No dia 22 de março, Dia Mundial da Água, chegou ao fim na Turquia o Fórum Mundial da Água. O evento vinha sendo realizado na cidade de Istambul desde o dia 16 e teve como foco principal o tema ?Superando Divisores de Água?. Participaram desta quinta edição do Fórum mais 25 mil pessoas. O evento é realizado a cada três anos, desde 1997, por iniciativa do Conselho Mundial da Água, uma organização privada sediada em Marselha, França.
Uma mensagem final oficial do Fórum, preparada por representantes governamentais de 100 países presentes à reunião, foi divulgada na conclusão dos trabalhos e deixou claras as diversas diferenças entre governos e grupos interessados no assunto. O texto desagradou parte da sociedade civil organizada e dos representantes governamentais presentes por não tratar a água como um “direito humano” – reivindicação de ONGs e alguns governos – mas sim como “necessidade humana básica”. O assunto foi um dos mais quentes debates no evento e se refere à definição do conceito de água que se quer adotar: seria um direito humano ou um bem a ser comercializado, como petróleo, gás ou ouro?
A declaração não recebeu apoio de todos os países e muitos deles optaram por divulgar um documento paralelo, afirmando: “reconhecemos o acesso à água e ao saneamento como um direito humano e estamos comprometidos com todas as ações necessárias para a implementação progressiva deste direito”. O documento foi assinado pelas delegações de Bolívia, Uruguai, Guatemala, Equador, Cuba e Chile, recebendo o apoio também de Bangladesh, Benin, Chade, Etiópia, Honduras, Marrocos, Namíbia, Níger, Panamá, Venezuela, Sri Lanka, Suíca e África do Sul. O Brasil havia apoiado a primeira mensagem, que não trata a água como direito.
O Parlamento Europeu também apoiou o conceito de que a água é um “direito fundamental e universal”, de acordo com uma declaração lida por Cristina Gutierrez-Cortinez, membro do Parlamento Europeu representando a Espanha. O presidente da Assembléia-Geral da ONU, Miguel D’Escoto Brockmann, enviou mensagem apoiando o conceito de água como direito humano. Além disso, cerca de outros 250 parlamentares e 100 prefeitos também reconheceram a água como um direito humano básico.
Além da frase polêmica, a mensagem final do Fórum também mencionava alguns compromissos que devem ser assumidos: salvar a água, especialmente na agricultura; lutar contra a poluição de rios e a necessidade de recolher e tratar efluentes líquidos.
A pouca aceitação da declaração final do evento deu ainda mais destaque a outros questionamentos, desta vez com relação à legitimidade do Conselho Mundial de Água para convocar o evento. A organização não faz parte do sistema ONU e tem entre seus membros financiadores alguns grandes de grupos privados do setor de água. Por isso, muitos representantes governamentais e de órgãos da própria ONU ressaltaram a importância de o Fórum – ou evento que se assemelhe – ser realizado pelas Nações Unidas.
“Demandamos que a alocação de água seja decidida em fórum aberto e democrático, em vez de um evento comercial das grandes corporações mundiais”, disse Maude Barlow, conselheira sênior do presidente da Assembléia Geral da ONU. Benin, Bolívia, Chile, Cuba, Equador, Honduras, Panamá, Paraguai e Venezuela pediram que os Estados desenvolvam um fórum global sobre água no âmbito das Nações Unidas.
Independente das várias diferenças políticas, todos os grupos concordaram sobre a severidade da crise de água e do risco que se corre com os possíveis efeitos das mudanças climáticas. Atualmente, a situação já não é boa: segundo dados da ONU, 1 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável. Em 2025, cerca de 40% da população mundial vão estar vivendo em locais com escassez de água.