As propagandas sobre alimentos no Brasil sugerem opções que fazem mal à saúde dos consumidores, revela uma pesquisa feita pelo Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (Opsan) da Universidade de Brasília (UnB). Dados preliminares do estudo foram divulgados no dia 26 de junho. O levantamento, intitulado ?Pesquisa de propaganda de alimentos visando à prática da alimentação saudável?, foi feito entre 2006 e 2007 com recursos do Ministério da Saúde/CNPq.
Para fazer análise das peças publicitárias, professores, alunos e recém-formados do Departamento de Nutrição gravaram durante 52 semanas 20 horas diárias da programação de canais televisivos abertos e fechados. Também foram arquivados nesse período revistas voltadas tanto para o público adulto em geral, feminino e infantil. Os resultados constados pelos pesquisadores assustam: 72% do total das peças publicitárias de alimentos veiculam mensagens para o consumo de alimentos com altos teores de gorduras, açúcares e sal.
Este valor é alcançado com a publicidade de apenas cinco categorias de alimentos: na ordem, os campeões são fast food; guloseimas (balas, chicletes) e sorvetes; refrigerantes e sucos artificiais; salgadinhos de pacote, e biscoitos (doces e recheados) e bolo. “Isso contribui para o aumento crescente e assustador da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, hipertensão e diabetes”, declara a professora Elisabetta Recine, uma das coordenadoras da pesquisa. “E subsidia a discussão sobre a urgência de se regulamentar a publicidade de alimentos.”
Público infantil
Nos canais de TV a cabo destinados preferencialmente ao público infantil a pesquisa chegou a verificar que 50% das peças publicitárias nessas redes são de alimentos. “Isso mostra o direcionamento da publicidade para esse público, no sentido de estimular consumo e formar hábitos alimentares não saudáveis”, analisa a professora. Reunindo canais abertos e fechados, 44% do total desse tipo de propaganda são direcionados às crianças. “O dado é incontestável, porque praticamente metade da publicidade de alimentos na mídia televisiva e dirigida ao público infantil. Por isso identificamos atualmente casos de obesidade, hipertensão e colesterol alto em crianças e com prevalência cada vez mais altas”, avalia.
Quando se trata da análise do conteúdo publicitário destinado à criança, é alta a ocorrência de peças publicitárias com promoções de estímulo à compra, como, por exemplo, a inclusão de bonecos e figurinhas nas embalagens. “Cerca de 20% das propagandas contêm algum tipo de promoção”, afirma Elisabetta.
Mídia impressa
A realidade da publicidade alimentícia em revistas não é diferente. Cerca de 15% do total de peças nesses veículos relacionam-se a produtos alimentícios. Em revistas infantis, como as de história em quadrinhos, esse número é um pouco maior, fica em torno de 18%.
Esses são apenas alguns dos dados preliminares da pesquisa, que tem a intenção de entrar a fundo no mundo publicitário para desvendar elementos persuasivos não tão perceptíveis à primeira vista. “Vamos analisar o tipo de mensagem que é enviada a cada público, os recursos para chamar a atenção, os valores estimulados”, explica Elisabetta. “A meta é entrar nessas estruturas para detalhar quais são os mecanismos utilizados para conquistar o consumidor”, afirma.
Financiada pelo Ministério da Saúde/CNPq, a pesquisa tem o objetivo de contribuir para a discussão sobre a regulamentação da publicidade de alimentos e apontar estratégias para produção de uma futura regulamentação. “Muitos países controlam e até mesmo proibiram a publicidade de alimentos na TV. Há outros que controlam essas propagandas em determinados horários, como o de programação infantil”, afirma a pesquisadora.
Quadro
– 20% da programação das TVs são ocupadas por publicidade. Desse total, 10% são sobre alimentos;
– Foram analisados quatro canais de TV, sendo dois abertos e dois
fechados;
– Nos canais fechados, 50% da publicidade são voltados para o público
infantil;
– A gravação foi feita durante 20 horas durante sete dias de 52 semanas
(entre agosto de 2006 e agosto de 2007), totalizando 4.160 horas de
material coletado;
– Neste mesmo período foram analisadas 18 revistas, sendo 3 destinadas ao público adulto, 8 para o feminino, duas para adolescentes e seis para crianças;
– Cinco categorias de produtos (fast food; guloseimas e sorvetes;
refrigerantes e sucos artificiais; salgadinhos de pacote, e biscoitos e
bolo) são responsáveis por 72% das propagandas de alimentos;
– Reunindo canais abertos e fechados, 44% do total de propagandas de
alimentos é direcionado às crianças;
– Na mídia impressa, cerca de 15% do total de peças publicitárias são de
alimentos;
– Em revistas infantis, esse número é um pouco maior, fica em torno de
18%;
Integram a equipe de coordenação da pesquisa, Elisabetta Recine, Janine Coutinho e Renata Monteiro, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição, da Universidade de Brasília.