Em 2010, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) escolheram a Festa do Peão de Barretos (SP), local de intensa circulação de pessoas, para uma ampla ação de incentivo ao cadastramento de doadores desse tipo de célula, cujo transplante é indicado para o tratamento de câncer, principalmente leucemia (câncer no sangue).
A largada para esse esforço foi dada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no dia 19 de agosto. A expectativa é que a ação resulte no aumento do número de doadores de medula óssea no país. ?Em 2000, a probabilidade de se acharem doadores compatíveis no nosso cadastro era de 10%. Hoje, já é acima de 65%. Por quê? Porque em 2003, tínhamos apenas 40 mil doadores registrados. Hoje já são mais de 1,7 milhão de cadastrados?, ressaltou o ministro. ?Só Estados Unidos e Alemanha têm cadastros maiores que o do Brasil?.
MedidasConquistas como essas são resultado da solidariedade dos brasileiros e de um conjunto de medidas desenvolvidas ao longo dos últimos anos, como a realização de campanhas, o aumento dos investimentos no setor e a qualificação de profissionais. De 2003 a 2009, a quantidade total de transplantes realizados no país aumentou quase 60% ? passou de 12,7 mil para 20,2 mil/ano.
Só de medula óssea ? que representa 7,5% do total de transplantes realizados no país ? o número de procedimentos cresceu 57,5%, saltando de 972 (2003) para 1.531 (2009). Essa quantidade considera as três modalidades de transplantes de órgãos: autólogo (com material retirado do próprio paciente), aparentado (com doadores da família) e não-aparentado (doadores voluntários do Redome).
Para alcançar resultados como esses, o Ministério da Saúde aumentou em mais de três vezes os recursos aplicados na área dos transplantes, que passaram de R$ 327,8 milhões, em 2003, para quase R$ 1 bilhão (R$ 990,5 milhões) em 2009.
?Avançamos muito, mas temos de avançar mais. A população brasileira é um mistura de europeus, africanos e índios, tem um perfil genético muito específico. Então, precisamos ter um cadastro representativo de todos os brasileiros?, observou o ministro. ?Sabemos que em Barretos vão estar circulando nos próximos onze dias 700 mil pessoas de todo o país. É uma oportunidade maravilhosa de atrair principalmente os mais jovens para se tornarem doadores voluntários?.
Avanços com o RedomeDesde 2000, quando foi criado o banco nacional de nacional de doadores ? o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula (Redome), sob a responsabilidade direta do Inca ? o Sistema Único de Saúde (SUS) investiu R$ 673 milhões na identificação de doadores para transplantes desse tipo de célula.
A iniciativa produziu impacto direto no total de transplantes de não-aparentados, feitos com doadores voluntários registrados no Redome. Os procedimentos com este perfil de pacientes (que não conseguem doador na família) aumentou 274% em seis anos ? passando de 35 procedimentos, em 2003, para 131, em 2009. Esse número é 140 vezes maior que o total de registros em 2000, por exemplo, quando havia 12 mil voluntários inscritos. O salto se deve, em grande parte, às campanhas publicitárias e ações de sensibilização realizadas pelo Ministério da Saúde e o Inca.
Com isso, o tempo de busca por um doador foi reduzido pela metade: era de um ano, e atualmente está entre quatro e seis meses, período semelhante ao registrado nos Estados Unidos. As chances de se encontrar um doador compatível fora da família são de uma em 100 mil. Quanto maior o número de voluntários inscritos no banco nacional, maiores as chances de os pacientes conseguirem um doador.
Ação em BarretosNa Festa de Barretos, o Ministério da Saúde e o Inca montaram o Estande Rancho do Doador, dentro do Parque do Peão, para a coleta de dados de pessoas interessadas em se tornar doadoras de medula óssea. Profissionais de saúde capacitados estão fazendo o atendimento durante os 11 dias da festa, que vai até dia 29 de agosto, das 13h à meia-noite. A ação é realizada em parceria com o Hospital do Câncer de Barretos e Banco do Brasil.
?Para se tornar um possível doador, é muito simples. Basta preencher uma ficha e colher uma pequena quantidade de sangue para fazer parte deste cadastro brasileiro de solidariedade e capacidade de salvar muitas vidas?, reforçou o ministro Temporão.
O transplante de medula óssea é indicado no tratamento de câncer, principalmente aqueles que atingem o sangue (leucemia), o sistema linfático (linfomas) e para alguns tipos de anemias graves. Esse procedimento é realizado no Brasil desde 1979.
Como se inscrever Para se cadastrar no Redome, o candidato a doador deve se dirigir ao hemocentro da cidade ou região onde mora. Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, com boa saúde, pode se inscrever. A partir daí, é realizado um cadastro dos dados pessoais e a coleta de pequena quantidade de sangue (de 5 a 10 ml) para exames.
Caso o voluntário seja selecionado para a doação, ele será chamado para fazer novos exames. O doador deve manter o cadastro no Redome sempre atualizado, pois poderá ser contatado anos depois. A doação de medula óssea é permitida até os 60 anos de idade.
A doação é um procedimento realizado em centro cirúrgico e requer internação por, no mínimo, 24 horas. O doador não precisa ter medo, pois a medula óssea recompõe-se em menos de um mês. Geralmente, os doadores retornam às atividades habituais depois da primeira semana. Uma pessoa pode doar várias vezes. A orientação é que o paciente espere seis meses para fazer uma nova doação.