Após as últimas eleições presidenciais, no final de 2006, uma parcela da sociedade civil identificou a falta de um projeto de nação bem definido, com pontos que privilegiassem a qualidade de vida da população e o desenvolvimento sustentável do país. Para eles(as), o debate político no Brasil se pautava muito mais na retórica e nos ataques pessoais do que em indicadores ou planejamento. Foi em meio a esse cenário que empresários(as) e grupos como o Instituto Ethos, formaram o Movimento Nossa São Paulo (MNSP). Hoje inspiração para diversas cidades no Brasil, o Movimento pretende se tornar nacional.
A partir de ações cujo objetivo é construir uma cidade mais justa e sustentável, o MNSP se formou definitivamente em maio de 2007. Hoje, o movimento é um exemplo para outras cidades que buscam melhor qualidade de vida e a proteção ao meio ambiente. Principalmente no que diz respeito à formulação de indicadores que englobam saúde, educação e habitação, o Movimento dá o exemplo, em uma iniciativa pioneira.
A construção dos Indicadores de Referência do Bem-estar no Município (IRBEM), pretende orientar o município a atingir o bem-estar de sua população. Somando aos indicadores já existentes e modificando alguns, o IRBEM deve ser definido em janeiro próximo e já atuará na revisão do Plano Diretor da cidade. Estes indicadores são divididos entre as 31 subprefeituras do município e os 96 distritos. Para o Movimento, isso é importante porque é levada em conta a realidade local de cada região da cidade e, assim, a discrepância nos números entre uma área e outra ficam mais evidentes. Por exemplo: segundo dados coletados em 2006, a renda média de um trabalhador na subprefeitura do Butantã é de R$ 2636,00. Já em Cidade Ademar é de R$ 772,00.
Realizações
Maurício Broinizi, coordenador executivo do MNSP, coloca entre as conquistas mais importantes do Movimento a aprovação da emenda que prevê o Programa de Metas para a cidade de São Paulo. A partir disso, todo(a) prefeito(a) eleito(a) deverá apresentar um documento com metas quantitativas e qualitativas para cada área administrativa do município. Para Broizini, essa é uma maneira efetiva de cobrar os(as) administradores(as) públicos(as) que passarem por São Paulo. ?É possível acompanhar e cobrar as metas durante o mandato?, afirma. Outras cidades também já funcionam em um sistema semelhante, como Ilhéus, na Bahia, e Teresópolis, no Rio de Janeiro.
O coordenador do Movimento destaca também a campanha realizada para que a Petrobras e as empresas automobilísticas cumpram o acordo de redução do enxofre no diesel brasileiro, chamada de ?Quero diesel limpo!?. O compromisso é de que, já em janeiro desse ano, o diesel S50, que possui 50 partes por milhão (ppm) de enxofre em sua composição, passe a ser utilizado O diesel mais comum no Brasil possui 2000 ppm e, após novo acordo firmado entre as empresas, ficou decidido que até 2014 ele será substituído por outro com 500 ppm ? 10 vezes mais do que o S50. O diesel menos poluente já está em uso nos ônibus das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Outros objetivos importantes estão prestes a serem alcançados. O MNSP apóia a frente parlamentar pela criação dos Conselhos de Representantes Populares em São Paulo, que permitirá à sociedade discutir e decidir localmente aquilo que é prioridade ou não para cada região, tendo espaço dentro da gestão pública
Inspiração
O MNSP faz parte de uma rede de cidades, composta por 23 diferentes municípios brasileiros, entre eles dez capitais. Trata-se da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis. Essas cidades se viram inspiradas pela formação do MNSP e acabaram formando grupos próprios independentes e sem vínculo governamental.
Entre os movimentos em outras cidades, está o Movimento Nossa Belo Horizonte (MNBH), de Minas Gerais. O MNBH pretende, assim como seu irmão paulistano, definir indicadores socioambientais em conjunto com a sociedade civil e realizar o monitoramento destes indicadores, baseados em diferentes localidades da cidade e em diferentes temáticas.
Com o intuito de se tornar um movimento de expressão nacional, o Movimento Nossa São Paulo também conta com a cooperação das cidades de Belém, no Pará, Ilhéus, na Bahia, Ilha Bela, em São Paulo, entre outras. Maurício Broinizi cita também, parcerias feitas com cidades da América Latina. ?Uma rede latino-americana está sendo montada e contará com cidades como Córdoba e Buenos Aires, na Argentina, além de Lima, no Peru, e Bogotá, na Colômbia, cidade que inspirou a criação do Nossa São Paulo?, conclui.