Pesquisa feita pelo professor Jair Licio Ferreira Santos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Usp) de Ribeirão Preto, em 2000, indica que idosos com mais riscos de ter dificuldades para executar atividades diárias, as chamadas AIVDs – sair sozinho de casa, comprar comida, administrar dinheiro, usar telefone, ter dificuldades para tomar remédios -, são os que sofrem de duas ou mais doenças, não sendo idade o fator decisivo. O objetivo do estudo – que faz parte do Projeto Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), realizado em sete países de América Latina e Caribe – foi traçar o perfil de condição de vida, saúde e bem-estar de idosos no município de São Paulo. Foram realizadas 2.143 entrevistas com homens e mulheres com mais de 60 anos. Além da idade, a pesquisa considerou gênero, renda, escolaridade, etnia, doenças, atividade física e consumo de álcool De acordo com o professor Jair Licio, o estudo trouxe importantes indicações para o setor de saúde. ?As dificuldades sofridas na AIVD estão diretamente relacionadas à participação comunitária e social menos intensa e à diminuição da qualidade de vida. Um atendimento mais adequado e um cuidado mais eficiente podem propiciar melhoras nessas condições?, disse. Os idosos entrevistados foram divididos em grupos com faixa etária de 60 a 75 anos e acima de 75 anos. Idosos que responderam afirmativamente a pelo menos uma das cinco questões propostas, que envolviam questionamentos acerca de atividades comuns do dia-a-dia, como sair sozinho de casa para ir ao médico, foram considerados portadores de dificuldade, percentual que correspondeu a 21,6% dos entrevistados.Dados da pesquisa demonstraram que entre idosos com mais de 75 anos, 48,9% das dificuldades apontadas têm relação com a idade. Entre os voluntários com idade entre 60 e 75 anos, a porcentagem caiu para 15,3%. ?Estudos anteriores já mostravam o crescimento do número de dificuldades nas atividades cotidianas com o aumento da idade?, afirmou Santos. Em relação à variável ?ter duas ou mais doenças?, 31,3% dos entrevistados com mais de 75 anos assinalaram afirmativamente, contra 13,2,% dos com idade entre 60 e 75 anos. A análise de dados aponta que a presença de duas ou mais doenças é a variável mais importante para determinar dificuldades na execução de atividades cotidianas, seguida pelo fator idade, que aumenta as chances em 3,4 vezes. Depressão, gênero e álcool No que se refere à depressão, o estudo revelou que 34,4% dos idosos entrevistados apresentavam sintomas da doença. ?A depressão no idoso é muito prevalente, geralmente não valorizada ou considerada como alguma outra ?manifestação da idade?. Sabe-se que ela está associada à presença de outras doenças, ao maior risco de óbito e, conforme se comprovou neste estudo, à maior presença de dificuldades nas AIVDs?, afirmou o professor.De acordo com o pesquisador, a variável ?gênero? também foi significativa. ?Ser do sexo feminino representa 67% a mais de chances de ter dificuldades nas AIVDs. Entre os homens, 13,4% relatam ter alguma dificuldade, porcentagem que aumenta para 27,1% entre as mulheres.” No grupo sócio-demográfico, segundo Jair Licio, a variável ?dinheiro suficiente? não apresentou resultado significativo, embora ?renda? tenha alcançado percentual de 35,2%. ?Interessante notar que embora a renda seja importante, a disponibilidade de dinheiro não o é: isto é uma indicação de que são as condições de vida ligadas ao passado ? que determinam a renda de hoje ? que têm efeito nas AIVDs, e não a disponibilidade do dinheiro?, explica Santos. Em relação à variável ?consumo de álcool?, a pesquisa aponta resposta afirmativa de 8,4% dos idosos acima de 75 anos, contra 28,3% para o grupo de 60 a 75 anos. Segundo o pesquisador, o resultado ainda vai ser confirmado, mas deve representar ?apenas a maior possibilidade de ingestão de álcool pelos idosos que não apresentam dificuldades nas atividades do dia-a-dia?. Segundo artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo deve prosseguir com entrevistas, que serão realizadas a cada cinco anos com idosos sobreviventes do número original entrevistado em 2000. Em cada etapa um novo grupo é acrescentado para completar a amostra. ?O trabalho conseguiu avaliar a importância de cada fator na prevalência das dificuldades. A equipe de pesquisadores do projeto Sabe investe agora nos estudos de incidência. Isso se tornou possível porque a pesquisa prosseguiu por meio de entrevistas realizadas em 2006 com remanescentes dos 2.143 idosos que haviam sido entrevistados em 2000. Essa nova fase conta também com apoio da Fapesp, pretendendo-se trazer mais e melhores subsídios para pesquisadores e formuladores de políticas de atenção ao idoso?, disse Santos.