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Locais deficientes são os maiores entraves para pessoas com deficiência


20 de janeiro de 2015

Ter algum tipo de deficiência significa viver uma vida de limitações? Nem sempre. Em geral, essas limitações podem ser muito bem enfrentadas se não houver impedimentos no meio ambiente (barreiras físicas) ou preconceito (barreiras atitudinais).

Como você se sentiria se trabalhasse no 19º andar de um edifício e, todos os dias, ao chegar pela manhã, encontrasse o elevador quebrado? Com os cadeirantes acontece algo parecido diariamente, com o agravante que eles não têm a alternativa da escada (por mais exaustiva que possa ser).

Eles têm de enfrentar ruas esburacadas, calçadas desniveladas, rampas em mau estado de conservação, portas estreitas que não permitem a passagem de uma cadeira de rodas, rampas de acesso a transporte público que não funcionam, falta de vagas especiais em estacionamentos, ausência de sinalização em braile ou sonora. É uma sucessão de impedimentos que muitas vezes inviabiliza sua independência e autonomia.

Num cotidiano onde a falta de acessibilidade é regra, chegamos a ver coisas despropositadas como banheiros acessíveis localizados no segundo pavimento de edifícios sem elevador ou rampa de acesso. Foram construídos para quem mesmo?

Recentemente, Gleyse Peiter, coordenadora geral da Rede Mobilizadores, aguardava, no aeroporto de Brasília, o embarque para o Rio de Janeiro e foi surpreendida, quatro vezes seguidas, pela mudança do portão de embarque, obrigando os passageiros a grandes deslocamentos dentro do terminal. Mas, o que chamou sua atenção foi o fato de que os avisos sonoros que alertavam os passageiros sobre a mudança do portão de embarque não eram acompanhados de alertas luminosos para chamar a atenção de pessoas surdas. Se havia alguém nessa condição em seu voo, certamente deve ter perdido o embarque.

Mas são as pessoas com deficiência quem melhor podem definir o tamanho do impacto da acessibilidade em suas vidas. Em entrevista ao jornal O Globo, em setembro de 2014, Michele Simões, designer de moda, cadeirante e criadora do blog Guia do Viajante Cadeirante, afirmava: “Após a viagem para Boston, voltar ao Brasil foi como retornar a uma prisão. Em Boston, voltei a me sentir independente: pegava ônibus, metrô, andava com meus amigos pelas ruas sem precisar pedir ajuda. Pequenas coisas que me fizeram enxergar a deficiência de maneira completamente diferente. Num lugar acessível, os deficientes transitam mais pelas ruas, as pessoas convivem com essas diferenças sem achar estranho ou sentir pena”. O depoimento deixa claro que a deficiência que mais afeta a qualidade de vida de Michele é da cidade. “Se o lugar não é deficiente, eu não me sinto deficiente”, ressalta ela.

Regina Cohen, arquiteta, cadeirante e coordenadora do Núcleo Pró-acesso da UFRJ, afirma, no site Livro Acessível Universal, que “espaços inacessíveis costumam reforçar e cristalizar a deficiência por serem eles próprios deficientes”. Ela lembra também o peso das barreiras atitudinais: “acho que consegui quebrar o preconceito inicial que existia com relação à minha deficiência e hoje sou vista com mais naturalidade e não como uma pessoa diferente. Foi um respeito conquistado ao longo do tempo e do meu trabalho”.

Além de encontrar barreiras e impedimentos para realizar as ações mais corriqueiras como ir ao banheiro, utilizar um transporte ou acessar um prédio público, as pessoas com deficiência ainda têm de conviver com olhar de pena, estranheza ou desconfiança, como se sua deficiência as tornasse menos humanas ou incapazes para a vida.

Uma pessoa cega ou um cadeirante circulando pelas ruas brasileiras sozinhos, sem necessitar da ajuda de ninguém. Essa é uma causa pela qual todos devemos lutar. Para isso, o desafio é tornar nossas cidades acessíveis e mudar nosso comportamento em relação às pessoas com deficiência.

Em alguns locais, como o Rio de Janeiro, que será a sede dos Jogos Paralímpicos 2016, o desafio é ainda mais urgente. Como a cidade poderá receber atletas com deficiência de centenas de países e assegurar a eles acesso a todos os locais? Como fazê-los se sentir verdadeiramente integrados à cidade?

Derrubar as barreiras físicas depende da nossa cobrança e do empenho do poder público. Mas as barreiras atitudinais têm de começar a ser derrubadas agora, por cada um de nós. Na próxima vez em que estiver com uma pessoa com deficiência, observe-se: você está contribuindo para incluí-la ou apenas reforçando estereótipos e preconceitos?

Texto: Eliane Araujo

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