O Consulado da Mulher, iniciativa da Multibrás através de sua marca de refrigeradores Consul, é um bom exemplo de como direcionar o investimento social para questões referentes a gênero. Com duas unidades em operação, uma em Rio Claro (SP) e outra em Joinville (SC), o projeto oferece a mulheres de baixa renda oficinas de capacitação profissional, orientação jurídica, inclusão digital, arte e cultura. Além disso, a unidade em Rio Claro mantém a Usina do Trabalho, voltada para a economia solidária e a geração de trabalho e renda.
“A concepção é de um espaço que estimula a cidadania da mulher, e passa por acesso à informação, educação continuada e geração de trabalho e renda”, diz Célia Regina Lara, coordenadora da unidade de Rio Claro. “A idéia é emancipar as mulheres de baixa renda e escolaridade, para que tenham poder de escolha”, afirma a coordenadora.
Em torno de 70% das mulheres que participam das atividades do Consulado vivem sem renda própria ou têm rendimentos mensais per capita de até R$ 300. A entidade mantém as portas abertas ainda para mulheres que estão vivendo em “processo de infelicidade”, na definição de Célia. São vítimas de violência doméstica, exclusão ou discriminação, independente da faixa de rendimentos.
Temas como oportunidades de trabalho e melhoria nas relações entre homens e mulheres permeiam, de algum modo, todas as oficinas e atividades do Consulado da Mulher. O resgate da auto-estima feminina também pontua a ação dos chamados educadores sociais, que lidam diretamente com as mulheres que procuram a entidade.
Economia solidária
Além das oficinas profissionalizantes, o Consulado da Mulher em Rio Claro mantém a Usina do Trabalho, uma “segunda casa” voltada para os princípios da economia solidária, com forte atuação na geração de trabalho e renda. Com orientação de parceiros como a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a Usina atua no incentivo ao empreendedorismo feminino. Lá foram incubadas duas cooperativas, uma de panificação e outra de lavanderia, costura e artesanato, que já têm aproximadamente 20 membros. Para escoar a produção, a Usina mantém uma loja com os artigos de artesanato produzidos pelas cooperadas e uma padaria recém-inaugurada.
Segundo Fabiano de Castilho, coordenador de Geração de Trabalho e Renda da Usina, a idéia é priorizar o desenvolvimento local, para impulsionar a qualidade de vida das mulheres atendidas pelo Consulado. “Os pontos de partida são a articulação, o trabalho organizado e em rede e a ampliação das oportunidades para todos”, diz.
Dados do Ipea e do Dieese
A mulher brasileira de baixa renda é um público pouco percebido pelas empresas quando o assunto é responsabilidade social. Dados de 2006 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), colhidos nas Regiões Sudeste e Nordeste, mostram que os investimentos sociais voltados ao público feminino não passam dos 5%, e, pior, vêm caindo desde 1998. Em 2001, quando o Ipea realizou sua primeira pesquisa de ação social, 13% das empresas declararam dirigir seus investimentos para ações com o público feminino.
O investimento direcionado ao público feminino é pouco uma vez que hoje 42% dos domicílios brasileiros de menor renda per capita são chefiados por mulheres. Desse universo, 40% vivem sozinhas com os filhos, e 25% têm mais de 40 anos de idade e baixa escolaridade, segundo pesquisa de outro instituto, o Dieese.