Os benefícios do turismo sustentável serviram como base para o Plano Nacional de Turismo 2007-2010, que estabelece diretrizes para o desenvolvimento do turismo de modo sustentável e define 65 destinos turísticos prioritários para aplicação do modelo.Em 2006, o Brasil alcançou receita cambial turística de US$ 4,32 bilhões, superior em 11,78% ao ano de 2005 (US$ 3,86 bilhões). Segundo o conselheiro titular do Conselho Nacional de Turismo, Mário Beni, o país poderia aumentar receitas caso se adequasse à sustentabilidade, o que, segundo ele, tornaria roteiros mais atraentes para turistas estrangeiros, por exemplo. De acordo com o conselheiro, para ser classificado como sustentável o destino deve atender aos requisitos ambiental, social, econômico, espacial, cultural e político.O conselheiro explica que não é possível desenvolver programas de políticas públicas para o turismo sem considerar a sustentabilidade. ?Essa visão é indispensável para solucionar impactos sociais, ambientais e econômicos de toda a ordem, como prostituição infantil, subemprego ou emprego temporário, especulação imobiliária, entre outros desequilíbrios causados pela falta de planejamento e visão do longo prazo na gestão do turismo?, ressalta.Dimensões da sustentabilidadeSegundo Mário Beni, a primeira dimensão da sustentabilidade está relacionada ao aspecto ambiental, como preservação do meio ambiente. ?É evidente que ecossistemas precisam ter equilíbrio ambiental para que seja preservada a diversidade?, ressalta Beni. A sustentabilidade ambiental prevê aumento da capacidade de recursos naturais a partir de medidas que limitam recursos não-renováveis ou ambientalmente prejudiciais, determinam redução de volume de poluição, pesquisa de tecnologias limpas e definição de regras para uso e ocupação de destinos turísticos.Já o critério de sustentabilidade espacial indica necessidade de delimitar o fluxo de turistas e empreendimentos que o destino turístico pode receber sem comprometer ecossistemas locais. Ainda segundo Beni, a variável social implica na adoção de um modelo de desenvolvimento endógeno, por meio de mobilização social, participação comunitária, empreendedorismo que gere inclusão social e, conseqüentemente, desenvolvimento da comunidade local.Dimensão cultural, na visão do especialista, considera a preservação do patrimônio histórico e cultural de cidades e regiões. ?Essa variável está relacionada à preocupação e à proteção da identidade cultural do destino. Exige, portanto, ações como tombamento, restauração, valorização do folclore e da cultura popular?, afirma Beni, que também defende que a sustentabilidade econômica exige gestão eficiente de recursos e requer investimentos públicos e privados. ?O turismo envolve mais de 50 setores da economia. Integrar esses agentes é uma forma de reduzir os custos sociais, ambientais e econômicos?, ressalta Beni.Para ele, todas as medidas só são mantidas quando há também sustentabilidade política, proporcionada a partir de modelo de gestão compartilhada. ?A dimensão política assegura a efetivação de todos os demais cenários. Exige a realização de políticas públicas a partir de um novo modelo de governança local com presença do setor privado, do Estado, de agências de desenvolvimento e da comunidade local?, ressalta Beni. Ele defende que, pelas próprias características intersetoriais do turismo, essa gestão exige a mediação de um centro de excelência multidisciplinar, como uma universidade.Beni estima que apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros estão próximos de atender a todos os requisitos para serem considerados sustentáveis. ?A Serra Gaúcha (RS) é o modelo mais próximo do que poderíamos chamar de um cluster de turismo, porque tem preocupações com sustentabilidade. Bonito (MS) também apresenta algumas dimensões bem desenvolvidas, principalmente a ambiental, mas precisa promover participação e inclusão social da comunidade?, pondera.Para o especialista, o planejamento do turismo sob a ótica da sustentabilidade é indispensável para a substituição de um modelo de desterritorialização do turismo que provoca conseqüências ambientais, econômicas e sociais. ?Predomina ainda um modelo de segunda residência, orientado pela especulação imobiliária e que não gera emprego. A baixada santista, no litoral de São Paulo, sofre conseqüências disso, com cerca de 300 mil habitantes e população flutuante de quase 1,5 milhão em períodos de alta estação. No Nordeste acontece a mesma coisa: o litoral está comprometido com empreendimentos imobiliários, cujos proprietários, na sua maioria, não são da região e visitam o local apenas algumas vezes por ano. Além das conseqüências sociais, há pressões ambientais, pois não há nenhum tipo de planejamento, sequer cumprem as leis?, ressalta.Beni considera o estabelecimento de diretrizes do Plano Nacional de Turismo 2007-2010 como um avanço na percepção do turismo. Ele cita o exemplo do Programa de Regionalização do Turismo, criado em 2004. ?Essa iniciativa preconiza o modelo endógeno de turismo passando por todos cenários de sustentabilidade, mas ainda não é efetivamente implementada por falta de capacitação de atores sociais. É muito difícil chegar a um município com vocação para turismo e encontrar pessoas com visão de sustentabilidade?, pondera.