Cerca de 25 famílias de Maguary, comunidade de seringueiros paraenses incrustada na Amazônia, participam do projeto ?Couro Ecológico?, que visa à produção de bolsas, malas, mochilas e brinquedos a partir do couro ecológico ? feito à base de látex e algodão, imitando o couro animal.
Lançado em 1995, em 2001, a atividade ganhou força com um financiamento da Agência Norte americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que possibilitou uma melhoria na infra-estrutura do espaço usado pelo grupo e a elaboração de um plano de negócios. Em 2004, obteve o apoio do Programa de Apoio ao Manejo Florestal na Amazônia, implementado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud). Com a verba recebida, foi possível aperfeiçoar as técnicas de produção do couro ecológico, o design dos produtos e ampliar os mercados de venda.
As peças fabricadas elevam a renda dos seringueiros e são vendidas na Itália, França e outros países da Europa. Parte das famílias trabalha no processo de extração do látex; os demais, na confecção das peças ? que envolve a aplicação do látex no tecido de algodão, a secagem ao sol e o acabamento final.
“A atividade é uma forma de manter o seringueiro no campo. Há algunsanos, quando a borracha sofreu uma queda no preço, 70% dos seringueiros que viviam da floresta tiveram que ir para a cidade porque não tinham como sobreviver do látex”, conta o diretor de vendas do projeto Arimar Feitosa Rodrigues, um dos coordenadores da Associação Intercomunitária de Mini e Pequenos Produtores Rurais da Margem Direita do Rio Tapajós de Piquiatuba a Revolta (ASMIPRUT). “O projeto melhorou muito a qualidade das famílias envolvidas. Eu nasci e me criei na comunidade e a única fonte de renda que tínhamos aqui era a agricultura familiar, era tudo muito difícil”, diz.Uma família que sobrevive apenas dos produtos que planta, conta Rodrigues, tem uma renda de cerca de R$ 150 por mês, incluindo a ajuda dos programas de transferência de renda como o Bolsa Família. No Couro Ecológico, é possível receber de R$ 250 até R$ 600. “Mas todas as famílias da comunidade acabam sendo beneficiadas de alguma forma. Repassamos 5% do lucro da venda dos produtos para o fundo comunitário, destinado a ajudar na compra de remédios dos que não podem pagar, por exemplo”, explica.
Menção honrosa no Prêmio ODM Brasil 2005
O projeto recebeu menção honrosa no Prêmio ODM Brasil, que contemplou práticas que se destacaram no trabalho em prol dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Em agosto de 2006, ele foi apresentado na Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade como um modelo para ajudar o Brasil a cumprir as metas da ONU. “Isso tudo é um grande incentivo para o nosso trabalho. Ajudou a divulgar os nossos produtos. Muitas pessoas conheceram, ficaram interessadas no projeto, vieram conhecer a comunidade e acabaram contribuindo de algum jeito”, afirma o diretor de vendas.No início de setembro, Rodrigues embarcou para Bolonha (Itália) para expor os produtos em um encontro de cooperativas. Ele adianta que o objetivo é estabelecer parcerias com instituições do exterior e facilitar a venda dos produtos. “As cooperativas fazem um comércio mais justo, não superfaturam os nossos produtos. Tem uma empresa da França, por exemplo, que compra nossas bolsas a R$ 15 e vende no mercado francês a 45 euros (cerca de R$ 124). O valor chega ao consumidor final muito alto”, lamenta.
Fonte: PrimaPagina (www.primapagina.terra.com.br), com base em matéria de Talita Bedinelli