Experiência única em todo Brasil, o edifício Darcy Vargas, no centro do Rio de Janeiro, é a sede de 36 diferentes organizações não-governamentais, o famoso Palácio das ONGs – Palong. O recém-lançado ? Palácio das ONGs ? A solidariedade tem endereço certo”, organizado pelo jornalista Marco Teobaldo, conta um pouco da história da revitalização do prédio, antes subutilizado, e das organizações que lá atuam há cinco anos.
A publicação contempla todas as organizações de forma igual, independente do trabalho de cada uma. A cada entidade são dedicadas duas páginas ? uma contando história peculiar de sua origem e outra descrevendo seu perfil, com informações relevantes do trabalho que realiza. A publicação ainda traz um glossário com 27 verbetes comuns ao universo das entidades. “Muitas terminologias não eram de conhecimento geral; o glossário foi quase uma conseqüência do trabalho”, explica Marco Teobaldo.
Outra contribuição esperada com o lançamento da obra é o reconhecimento das ações das entidades, que “terão mais apoio de forma geral, especialmente do poder público para manterem seus espaços”, como torce Heloisa Coelho, presidente da Associação Palácio das ONGs.
“Toda vez que um novo ministro assume, ficamos inseguros em relação à manutenção da política”, revela. Por isso a publicação, que foi enviada para várias instâncias do governo, também tem por objetivo buscar apoio político e evitar um futuro despejo. “A partir do momento que você mostra esses trabalhos tão variados, que beneficiam tanta gente, fica mais difícil tirar a gente daqui”, completa Heloisa.
Para Marco Teobaldo, “a experiência do Palácio das ONGs chama a atenção pela diversidade de trabalhos que reúne em um só espaço. ?Mesmo na diferença, as ONGs se comunicam, reúnem-se em assembléias, trocam idéias e fazem parcerias umas com as outras”, acrescenta o jornalista.
Segundo Roberto Pereira, coordenador do Centro de Educação Sexual (Cedus), que tem cede no Palácio, “o processo de revitalização por que passou o edifício Darcy Vargas é um exemplo de sensatez”. Para ele, além de inovadora, como muitos classificam a iniciativa, a criação do Palácio influenciou a trajetória das entidades lá sediadas. Questões como sustentabilidade, importância de ter um escritório paradesenvolver as ações e possibilidades de parcerias são algumas das reflexões experimentadas por muitas das organizações do Darcy Vargas.
“Além do impacto financeiro por conta da diminuição dos custos com aluguel, que minavam os poucos recursos institucionais, fazer parte da Associação trouxe uma nova e rica experiência de convivência mais próxima e interativa com instituições de diferentes perfis e objeto de trabalho. Deu a todos uma nova dimensão de mobilização social”, acrescenta Roberto Pereira.
A gerente de desenvolvimento institucional da Associação Brasileira Terra dos Homens, Valeria Nogueira, reitera a questão da sustentabilidade explicando que, como as instituições não têm fins lucrativos e vivem através dos recursos de projetos sazonais, não possuem manutenção garantida. “Ter uma sede própria, com custos baixos, especialmente em momentos de transição de projetos, é muito importante”, comenta.
Na visão de Rosangela Castro, coordenadora geral do Grupo de Mulheres Felipa de Sousa, “o que acontece é uma troca. Temos o espaço, mas desenvolvemos um trabalho em conjunto com o governo, trabalhando onde ele não consegue atuar. Esse espaço ainda garante um atendimento de melhor qualidade”.
Já tendo atingido cerca de 1,5 milhão de pessoas nesses cinco anos de atividades, a experiência serve de exemplo, e os inquilinos da Palong esperam sua reprodução em outros imóveis inutilizados pelo governo. Heloisa Coelho acredita que a idéia é uma excelente alternativa para organizações de pequeno e médio porte, que não têm dinheiro para sede própria. “Pode ser uma solução, uma forma de o governo colaborar com o terceiro setor, ao mesmo tempo em que as ONGs mantêm o patrimônio bem cuidado”, aponta.
O lançamento do livro, assim como do site da Palong ? www.palong.org.br ? são o começo de uma série de ações articuladas, pensadas para manter o espaço. Como apontou Rosangela Castro, as organizações se sentem em uma corda bamba. Os associados ainda pensam na realização de um grande seminário anual, que envolveria tanto as ONGs quanto órgãos do Estado, dando destaque para as causas sociais.
A publicação pode ser solicitada pelo site da Palong, na seção “Fale Conosco”. A distribuição é gratuita.
Retrospectiva
Em 1999, por iniciativa de Wanda Engel, então titular da Secretaria de Estado de Assistência Social do governo Fernando Henrique Cardoso, o antigo prédio da extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi cedido para que organizações não-governamentais ali montassem suas sedes. Segundo a presidente da Associação Palácio das ONGs, Heloisa Coelho, o número 275 da avenida General Justo estava subutilizado e servia como uma espécie de depósito. “Um prédio enorme em completo estado de abandono”, lembra.
Na época, muitas entidades não quiseram ocupar o espaço, pois era preciso fazer reformas, e elas não possuíam recursos para isso. Aquelas que aceitaram o desafio precisaram cumprir algumas exigências como ter um trabalho de relevância comprovada, situação jurídica definida e formalizada, além de capacidade para assumir as reformas da sala a ser ocupada.
Além disso, muitas das instituições que foram para o Palácio não se conheciam, por isso decidiu-se criar a Associação, que hoje é responsável pela manutenção das áreas comuns do prédio, possível com o pagamento de uma taxa mensal de R$ 2,50 por metro quadrado. Ou seja, as entidades pagam o equivalente pelo espaço que utilizam.