A 8ª edição da pesquisa Benchmarking de Investimento Social Corporativo (BISC), que tem como objetivo avaliar a evolução dos compromissos sociais das empresas no país, reforçou informação que já vinha se consolidando nos anos anteriores: de um total de 2 bilhões e 300 milhões de reais de investimento social das grandes empresas, somente 332 milhões foram doados a organizações da sociedade civil. O estudo, coordenado pela socióloga Anna Peliano, mostra que as grandes empresas brasileiras continuam optando por operar seu investimento social diretamente, ou a partir dos seus institutos empresariais.
Iniciada em 2008, a pesquisa BISC é promovida pela Comunitas, em parceria com a organização americana Committee Encouraging Corporate Philanthropy (CECP) e permite também a comparação dos investimentos nacionais, com padrões internacionais.
Os 332 milhões de reais investidos em 2014 pelas grandes empresas foram doados a 1.0009 organizações da sociedade civil brasileiras, uma redução considerável das 1.750 que recebiam apoio em 2011.
Os resultados apresentados refletem um universo de 312 empresas, 24 fundações empresariais, a federação de empresas do setor de indústria do Rio de Janeiro – sistema Firjan –, gestores sociais e lideranças de dez empresas e institutos empresariais, além dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Debates BISC. O grupo foi instituído pela Comunitas com o objetivo de explorar e aprofundar a reflexão sobre temas selecionados pelos parceiros e contribuir para a troca de experiências.
Com base nas tendências identificadas na edição 2014, a pesquisa de 2015 apresenta as novas estratégias para investimentos sociais de empresas e suas implicações para os negócios, bem como as perspectivas dos investimentos sociais e da filantropia no contexto das mudanças na atuação social das empresas. Foram consideradas ainda as recentes alterações nas parcerias com organizações públicas e privadas, além das ocorridas na condução das aplicações sociais obrigatórias.
Panorama
De acordo com o estudo, é possível perceber alguns sinais de recuperação na área, apesar da crise econômica. Em 2014, a economia ficou praticamente estagnada (o PIB cresceu 0,2%), porém os investimentos sociais cresceram 11% em 2014, totalizando R$ 2,3 bilhões. Não foi o bastante para recuperar as perdas de 2013, mas o suficiente para elevar esse montante para o nível alcançado em 2011, quando a economia ainda se beneficiava do ciclo expansionista iniciado em 2009.
Um dado que merece ser destacado é que boa parte da recuperação observada em 2014 deveu-se ao crescimento nos investimentos apoiados em incentivos fiscais, que cresceram 31% em relação aos valores de 2013.
A partir da série histórica da pesquisa é possível observar a clara tendência de crescimento dos investimentos sociais nos últimos oito anos e, nos próximos anos espera-se confirmar a manutenção dessa trajetória.
Foi possível perceber também um movimento por parte das empresas em traçar novas estratégias voltadas para aumentar o impacto dos investimentos sociais. Todos avançaram no caminho de uma revisão da política de investimentos pautada pela busca de alinhamento aos negócios, na qual o fortalecimento da marca e a aproximação das comunidades devem combinar-se de forma equilibrada.
De certa forma, esse novo posicionamento também contribuiu para fortalecer a atuação dos institutos, cujos investimentos alcançaram o maior valor de toda a série, invertendo a tendência de aumento da participação dos investimentos realizados diretamente pelas empresas, que vinha sendo observada em anos anteriores. Isso porque a nova estratégia aponta para a necessidade de combinar duas expertises complementares: a das empresas, no tocante ao alinhamento aos negócios, e a dos institutos, na relação com as comunidades, o que se manifesta na forma de um aumento expressivo dos repasses de recursos das empresas para seus institutos.
Segundo a pesquisa BISC, observa-se também atuações diferentes por parte das várias áreas da empresa: os institutos e as fundações atuam diretamente na execução ou coordenação dos projetos e concentram-se nas atividades educacionais, por exemplo, enquanto os setores de responsabilidade social ou socioambiental se dedicam à condução das atividades de meio ambiente e de assistência social e delegam atividades das mais diversas áreas sociais para as outras unidades da empresa.
As diferenças entre as atividades desenvolvidas pelas empresas e por seus institutos podem ser percebidas também no público-alvo de seus investimentos. Os institutos se concentram mais nos jovens e crianças: 84% e 74% deles, respectivamente, atendem a esses dois grupos. Já as empresas, apesar de também atenderem maciçamente a esses dois grupos, tendem a dispersar mais a sua atuação e estendem as atividades para as comunidades do entorno (88%), adultos em geral (76%) e pessoas com deficiência (65%).
Foco de ação
Segundo Anna Peliano, a área de educação continua sendo a que recebe maior atenção por parte dos institutos e fundações: 70% dos seus recursos para esta área, algo na ordem de R$ 872 milhões, o que representa um aumento de 10% em relação ao ano anterior e de 50% se comparado a 2010. As ações são direcionadas principalmente para a educação formal (19%) e captação de gestores (13%).
Em relação ao local de atuação, existe uma prioridade para atuar nas localidades do entorno dos empreendimentos econômicos: 50% das empresas e mais de um terço dos institutos concentram o seu atendimento nessas regiões. No entanto, como o grupo BISC abrange grandes empresas, as áreas de influência dos seus negócios nem sempre se limitam ao espaço geográfico de suas instalações. Isso explica o fato de que 39% das empresas e dos institutos expandem os seus investimentos para espaços maiores.
Outro ponto que merece ser destacado, de acordo com Anna Peliano, é em relação aos programas de voluntariado, que também têm se expandido nos últimos anos, apesar dos recursos terem diminuido. Nas empresas participantes da pesquisa, em média 15% dos colaboradores são voluntários, o que representa um aumento de 70 mil para 88 mil de voluntários em 2014 em comparação a 2012. Mais de metade das empresas investe cerca de R$ 500 mil/ano nos seus programas de voluntariado.
“Cresce também o entendimento de que os programas de voluntariado devem estar alinhados ao negócio e da necessidade de estimular cada vez mais as lideranças a participar das ações, tendo em vista que trata-se de uma estratégia de ganha-ganha”, destacou a especialista, ressaltando que os dados mostram o potencial para ampliar ainda mais estes programas.
Parcerias
A pesquisa BISC buscou ainda entender de que forma se dão as relações do investimento social corporativo com atores externos. Segundo Anna, as previsões apontavam para o fortalecimento das parcerias com administrações públicas, cadeias de fornecedores e organizações na ponta. O resultado do estudo confirmou esta tendência, sendo que 80% das empresas envolveram organizações públicas no desenvolvimento da suas ações e mais da metade fortaleceu isso nos anos recentes. O relacionamento com as organizações também se manteve em 100% dos casos.
Diante desse cenário, inclusive, a Comunitas organizou um banco de dados a respeito destas organizações a fim de estimular ainda mais as parcerias. Em 2014, o grupo pesquisado se envolveu com mais de mil organizações e transferiu recursos na ordem de R$332 milhões.
Segundo a coordenadora da pesquisa, há fortes indícios de que há mudanças nestas relações, com processos de seleção cada vez mais rigorosos e exigentes, sendo que estão prevalecendo aquelas mais alinhadas aos valores da empresas.
O estudo apontou que, de 2011 a 2014, o número de organizações apoiadas reduziu, mas o recurso aumentou, com o crescimento voltado para aquelas que recebem mais de R$ 100 mil/ano. Houve também a ampliação dos prazos de parcerias, o que pode ter relação direta, na avaliação de Anna Peliano, com o fato de serem privilegiados projetos mais estruturados e maiores.
A BISC 2015 analisou com mais detalhes as relações de parcerias, no que diz respeito a motivações, ações desenvolvidas, maiores beneficios e dificuldades etc. Anna Peliano destacou principalmente os benefícios das atuações conjuntas, como a ampliação do alcance dos projetos e o potencial de gerar transformação; aproximação das comunidades; construção de redes; melhorias das políticas públicas; e legitimidade maior dos projetos. Segundo a pesquisa, 80% consideram satisfatória essa relação, principalmente junto às organizações.
Clique aqui para acessar o relatório completo da BISC 2015.
Fontes: Abong e Gife