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Meio Ambiente, Clima e Vulnerabilidade

Nordeste pode enfrentar 4º ano seguido de seca


19 de fevereiro de 2015

O Nordeste tem poucas lições a ensinar ao Sudeste sobre o enfrentamento da seca. Por conta dos programas de transferência de renda, a estiagem crônica do semiárido perdeu a dramaticidade da fome na última década. No entanto, permanece precário o sistema de abastecimento hídrico na região, que pode enfrentar em 2015 um quarto ano consecutivo de seca.

Com nível dos reservatórios em 24%, o Nordeste enfrenta hoje a pior situação de abastecimento dos últimos dez anos, de acordo com André Mavignier, chefe do serviço de monitoramento hidrológico do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

Criado em 1909 e hoje vinculado ao Ministério da Integração, o Dnocs controla 319 reservatórios no Nordeste, que respondem por mais de 80% da água acumulada em reservatórios da região.

No momento, 841 municípios nordestinos estão com reconhecimento federal de estado de emergência vigente. Apenas este ano, 38 decretaram a situação, o que, na prática, significa que a população está dependente de abastecimento por carros-pipa, uma realidade da qual o Semiárido nordestino nunca se livrou.

Entre as situações mais alarmantes está a do Estado da Paraíba, onde 197 municípios estão em emergência. O nível dos reservatórios do Estado está em 21%, quase o mesmo patamar do Ceará (20%), onde o abastecimento pode ser considerada ainda mais problemático, afirma Mavignier. “O problema é que a água restante no Ceará está concentrada em apenas 2 dos 85 reservatórios, deixando ainda mais complexo o sistema de distribuição na região”, diz.

Em Pernambuco, o nível de água acumulada está em 13%, o mais baixo entre os Estados nordestinos. Dos 173 municípios atendidos pela Compesa, estatal pernambucana de abastecimento, 116 passam hoje por algum tipo de rodízio. “Caso a estiagem se prolongue, a tendência é que o número de municípios que estão passando por racionamento cresça”, informa a Compesa.

Nos últimos três anos, as chuvas no Semiárido do Nordeste ficaram abaixo da média histórica e há uma ameaça real de que isso aconteça novamente este ano, diz Marcelo Seluchi, coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Tivemos um novembro bom, um dezembro mais ou menos e um janeiro muito ruim em termos de chuvas”, afirma.

Segundo Seluchi, a previsão é que 2015 seja um ano de chuvas irregulares no Nordeste e, provavelmente, em volume insuficiente para recuperar os efeitos do baixa precipitação região a partir de 2012.

Por conta de problemas climáticos, a região do Mapitoba (que engloba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) reduziu a previsão de produtividade, mas a situação na região não chega a ser crítica em relação ao volume de chuvas, segundo Seluchi.

O problema maior está concentrado nos reservatórios. “Por questões políticas”, afirma Mavignier, nenhum programa de economia de água foi anunciado até agora no Nordeste. “Mas já passou da hora. Deveria ter começado no ano passado”, diz.

O economista Otamar de Carvalho ressalta que, desde 2010, o nível dos reservatórios da região vem caindo e não foram feitos investimentos suficientes em aumento de capacidade de armazenamento de água. Além disso, os açudes (barragens) novos que estão sendo construídos, não podem ter uma capacidade de armazenamento maior por questões ambientais, explica Carvalho.

Os governos estaduais e o federal investiram em um sistema de adutoras nos últimos anos como forma de enfrentar o problema crônico de desabastecimento na região. Em Pernambuco, está sendo construída a Adutora do Agreste, com investimento de R$ 2,5 bilhões. Até que a obra fique completamente pronta, 60% da população do Agreste de Pernambuco – que inclui cidades como Caruaru e também um grande polo de confecções – vive sob esquema de rodízio de abastecimento de água encanada.

Estudiosos do problema das secas defendem que o sistema de adutoras é importante, mas não suficiente para solucionar o problema no Nordeste de forma definitiva, pois sempre dependerá do nível dos reservatórios. Da mesma forma, o programa de implantação de cisternas para uso pessoal e agrícola, também pode ser considerado paliativo.

Desde que foi implementado pelo governo federal a partir de 2011, o programa de cisternas de captação de água de chuvas beneficiou 5 milhões de pessoas, informa o Ministério da Integração. Yony Sampaio, economista da Universidade Federal de Pernambuco, diz que as cisternas são iniciativas de relativo baixo custo e que melhoram a qualidade de vida da população mais necessitada do Semiárido.

No entanto, pondera, a eficácia do sistema no combate a seca é limitado. “Se a falta de chuvas perdurar muito tempo, a cisterna fica vazia e passa a depender do carro-pipa”, explica o economista.

Para Sampaio, o problema da estiagem na região Nordeste saiu do noticiário nos últimos anos por ter perdido o caráter de calamidade, principalmente por causa dos benefícios do Bolsa Família. “A seca nordestina se tornou um problema mais silencioso, mas continua sendo avalassadora para agricultores de médio porte, que não estão incluídos nos programas de transferência de renda”, afirma.

As soluções de longo prazo para o problema da estiagem da região passam pela conclusão das obras de transposição do rio São Francisco. O empreendimento, onde já foram investidos cerca de R$ 6 bilhões, deve ser finalizado em 2016.

Mavignier, do Dnocs, defende ainda que é preciso iniciar investimentos em sistemas de dessalinização para as capitais, onde o consumo de recursos hídricos não para de crescer. “Isoladamente, nenhuma ação é suficiente. Não temos uma lição para o Sudeste, porque o enfrentamento da seca no Nordeste ainda está em curso”, diz Carvalho.

Fonte: Valor Econômico

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Comentários

Um comentário sobre “Nordeste pode enfrentar 4º ano seguido de seca”
  1. Itene Lima says:
    19/02/2015 às 3:28 pm

    Com todas as intempéries sofridas pelos nordestinos, nós temos sim, muito a ensinar. Somos resilientes,possuímos quintais produtivos, um aqui outro ali. Vivemos a constante busca de novas tecnologias, encontramos soluções mínimas e ou paliativas,como aquelas que o governo oferece em tempos de eleições, que nos ajudam a suportar a falta de água e de alimentos, mas não conseguem superar a falta de tudo.Essa resiliência tem superado a falta de investimos das instituições públicas. Saímos do estado de calamidade, para o estado de esquecimento. Em 2015, estamos completando o centenário de uma das maiores, calamidades sofridas pelo Brasil: a “Seca de 1915” que está se repetindo, somos esquecidos pela mídia, pelo resto do país, porém continuamos firmes. Deixamos de migrar para outros estados, somos agora, construtores de nossa própria liberdade, cansamos de esperar milagres de políticos que olham para o resto do país, menos para nós. Quase perdemos o DNOCS, um dia, teremos a capacidade de superar todos os desafios da seca. Um dia descobriremos que tudo depende da nossa capacidade de desenvolver técnicas de sustentabilidade, teremos a educação necessária para aprender a lidar com o que temos. O sol e os ventos nos ajudarão a conseguir a energia que necessitamos e as águas salinizada de nosso lençol freático e do mar serão dessalinizadas e distribuídas a todas as pessoas que necessitarem desse bem tão essencial à vida. Como Israel aprenderemos a usá-la de forma sustentável.

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