O papel do urbanismo na construção de uma cidade mais democrática, acessível e menos desigual foi o tema da mesa que abriu o segundo dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014. Para a sul-africana Rene Uren, que é conselheira da cooperação alemã para o desenvolvimento sustentável na área de prevenção de crime e da violência na África do Sul, se a comunidades oferecer dignidade, infraestrutura, equipamentos sociais e serviços básicos, a presença policial não precisa ser ostensiva.
“As moradias feitas pelo governo [sul-africano] têm cerca de 20 metros quadrados, sem paredes internas, que abrigam muitas vezes famílias de oito pessoas”, explicou ao citar que as condições precárias contribuem para a proliferação de gangues e assassinatos. “Na minha comunidade 33 mil pessoas moram em uma área planejada para 3 mil pessoas. Temos uma média de dez mortes a cada 11 dias”, a maioria de adolescentes, ressaltou.
Um dos fundadores do Observatório de Favelas, que desenvolve trabalhos sociais na periferia do Rio de Janeiro, Jailson de Sousa acredita que as políticas públicas de segurança aplicadas em favelas tem como eixo a repressão e a polícia atua apenas para combater a criminalidade. A lógica de guerra e combate está arraigada nos policiais que entram para a corporação, argumentou ele. “Eles não querem ser mediadores de conflitos, trabalhar a pé”, disse. “Precisamos construir um modelo de segurança que incorpore mais a população local que veja a segurança como um direito do cidadão”.
A antropóloga Paula Miraglia, especialista em temas como prevenção da violência, segurança pública e urbanismo, acredita que um dos desafios das cidades hoje é promover a conexão entre a periferia e o centro. Para ela, a violência é resultado das desigualdades estruturais que ainda não foram superadas no país e de um modelo de desenvolvimento que não considera a segurança como um direito, mas como um privilégio garantido pelo setor privado. “As cidades brasileiras não podem ser pensadas como negócio,” defendeu ela.”Temos uma das maiores populações carcerárias do mundo e ainda assim a violência não para de crescer”, disse.
A Flip vai até o dia 3 de agosto. Visite o site do evento: www.flip.org.br.
Com informações da Agência Brasil, Flávia Villela. Edição: Denise Griesinger