorrência de violência na gravidez.A prevalência de distúrbios psíquicos menores foi 26% maior em mulheres que foram amedrontadas, assustadas ou ameaçadas e que relataram tapas e bofetadas. Já as que sofreram estrangulamento, queimaduras ou foram feridas com arma ou objeto apresentaram 24% de chances de adquirirem esse tipo de transtorno. Mulheres com filhos apresentaram prevalência de 78,8% de distúrbio psíquicos menores. Já as sem filhos mostraram uma prevalência 7,2% menor. Nas agredidas por parceiros, a taxa foi de 77,9%. Por outros agressores, a prevalência foi de 76,1%.Os pesquisadores apontam que a própria mulher, ao prestar a queixa, percebe os efeitos da violência sobre a saúde, mas que o problema não recebe a conduta médica devida caso a agressão não seja visível exteriormente. “O problema permanece invisível ao setor, não sendo sequer registrado em prontuário e quando isto ocorre o atendimento resume-se ao tratamento das marcas deixadas pelo corpo”, esclarecem. O estudo recomenda que a equipe de saúde se prepare para ?não só identificar a violência, mas também notificar, prevenir seqüelas e encaminhar as vítimas aos serviços de apoio mais adequados à situação de violência”.