“É fundamental que as políticas de inclusão digital estejam inseridas nas políticas de fortalecimento da educação, da produção cultural, do incentivo à pesquisa, à criação artística, à invenção técnica e da vida social e à inovação de produtos e processos.” Assim o manifesto Brasil Inteligente, lançado em 18 de novembro de 2011, como resultado do 1º Encontro Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), vincula as chamadas TICs (tecnologias de informação e comunicação) a questões fundamentais ao desenvolvimento local. Esses recursos, se bem usados, podem fazer a diferença entre um modelo perverso de cidade e um inteligente.
Com informações Federação Nacional dos Engenheiros.
Esse último conceito tem sido frequentemente adotado nas últimas décadas, face à sociedade do conhecimento, como observou Oswaldo Massambani, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), assessor de desenvolvimento urbano sustentável do município paulista e membro do Conselho Consultivo da CNTU. Segundo ele, traz embutida a capacidade de integração tecnológica e de informação para o bem das pessoas. Assim, possibilitaria por exemplo monitorar o consumo de energia em tempo real, de modo a otimizá-lo, ordenar o tráfego e emitir sinais de alerta para a prevenção de deslizamentos e inundações.
Como explica o especialista, instrumentos como redes de comunicação eletrônica devem ser usados para tornar as cidades mais eficientes no uso de seus recursos, em “redução de custos, economia de energia e qualidade de vida dos cidadãos”. A preocupação ambiental, ainda de acordo com ele, está inserida nesse contexto, com o uso de “tecnologia voltada à economia verde”. Massambani cita algumas cidades no mundo que já contam com grau de automação bastante avançado, como Tóquio, Berlim, Toronto, Bangkok, New York, Yokohama, entre outras. “Cidade inteligente é considerada na medida em que atenda a alguns indicadores”, ensina.
Para tanto, considera algumas ações fundamentais. Entre elas, a implementação de infovias e sensoriamento eletrônico. As primeiras seriam vias de tráfego de informações através de fibras ópticas ou sistemas que irradiam sinais, como wi-fi (sem fio), para uma região da cidade. “Já temos uma importante, que conecta significativa parte do Brasil.” A partir dessa infraestrutura, é preciso ter “instrumentação que permita a coleta de informação”.
De acordo com ele, uma estratégia é contar com uma central de operação que reúna dados sobre consumo de energia e propicie disponibilizar o recurso de forma mais eficaz. Outro caso é o do transporte. Mediante o uso de TIC, é possível ter uma sala de controle para ordenar melhor a mobilidade, por exemplo verificando a demanda e a oferta em determinados pontos e equilibrando os fluxos. Em outras palavras, melhorar a gestão dos serviços públicos nas cidades.
Necessária inclusão digital
Observando que existem iniciativas pontuais em grandes centros urbanos brasileiros – onde se concentram atualmente 80% da população –, entre os quais São Paulo e Rio de Janeiro, ele reconhece que as infovias não alcançam todo o seu território. No país como um todo, projetos inteligentes acabam por reproduzir a desigualdade ainda à espera de solução. Assim, conforme Massambani, enquanto em determinadas aglomerações a informação trafega a velocidade de 10 gigabytes por segundo, nas regiões Norte e Centro-Oeste a capacidade é menor.
“A preocupação é adequar e tornar mais acessível a infovia, evidentemente fazer com que haja inclusão digital. A cidade inteligente tem que partir desse princípio e da sustentabilidade.” Na sua ótica, o planejamento urbano precisa levar em conta esse conceito. O que significa dotar o município de ofertas de trabalho, emprego e moradia próximos, diminuindo os deslocamentos e a poluição atmosférica. “É preciso rever esse modelo em que pessoas necessitam viajar muito. Deve-se redesenhar e reordenar o local pensando-se em uma cidade compacta, de tal modo que se levem todos os serviços do mundo contemporâneo a todos os lugares, de forma eficiente.”
Na concepção da economista e pesquisadora Ceci Juruá, a realidade está bem distante dessa proposta. Membro do Conselho Consultivo da CNTU, ela é categórica: “Pelo contrário, acho que estamos agindo em sentido inverso.” Focando na mobilidade, ela considera que “em todas as médias e grandes cidades do Brasil, as pessoas em geral e os trabalhadores em particular são submetidos a um massacre diário”. O modelo perverso, de predomínio do transporte individual sobre o coletivo, segundo Juruá, urge ser revisto. Nesse cenário, ela lamenta que se tenha abandonado e desmantelado as ferrovias e que não se priorizem projetos para atendimento a passageiros nos grandes centros urbanos. A crítica é ao trem-bala, na sua opinião, um desperdício de dinheiro público tendo em vista outras ações que seriam emergenciais para se resolver o caos no transporte. O equivalente a usar a inteligência para “a dominação, a violência e a opressão”.
A economista acredita que o caminho para transformar esse quadro seria “aprofundar a democracia e resgatar o Estado das mãos do grande capital”. Na busca de um Brasil Inteligente, a CNTU, em seu manifesto sob esse título, além de apontar a importância da utilização adequada das TICs, ressalta a premência de se valorizar a criação nacional de novas tecnologias de informação e comunicação. (Soraya Misleh)