O ministro da Cultura, Gilberto Gil, visitou os estados do Amapá, Roraima e Acre entre 28 de abril e 2 de maio para lançar programas com objetivo de fortalecer atividades culturais na região Norte. As medidas fazem parte da estratégia do Ministério da Cultura (MinC) para ampliar apoio e investimentos do governo federal em estados da região. Desde 2003 os investimentos no Norte aumentaram 13 vezes, de R$ 2,4 milhões para R$ 31 milhões em 2007.Durante a viagem, Gilberto Gil conheceu a comunidade de remanescentes do Quilombo do Curiaú, no Amapá, e a sede do Conselho das Comunidades Afro-descendentes do estado, onde se reuniu com lideranças quilombolas. Sempre acompanhado pelo secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, Roberto Nascimento, o ministro participou do lançamento do projeto Jornadas Culturais, patrocinado pelo MinC em parceria com o governo do Amapá, que vai promover 40 ações culturais em municípios do estado nas áreas de música, teatro, poesia, cultura popular e artes plásticas e visuais. Na visita a Boa Vista, em Roraima, o ministro da Cultura participou do lançamento do Programa Amazônia Mais Cultura, que prevê disponibilização de linhas de financiamento pelo Banco da Amazônia, principal instituição financeira de fomento da região, para micro, pequenas e médias empresas do setor cultural e operações de micro-crédito. ?Historicamente, o Estado brasileiro investia pouco na região Norte, o que se devia aos governos, mas também era conseqüência da demanda ainda incipiente da própria região, que enviava poucos projetos ao MinC?, disse o ministro Gil. ?Em cinco anos conseguimos mudar parte desse quadro e queremos multiplicar os avanços. Além do Programa Mais Cultura faremos oficinas de capacitação para que cidadãos e produtores do Norte possam elaborar, produzir, captar recursos e gerir projetos culturais?, completou.Lançado pelo presidente Lula em outubro de 2007, o Programa Mais Cultura prevê investimento de R$ 4,7 bilhões na cultura brasileira nos próximos três anos. A iniciativa partiu do diagnóstico produzido pelo MinC em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge) que aponta que 87% dos brasileiros nunca foram ao cinema, 92% nunca estiveram em um museu e 78% nunca assistiram a espetáculos de dança. Os dados mostram também que a população de baixa renda destina cerca de 4% do orçamento mensal para a cultura, mesmo percentual destinado pelas classes mais favorecidas.O Mais Cultura prioriza 11 regiões metropolitanas com maior taxa de violência, locais com baixos indicadores de saúde e de educação, os chamados ?territórios de identidade?, como quilombos, reservas indígenas e comunidades artesanais, e os ?territórios especiais?, como a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e o Semi-árido. Entre as ações previstas está a criação e modernização de bibliotecas para garantir o acesso de todos os municípios do país aos livros e a implantação de 20 mil Pontos de Cultura, que funcionarão como centros de produção e difusão cultural de comunidades brasileiras, através dos quais comunidades indígenas, por exemplo, poderão gravar CDs e vídeos. Também estão previstos apoio a programas de qualidade para a televisão pública e edição e distribuição em todo o país de cerca de nove milhões de livros a preços populares. Ainda está em discussão a criação do Vale Cultura, que funcionaria como uma espécie de ?tíquete-refeição? cultural, voltado para espetáculos e compra de livros e CDs, por exemplo.Segundo o ministro da Cultura, Bahia, Maranhão e São Paulo já aderiram ao programa e agora começam a ser firmados acordos com os estados da região Norte. ?Vários outros estados estão em contato conosco para formalizarem sua adesão. A idéia é envolver todo o território nacional, principalmente áreas e comunidades expostas à violência e fragilizadas em termos sociais, econômicos e educacionais?, disse.Já na visita a Rio Branco, no Acre, Gilberto Gil assinou acordo de cooperação do Programa Mais Cultura com o governo estadual e anunciou o processo de tombamento da Casa de Chico Mendes como patrimônio nacional, o que será avaliado em 15 de maio pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na ocasião, o ministro recebeu de líderes religiosos de comunidades locais o pedido de registro da Ayahuasca, bebida produzida a partir de plantas nativas da floresta amazônica, como Patrimônio Imaterial Cultural brasileiro.Acompanhado pelos secretários de Articulação Institucional, Marco Acco, e de Programas e Projetos Culturais, Célio Turino, Gil visitou também no Acre os Pontos de Cultura Associação Vertente, que atende a crianças da periferia de Rio Branco e oferece cursos de percussão, confecção de instrumentos com sementes, além de aulas de exercícios vocais, dança e ioga, e a Casa de Leitura da Gameleira, que disponibiliza livros para a população e oficinas de formação de agentes incentivadores de leitura e contadores de histórias.De Rio Branco, o ministro da Cultura seguiu para Marechal Thaumaturgo (AC), onde conheceu a Escola Yorenka Ãtame – Saber da Floresta, iniciativa desenvolvida pela comunidade indígena da Reserva Ashaninka, que funciona como espaço de formação, educação, intercâmbio e difusão de práticas de manejo sustentável de recursos naturais da região do Alto Juruá. Ele anunciou parceria com a Rede de Povos da Floresta, organização da sociedade civil que desenvolve ações de inclusão digital, de preservação ambiental e de defesa de povos tradicionais em cerca de 200 comunidades. A parceria prevê o lançamento de 80 prêmios de R$ 15 mil cada para apoiar comunidades que não têm estrutura para se tornar Pontos de Cultura e lhes disponibilizar recursos para desenvolverem ações culturais. O projeto está em fase de elaboração e deve ser lançado no segundo semestre de 2008.Outro Ponto de Cultura visitado pelo ministro foi a Associação Ashaninka do Rio Amônia, que fica na comunidade indígena Apiwtxa, a aproximadamente 80 quilômetros de Marechal Thaumaturgo, nas proximidades do limite com a Reserva Extrativista do Alto Juruá, e o assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Demarcada em 1992 pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a aldeia conta com 400 habitantes, o equivalente a 80% dos Ashaninkas brasileiros.