As favelas do Rio são os locais de maior concentração de crianças e adolescentes que deixaram a escola, de acordo com levantamento da Casa Fluminense, com base no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud 2013). A Rocinha, com incríveis 17,1%, lidera a lista, seguida por Jacarezinho, com 14,5%. Enquanto a média da cidade é 3%, nas cinco maiores comunidades ela vai a 10,3%.
“Se a estatística feita em Copacabana fosse desmembrada, separando morro e asfalto, certamente o percentual dos sem-escola aumentaria muito nas favelas. Não ficaria nos 2,6% atuais, média retirada do bairro inteiro”, argumenta o economista Mauro Osório, coordenador do Observatório de Estudos sobre o Rio de Janeiro e professor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.
Quando se soma os números da evasão em cada comunidade carente que se tornou Região Administrativa, a realidade torna-se mais dura: 3.054 alunos com idade de 6 a 14 anos abandonaram os bancos escolares em apenas cinco favelas — Rocinha, Jacarezinho, Alemão, Maré e Cidade de Deus.
Os números ficam mais preocupantes a partir dos 10 anos, quando se verifica aumento significativo de casos. Mas é a partir dos 12 anos que o cenário torna-se desolador. A faixa de adolescentes com 14 anos que largaram os estudos é mais do que o dobro em relação às demais idades.
Dos 5.421 adolescentes com 14 anos de idade que deixaram as salas, 3.865 estão na Zona Oeste. “Ou porque é extensa territorialmente, ou porque cresceu muito, aquela região concentra os maiores bolsões de evasão. E foi onde iniciamos nossas ações, em 2013”, diz Eliana Souza Silva, uma das fundadoras da Casa Fluminense que atua no projeto Aluno Presente, principal arma da prefeitura para cumprir seu compromisso de chegar a quase 100% dos alunos na escola até 2016.
Mais planejamento
De acordo com Mauro Osório, é importante também que se crie uma cultura na máquina governamental para que os avanços alcançados sejam permanentes.
“O governo deveria ter uma Secretaria de Planejamento com orçamento territorializado. Por exemplo, saber quanto se gasta no Alemão e quanto seria preciso para solucionar suas demandas. Isso permitiria enfrentar as desigualdades territoriais, com transparência e num debate mais democrático. Haveria uma melhor aplicação dos recursos”, aponta.
Segundo Osório, a boa educação começa na base. “É preciso uma política para creches em horário integral. A capacidade de um indivíduo é definida de zero a 6 anos, quando se incute nele culturas e autoestima, e ele recebe boa alimentação. Quanto mais pobre é a família, menor sua chance de apoiar a criança”, analisa.
Com informações de O Dia