A falta de qualificação profissional é o problema que mais dificulta o ingresso de ex-detentas no mercado de trabalho, de acordo com a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.
Para Lemgruber, o problema está nos cursos oferecidos nas penitenciárias, que há décadas são os mesmos.”Em geral, no mundo inteiro, as mulheres fazem aulas de artesanato, cursos de cabeleireiro, manicure, corte e costura ou bordado. É a mesma coisa há 30 anos”, afirmou.
A socióloga acredita que esses cursos podem ser importantes como terapia, mas são insuficientes para garantir um emprego: “A mulher fica na cadeia e não aprende nada de novo. Acaba mantida naquela visão antiga de se limitar a atividades de dona de casa”.
Para contornar o problema, a especialista sugere cursos de informática, línguas e a obrigatoriedade do ensino fundamental e médio dentro das cadeias femininas. Além disso, parcerias com empresas ou órgãos que pudessem ensinar como ter o próprio negócio.
Segundo a psicóloga Márcia Badaró, sem formação profissional nem emprego digno, qualquer perspectiva de ressocialização da mulher presa entra em risco. Para sustentar as famílias, as ex-detentas podem voltar a cometer crimes.
“Quando saem da cadeia, as mulheres arrebanham seus filhos espalhados e procuram um emprego; o que muitas vezes lhes é negado. Com isso, não têm alternativa, a não ser correr o risco de ganhar mais R$ 50 ou R$ 100 no tráfico de drogas”, explica.
Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do estado, a maior parte das mais de mil detentas da cidade do Rio de Janeiro foi condenada por tráfico de drogas. Elas são conhecidas como ?mulas? – intermediários que transportam pequenas quantidades de droga para os verdadeiros donos. O segundo crime mais comum é o assalto a mão armada.
Marisa Gomes da Silva, 30 anos, é um exemplo da situação apresentada pelas especialistas. Há quatro anos na penitenciária – Joaquim Ferreira de Souza, do Complexo de Bangu (RJ), ela faz planos para a liberdade: “Pretendo sair daqui terminar meus estudos e fazer engenharia elétrica. Aos poucos vou me reestruturar para sustentar meus filhos”.
Marisa não completou o ensino fundamental e na penitenciária onde está a educação termina na alfabetização. Não existem aulas para os demais níveis. Para quem quer aprender um pouco mais a alternativa são os cursos de artesanato, pintura e bordado.
Com informações de Isabela Vieira/Agência Brasil