Pesquisas feitas por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentam indícios de transformações favoráveis na disseminação mais equilibrada das tecnologias da informação e das comunicações (TIC) no mundo nos últimos anos. Um informe apresentado, no início de julho, pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), menciona a existência de ?primeiros sinais animadores? na tarefa de alcançar os objetivos estabelecidos para 2015 pela Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI).De acordo com o estudo da UIT, ocorreram progressos consideráveis para a construção de uma Sociedade da Informação mais rica e mais inclusiva, na qual todos possam participar. Outro documento semelhante, elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), diz que foram percebidos sinais de que a difusão das TIC ?lentamente se torna mais eqüitativa?. ?Essa tendência apresenta um aspecto singular para os países em desenvolvimento, porque a maior parte do crescimento observado nas TIC durante os últimos dois ou três anos se concentra precisamente nessas nações?, disse o chefe da unidade de estratégia e política da UIT, Tim Kelly.Todo o processo que cercou a CMSI, em suas duas fases, a primeira em dezembro de 2003, em Genebra, e a segunda, em novembro de 2005, em Túnis, girou justamente em torno do desequilíbrio no acesso ao emprego das TIC existente no mundo. O secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi, lembrou que ainda existe aproximadamente um bilhão de pessoas ? cerca de 800 mil localidades em todo o mundo ? que ainda carecem de todo tipo de comunicação.Em uma das metas ambiciosas fixadas em Genebra para ampliar o acesso às TIC, a Cúpula propôs conectar todas as aldeias do mundo até, no máximo, 2015. Outro dos objetivos pretende estabelecer, no mesmo prazo, a conexão via Internet entre escolas, hospitais e bibliotecas do planeta. Portanto, os especialistas das duas instituições da ONU já deduzem que as duas fases da Cúpula conseguiram o êxito de elevar o grau de consciência sobre as TIC. Charles Geiger, diretor-executivo da segunda fase da CMSI, ressaltou o enfoque inovador adotado pela conferência ao outorgar responsabilidades para atingir as metas a todas as partes envolvidas: governos, empresários, sociedade civil e organizações internacionais. No processo para a obtenção dos fins da Cúpula será avaliado periodicamente o Índice de Oportunidade Digital (IOD), um método criado pela UIT e outras organizações afins, que permite medir os avanços no acesso às TIC e o aproveitamento das possibilidades que oferecem. O índice varia de zero, equivalente a acesso nulo às tecnologias e a todo recurso semelhante, a um, que representaria o caso ideal de um acesso perfeito.Nessa escala, o primeiro lugar corresponde atualmente à Coréia do Sul, com índice de 0,79. Em seguida aparecem duas outras economias representantes da região Ásia/Pacífico, Japão e Hong Kong, seguidas por duas européias, Dinamarca e Islândia. Depois figuram países previsíveis, como Noruega e Suécia, embora haja surpresas, pois entre os 20 primeiros também estão Estônia e Eslovênia. Kelly atribuiu a presença destes dois últimos países ao compromisso assumido por seus governos na política de expansão das TIC.Supachai disse que a Unctad havia acreditado que a brecha digital se fecharia através de políticas nacionais sobre as TIC, incluindo participação, competição e regularização eficaz do setor privado. E reconheceu que, embora tais políticas tenham ajudado a reduzir levemente a brecha digital em determinadas áreas, ela persiste, especialmente nos países menos avançados. A competição pura não existe nas telecomunicações, e o duopólio (domínio do mercado por apenas duas empresas) é comum, acrescentou Supachai. ?Muitas regiões dos países menos avançados e do mundo em desenvolvimento carecem de serviços ou têm apenas um provedor das TIC?, prosseguiu.Kelly relativizou a importância do índice obtido pelos países nesse aspecto, pois é mais importante que o progresso aconteça durante um período prolongado. Por exemplo, alguns dos avanços mais significativos foram atingidos dessa forma por Índia e China. Durante o período 2000/2005, o índice da Índia no IOD aumentou 73% e o da China, 48%. No caso indiano, cada mês aumenta em cerca de dois milhões o número de conectados às telecomunicações móveis. Na China, os novos clientes somam entre três milhões e quatro milhões mensais, lembrou Kelly.Mas também outros países em desenvolvimento, na África subsaariana e na América Latina, estão se comportando muito melhor. Portanto, ?penso que a maior parte do futuro crescimento do mercado das TIC se verificará nos países em desenvolvimento?, disse o especialista da UIT. Os maiores desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento nesse terreno são, primeiro, a extensão do acesso a todos os cidadãos. Depois, devem garantir que a prestação desses serviços seja econômica e fornecer o mesmo nível de segurança que, ?talvez, disponhamos no Ocidente nas economias desenvolvidas?. Os dois informes, da UIT e da Unctad, serão examinados durante as sessões que o Conselho Econômico e Social (Ecosoc) da ONU realizará ainda em julho em Genebra.Com base em matéria de Gustavo Capdevila, na Inter Press Service.