Os executivos brasileiros estão bem familiarizados com o conceito de responsabilidade corporativa, mas a prática ainda deixa a desejar. Foi o que mostrou um estudo conduzido em três setores da economia brasileira – papel e celulose, alimentos e bebidas; e energia elétrica. A pesquisa foi feita pela escola de negócios suíça Institute for Management Development (IMD) e pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), entidade sem fins lucrativos voltada à pesquisa. A pesquisa foi realizada com 15 empresas, cinco em cada ramo de atuação. O setor de papel e celulose apareceu com destaque com práticas mais avançadas, como investimentos em pesquisa e aprimoramento genético de espécies, gestão ambiental e inserção de pequenos produtores na cadeia de fornecedores, por meio de programas de fomento florestal. A responsabilidade corporativa, conceito que alia a gestão de uma empresa com boas práticas sociais e ambientais, não aparece como prioridade entre os produtores de alimentos e bebidas. Entre as empresas de energia elétrica, essas práticas também não aparecem de maneira sistemática.
“Em linhas gerais, podemos dizer que a questão ambiental preocupa as empresas, mas a atuação social ainda carrega um ranço paternalista. Muitas empresas ainda direcionam recursos para projetos filantrópicos”, diz Clarissa Lins, coordenadora do estudo da FBDS.
A pesquisa foi realizada durante um ano e ouviu 84 executivos ligados às empresas. Faz parte de um estudo maior conduzido pelo IMD em todo o mundo, cujo objetivo é mapear as práticas de sustentabilidade das companhias. Entre os executivos ouvidos, 54% disseram estar familiarizados com o tema, e 60% declararam ter muita disposição de implementar o conceito.Um dos principais desafios, segundo Clarissa, é incorporar o conceito da sustentabilidade – um novo modelo de gestão capaz de trazer ganhos ao mesmo tempo econômicos, sociais e ambientais – no dia-a-dia dos negócios. “As empresas que têm o conceito mais arraigado são aquelas com presença nos mercados externos, que exportam, ou subsidiárias de grandes multinacionais, que cumprem diretrizes da matriz”, diz.
Carbono
Um exemplo positivo na indústria de alimentos é a Sadia, que na semana passada fechou seu primeiro contrato internacional para venda de créditos de carbono no mercado internacional, a partir da captação de gases em criações de suínos, foco de seu programa de suinocultura sustentável. Desde 2004, por meio de seu Instituto, a empresa vem instalando biodigestores – espécie de tanque coberto que transforma o gás metano gerado pela fermentação dos dejetos dos suínos em gás carbônico, menos poluente – nas granjas próprias da empresa e nas propriedades de 3 mil produtores integrados, que fornecem a carne à companhia. O gás poluente deixa de ir para a atmosfera e ainda pode ser usado para gerar eletricidade nas propriedades.