Duas mulheres: uma no Paraná, outra, em Minas Gerais. Uma matemática, a outra, especialista em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Entre ambas, em comum a percepção de que apenas o despertar de novas consciências, baseadas no respeito à natureza, poderá dar alguma chance à vida na Terra. Cada uma, a seu modo, se dedica a difundir informações sobre a importância de se respeitar, amar e proteger a natureza. A matemática Francisca Lopes Anselmo, de 61 anos, mora desde 1982 num sítio na cidade de Barbosa Ferraz, no noroeste do Paraná e a 443 Km da capital Curitiba. Antes de transferir-se para o campo, ela fundou, em 1976, na casa onde residia, uma escola, inicialmente com uma proposta de evangelização sob a luz dos ensinamentos espíritas kardecistas. Em 92, as aulas ganharam um viés mais holístico, sem abrir mão de seu objetivo original: ?trabalhar com a natureza, resgatar o amor à Terra e a consciência dos seres humanos?.
A matemática dá aulas duas vezes por semana. Seus alunos são, em geral, ?pessoas precisando de algum tipo de alento?. O conforto espiritual caminha sempre associado ao respeito a todas as formas de vida. ?Você tem que compreender a natureza, as plantas, os animais, a terra, pois tudo está relacionado?, ensina.Francisca Lopes Anselmo informa os alunos sobre alimentação natural, dá dicas de como desintoxicar o organismo e de como obtermelhor aproveitamento nutricional dos alimentos. O material didático freqüentemente distribuído na escola fala da escassez de reservas de água doce no planeta; da importância de se recuperar o solo e de proteger a fauna, entre outros temas.
A matemáticadiz que, quando comprou seu sítio, em 82, as nascentes ?estavam devastadas?. Hoje, ela se ocupa do reflorestamento das matas ciliares com espécies nativas e investe na agricultura orgânica. De sua terra, retira gergelim, linhaça, bardana, feijões, verduras e frutas.
?Os agrotóxicos prejudicam não só as pragas: eles destroem a saúde de quem os aplica e de suas famílias, atingindo até as plantações a dois quilômetros de distância?, diz ela. ?Quando chove, o veneno entra pela terra e contamina os lençóis freáticos?, completa Francisca Anselmo, para quem ?a violência nas cidades é um reflexo de todas essas agressões ao planeta?.
Foco nos seres em formação
Em Minas Gerais, precisamente na cidade de Governador Valadares, a advogada e empresária Maria Helena Batista Murta, especializada em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, é outro exemplo de dedicação à causa da saúde planetária.
Proprietária de uma fazenda, ela associa programas de implementação de fruticultura ao reflorestamento com espécies nativas. Mas o bom exemplo expande-se para os seres em formação no Instituto Criança Viva (ICV), ONG fundada e coordenada por ela desde 1998, com a proposta de despertar no público infantil o interesse pela preservação ambiental. O ICV desenvolve programas em comunidades, de forma que a criança aprenda a conhecer a natureza, a amá-la e a respeitá-la.
Professora de Gestão de Recursos Hídricos na UNIPAC-Aimorés, Maria Helena é também diretora de Meio Ambiente daUnião Brasileira para a Qualidade (UBQ)e fundadora e presidente do Instituto Água, na Universidade Tuiuti do Paraná, cujos objetivos pautam-se nos estudos e projetos visando à preservação e à manutenção da qualidade dos recursos hídricos.
Entre seus projetos e ações, ela foca ainda a proteção, o resgate e a recuperação do Rio Doce ? que nasce na cidade de Ressaquinha, na Serra da Mantiqueira ? e de seus afluentes, com ênfase na promoção do desenvolvimento econômico sustentável e social das bacias hidrográficas como um todo.
?A Educação Sócio-Político-Econômico e Ambiental leva-nos à descoberta, ao conhecimento do mundo e a nos comprometermos com a manutenção de suas riquezas naturais, ensinando-nos a valorizar, amar e preservar a vida?, costuma defender.
Maria Helena Murta busca agora parcerias para executar o projeto ?Implantando a Árvore da Cidadania?, que visa utilizar o carvão de bambu ativado com bactéria biológica para limpeza e descontaminação da água poluída; construir de Estações de Tramento de Esgotos – ETEs -; captar a água de chuva e reutilizá-la, e criar peixes. O local proposto para o projeto é o município de Alvarenga ? a cerca de 160 Km de Governador Valadares ?, onde há significativos fragmentos de Mata Atlântica, em altitude superior a 400m.
?Lá ainda encontramos rios e riachos com razoável volume e qualidade de água. Porém, os esgotos não são tratados, e o assoreamento dos rios aos poucos vai se observando, devido às atividades predadoras, incompatíveis com um ambiente sadio e a melhoria da qualidade de vida?, explica.
“A região em que iremos trabalhar é ainda possível de se recuperar. E poderá servir de área de apoio para futuros projetos no entorno. Temos que melhorar o que ainda é possível para se trabalhar o que está pior”.
Fonte: Ambiente Brasil (www.ambientebrasil.com.br), com base em matéria veiculada