Não há cidadania sem livro. É o que diz o escritor Milton Hatoum ao falar da realidade brasileira. A declaração foi dada na sétima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
No café ao lado da Tenda dos Autores, que recebeu grandes estrelas da Flip até 05 de julho, Hatoum cobrou ?mudanças estruturais? na política brasileira e o engajamento das prefeituras nas políticas voltadas à educação.
?Eu, que ando muito por esse país, observo que os livros do Ministério da Educação estão chegando às escolas e às bibliotecas. Isso é um alento para quem escreve, para quem dá tanta importância a leitura?, disse. ?Mas política pública tem que ser feita no miúdo, nos municípios.”
Segundo ele, as políticas públicas não devem “obrigar ninguém a ler”. “Mas é um absurdo, para não dizer um crime, você não permitir o acesso à leitura a milhões de crianças pobres no Brasil. A política do livro deve ser uma prioridade de qualquer governo. Não há cidadania sem leitura?, disse.
Hatoum cobrou ainda a valorização dos professores e defendeu a implantação de uma política de salários para a categoria a partir de 2010. ?É uma vergonha que professores ganhem menos do que um salário mínimo. Qualquer país desenvolvido, qualquer país civilizado investiu muito na educação, no livro, na formação dos professores, nos salários dos professores. E isso eu acho positivo.?
Se a educação evolui no Brasil, o mesmo não acontece com a política, disse Hatoum. O autor observa avanços pontuais, sobretudo na educação, que prometem uma ?mudança futura?, mas reclama da demora em mudanças estruturais.
?O Brasil de hoje ainda é desigual e injusto, mas há avanços pontuais que prometem uma mudança futura. Eu sinto falta de uma mudança mais estrutural, ética. Veja o que acontece no Senado?, disse o escritor, em referência à crise política deflagrada após denúncias de irregularidades administrativas envolvendo a Casa.