O Brasil não se preparou para o envelhecimento de sua população e não tem estruturas adequadas para garantir dignidade e autonomia aos idosos. O geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire Neto, afirma que o idoso deve ter direito de cuidado da família e apoio de todas as estruturas do Estado para ser bem tratado em casa. “Não é fácil cuidar de uma pessoa idosa, exige custos sociais e econômicos, é preciso que o Estado esteja junto, com serviços de saúde, porque aquele idoso mais dependente é o que está mais sujeito aos maus-tratos. Temos que agir para que a família tenha qualidade de assistência ou daremos chance para que as situações de negligência aconteçam”, disse.
“aquele idoso mais dependente é o que está mais sujeito aos maus-tratos”
Já a presidenta do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Maria Angélica Sanchez, explica que não faltam políticas brasileiras para garantir o bem-estar do idoso. No entanto, normas como as da Política Nacional do Idoso, de 1994, e do Estatuto do Idoso, de 2003, não foram colocadas em prática pelos governos municipais, estaduais e federal. “No Brasil, o arcabouço legal é avançado, mas o país envelheceu sem estar preparado”, disse.
Segundo a gerontóloga, países europeus, como a França, desenvolveram políticas para evitar o abandono e garantir o mínimo de autonomia para os mais velhos. Em Paris, por exemplo, a prefeitura paga cuidadores para visitá-los todos os dias em casa e ajudar em tarefas básicas, como banho, remédios e comida. Enfermeiros também visitam os idosos e dão atendimento em saúde, evitando o deslocamento para hospitais e a ida para instituições de longa permanência.
Centros-dia
Pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Maria Angélica sugere que, no Brasil, além da ajuda para o idoso continuar morando sozinho, deveriam ser criadas mais unidades com profissionais de várias áreas, onde as famílias pudessem deixar os mais velhos de dia e buscá-los à noite, os chamados “centros-dia”. “Essa é uma forma de garantir que as pessoas não precisem sair do mercado de trabalho para cuidar dos parentes.”
“além da ajuda para o idoso continuar morando sozinho, deveriam ser criadas mais unidades com profissionais de várias áreas, onde as famílias pudessem deixar os mais velhos de dia e buscá-los à noite”
Na opinião da especialista, tais opções desafogam as superlotadas instituições públicas de longa permanência, cuja maioria não tem infraestrutura adequada. “As instituições filantrópicas mais baratas são mal equipadas e têm equipes despreparadas. Algumas são mantidas por organizações religiosas que não têm muitos recursos – a situação é lastimável.”
Instituições públicas de longa permanência
Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2010, mostra que há no Brasil aproximadamente 3.295 instituições desse tipo, sendo a maioria de natureza filantrópica (65,2%) e 6,6% públicas. Nas instituições pesquisadas residem cerca de 100 mil pessoas, das quais 84 mil são idosas, o que representa menos de 1% da população idosa brasileira. Por outro lado, 3,1 milhões de idosos frágeis residem com a família, dependendo de seus cuidados.
Segundo a pesquisadora do Ipea e coordenadora da pesquisa, Ana Amélia Camarano, dois problemas cruciais atingem tais instituições, a falta de apoio e de recursos dos governos federal, estaduais e municipais e o fechamento dos hospitais psiquiátricos. “Os doentes psiquiátricos idosos acabam sendo levados para essas instituições, que não estão preparadas e acabam tendo risco de violência muito grande.”
Para o diretor do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo, Fábio Rodrigues, temos hoje uma sociedade violenta que não se restringe aos idosos. “É uma sociedade competitiva, que exclui e acaba atingindo mais aqueles que estão fora do mercado de trabalho de alguma forma”. Ele ressaltou também a precarização das políticas públicas de atendimento ao idoso.
“a maioria dos casos de violência ocorre dentro da própria casa”
Segundo Fábio Rodrigues, a maioria dos casos de violência ocorre dentro da própria casa, “e não tem quem olhe por isso. Há delegacias de denúncias, mas os serviços de atendimento de denúncias não estão a contento”, disse. Para o diretor, é preciso mais equipamentos, como os centros de referência especializados de assistência social, e que sejam regionalizados, “até porque há idosos vulneráveis na sua situação econômica, e a pobreza acaba sendo uma violação de direitos”.
Cuidar dos idosos é desafio para a sociedade
A coordenadora-geral do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Ana Lúcia, afirma que o desafio de cuidar dos idosos não é só do Estado, mas de toda a sociedade civil. De acordo com ela, é preciso tomar consciência desse processo. “As pessoas não estão se preparando psicologicamente para compreender e assumir o envelhecimento. Existe uma negação, as pessoas querem continuar jovens. Com isso, é muito mais difícil definir o perfil do que será o espaço mais adequado para que possamos ter essa convivência”, explicou, defendendo que ela seja sempre transversal e intergeracional.
Com informações: Agência Brasil
Mesmo ciente da impagável dívida social que o pais tem com os idosos, algumas poucas conquistas das últimas décadas podemos mensurar. A matéria intitulada “os novos velhos” assinada pelo antropólogo Fernando Torres, descreve com bastante otimismo algumas experiências e vivências que demonstram uma pequena mais positiva mudança de olhar, para os nossos idosos. Diante do crescente aumento populacional dessa faixa etária, o aumento da expectativa de vida exige cada vez mais, ações, politicas e diretrizes que resultem numa digna condição de vida para essa sofrida categoria.
Vale a pena ler.http://www.revistaviverbrasil.com.br/plus/modulos/listas/?tac=noticias-ler&id=1004#.Vg119flViko