Colaborar no processo de redução do preconceito contra o portador de transtorno mental. Com esse objetivo, a Associação Chico Inácio e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) organizam, em Manaus, uma série de eventos culturais, entre eles, uma exposição de obras de Arthur Bispo do Rosário. Está prevista para a primeira quinzena de outubro a votação da Lei de Saúde Mental do Amazonas.
A exibição das obras de Bispo do Rosário integra a IV Semana Nacional de Ciência e Tecnologia no Amazonas, que este ano tem como tema ?Terra?, e visa mostrar as concepções de um paciente psiquiátrico sobre o tema. Intitulada ?Segunda Pele?, a exposição teve início no dia 07 de outubro e prossegue até 09 de dezembro, no Centro Cultural Palácio da Justiça, na avenida Eduardo Ribeiro, s/n.
A idéia da exposição nasceu de uma proposta da Associação Chico Inácio – ONG que atua na defesa dos direitos civis e políticos dos portadores de transtorno mental em Manaus, filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que articulou outras instituições para sua realização.
Além da UEA, a exposição conta com apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas (Sect), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas (SEC). A vinda da exposição teve participação, ainda, da psicóloga Nivya Valente, secretária da Associação Chico Inácio.
Outra atividade que visa chamar a atenção para a luta anti-manicomial é a apresentação da peça “O que é e o que não devia ser”, encenada pela Companhia de Teatro Vitória Régia, no Teatro Gebes Medeiros, nos dias 06, 07 e 14 de outubro, às 19 horas. Haverá ainda a exposição de fotografia ?Território?, de autoria Nivaldo de Lima, que retrata a população que mora nas ruas. Lima, portador de transtorno mental e membro da Associação Chico Inácio, foi internado 15 vezes em hospitais psiquiátricos em Recife, onde lhe aplicaram mais de 15 eletrochoques.
Redução do preconceito
Rogelio Casado, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA, enfatizou que a exposição do conjunto dessas obras vem colaborar no processo de redução do preconceito contra o portador de transtorno mental. ?Ganha com isso a cidade que menos possui serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, conhecido no país como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), e que fazem a diferença entre tratar com liberdade ou suprimir a cidadania. Ganha com isso o movimento social ?Por uma sociedade sem manicômios? que quer pôr fim ao modelo de tratamento baseado em hospital psiquiátrico, um modelo com validade vencida. Aprofunda-se, com isso, o sonho dos trabalhadores de saúde mental que vem tecendo os entrelaces entre a cidade e a loucura desde o início dos anos 1980, marco histórico da construção da Reforma Psiquiátrica brasileira em solo amazonense?, disse Casado.
A Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE) deve votar ainda na primeira quinzena de outubro a Lei de Saúde Mental. A Lei dispõe sobre a reabilitação psicossocial de cidadãos em sofrimento psíquico através da substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos no estado do Amazonas por rede de serviços de saúde mental, regulamenta a internação psiquiátrica involuntária, Prevê, ainda, a criação de Centros de Atenção Psicossocial, onde os pacientes irão desenvolver atividades de arte e cultura, remuneradas ou não, voltadas para sua ressocialização, entre outras ações.
A história da proposta de Lei teve na Associação Chico Inácio sua principal protagonista. ?A Lei de Saúde Mental do Amazonas é um marco na trajetória da Associação Chico Inácio, na história da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, e representa um novo período para saúde mental no estado?, destacou o pró-reitor.
Fonte: Universidade do Estado do Amazonas (www.uea.edu.br)